Catedral da Sé reúne lideranças em ato inter-religioso por Bruno Pereira e Dom Phillips, e pela defesa dos povos indígenas

Reprodução da Internet

16 de julho de 2022

14:07

Eliziane Paiva – Da Agência Amazônia

MANAUS – Com a igreja lotada, a Catedral da Sé, no centro da capital paulista abrigou, na manhã deste sábado, 16, um ato inter-religioso pelos assassinatos que ocorreram no mês passado do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips e em defesa dos povos tradicionais indígenas.

O objetivo do encontro também foi firmar o posicionamento dos trabalhadores e trabalhadoras contra a violência política, em defesa da liberdade e da normalidade do processo eleitoral.

O padre José Bison, regente da celebração, discursou em favor do manifesto. “Aqui estamos para nos colocarmos ao lado dos povos indígenas, e dar continuidade ao legado de todos aqueles que tombaram pela vida e dignidade dos povos indígenas, e apoiar os que aqui estão”, disse.

Ato inter-religioso pelos assassinatos de Dom e Bruno, e em defesa dos povos indígenas em SP. (Reprodução)

A atividade, em tom de manifesto e indignação contra a violência política, relembrou a trajetória de Frei Paulo Evaristo Arns e de Dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, reconhecido pela defesa dos povos indígenas, que se notabilizou por abrir as portas da igreja para acolher militantes perseguidos pelas forças de repressão, e que faleceu no último dia 4 de julho.

A líder Guarani, Maria Guarani, representante indígena clamou por justiça aos povos tradicionais durante o ato na Catedral da Sé. “É muito importante vocês estarem aqui nos ouvindo porque o povo indígena, eu não falo só pela minha etnia não, eu falo pelos povos inteiros do Brasil, todos os povos indígenas que hoje são muitas aldeias, estão sendo assassinados. Hoje estou aqui para pedir justiça pelo Dom e Bruno, pessoas boas que estavam defendendo os nosso direitos, do nosso povo indígenas”, disse, em tom de súplica para que parem de assassinar os indígenas.

Líder Guarani, durante discurso No ato inter-religioso em São Paulo. (Reprodução)

Representando a igreja católica Dom Pedro Luiz Stringhini, da Diocese de Mogi das Cruzes, e Presidente da Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), afirmou que este será um brado contra a situação do Brasil, em defesa da paz e da democracia.

Durante ato, Dom Stringhini, citou a presença de representantes de povos indígenas e ativistas pelos direitos humanos, católicos, anglicanos, metodistas, pentecostais, judeus, muçulmanos, bahá’ís, budistas, kardecistas, povos tradicionais de matrizes africanas e membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, e agradeceu também a participação da sociedade civil.

Em discurso emocionado, Alessandra Sampaio, viúva de Dom Phillips iniciou agradecendo os povos indígenas pela luta na preservação das florestas amazônicas. “Agradeço aos povos tradicionais indígenas, que graças a eles as nossas florestas continuam de pé, a gente tem se unir a essa luta que é nossa também”, e ressalto ainda o trabalho que vinha sendo realizado por Dom. “Uma de suas qualidades era a persistência em aprender português, em entender a cultura brasileira, em entender a sociedade e as desigualdades que a gente tem no Brasil, e ouvir as pessoas”, disse.

Viúva de Dom Phillips, Alessandra agradece aos povos indígenas pela defesa das florestas. (Reprodução)

Para Beatriz Matos, o indigenista Bruno Pereira era “movido pelo amor” ao que realmente importa. “A força da convicção dele, e esse amor dele, pela floresta mesmo, pelo mato, pelos povos indígenas, era o que movia o Bruno e todo o trabalho que ele fazia”, afirmou, ao descrever a dedicação do marido.

Beto Marubo, líder da União dos Povos Indígenas e Organização representativa da terra indígena do Vale do Javari no Amazonas (Univaja), em discurso gravado, fez pedido à sociedade em geral para refletir sobre os esforços do indigenista e do jornalista. “Eu quero, e para além desse momento, que cada um de nós possamos pensar até que ponto vamos permitir que pessoas que apenas sonham com um meio ambiente sadio, que atuavam pelos menos favorecidos, tenham um fim tão trágico”, disse, ao se referir aos “amigos de matos” Dom e Bruno.

Homenagens a Dom e Bruno

Nas homenagens a Dom, Bruno e aos povos indígenas, além de discursos de pastores e líderes de todas as religiões presentes, estiveram as crianças e os jovens do Coral Opy Mirim, Tati Helene, Marlui Miranda e Toninho Carrasqueira, em apresentações musicais.

Beatriz (a esquerda), Máximo Wassu (ao centro) e Alessandra (a direita). (Reprodução)

As viúvas Beatriz e Alessandra também foram homenageadas em nome do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, com cântico de Máximo Wassu, da etnia Wassu, natural de Alagoas e hoje morando em uma reserva em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo.

Ato inter-religioso na Catedral da Sé em SP, em homenagem aos povos indígenas. (Silvia/Twitter)

Por fim, a cantora Daniela Mercury, presente no ato, salientou que “é nossa responsabilidade, acabarmos com esse ciclo de violência no Brasil, a democracia precisa de todos os cidadãos brasileiros”, antes de cantar “O Canto da Cidade”, música favorita de Bruno, segundo a esposa Beatriz. Daniela encerrou a celebração cantando o hino nacional acompanhada das lideranças.

Nas redes sociais

No Twitter, a cantora Daniela compartilhou em vídeo o início da celebração. “Estamos juntos na Catedral da Sé no ato inter-religioso em defesa dos povos indígenas e em memória de Bruno, Dom e Frei Cláudio Hummes e todos os ativistas. Venha! #justicaparabrunoedom”.

A Univaja publicou: “Ao lado de Beatriz e Alessandra, a cantora Daniela Mercury homenageia Bruno e Dom com a canção ‘O canto da cidade’, música que os dois gostavam muito.”

“Un acto interreligioso homenajea a indígenas y sus defensores en la Catedral da Sé – São Paulo. Están presentes Beatriz Matos y Alessandra Sampaio, esposas de Bruno y Dom, asesinados recientemente cuando cubrían invasiones contra comunidades indígenas amazónicas.”

Na tradução livre, “Um ato inter-religioso homenageia indígenas e seus defensores na Catedral da Sé – São Paulo. Beatriz Matos e Alessandra Sampaio, esposas de Bruno e Dom, recentemente assassinados enquanto cobriam invasões contra comunidades indígenas da Amazônia, estão presentes.”, compartilhou o correspondente da TeleSur, emissora venezuelana, Nacho Lemus.

O vereador de São Paulo Eduardo Suplicy (PT), que foi senador, deputado estadual e federal, também postou no Twitter o momento em que o Hino Nacional foi cantado. “Momento emocionante. Estive em memorável ato ecumênico em homenagem a Bruno Pereira e Dom Phillips ao lado das viúvas Beatriz Matos e Alessandra Sampaio. Ao final, cantamos o hino nacional com Daniela Mercury”, escreveu.

A iniciativa do evento é da Frente Inter-religiosa Dom Paulo Evaristo Arns por Justiça e Paz, em parceria com a Comissão Justiça e Paz de São Paulo, a Comissão Arns de Direitos Humanos, o Instituto Vladimir Herzog e a seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Além das centrais sindicais, artistas e lideranças sociais.