Com histórico de agressões verbais, Bolsonaro mantém ataque às mulheres; ‘eleitores devem analisar com cuidado’, diz advogada

Bolsonaro atacou, no final do 1° turno, neste domingo, as candidatas à Presidência Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronick (União) (Gabriela Biló/Folhapress)

03 de outubro de 2022

21:10

Karol Rocha – Da Agência Amazônia

MANAUS – Não é de hoje que o presidente Bolsonaro (PL) usa o discurso para atacar mulheres. Mesmo antes de ser eleito para ocupar o cargo no Palácio do Planalto, o político já tinha histórico de agressões verbais às mulheres. Segundo o Jornal do Brasil, em 1998, como deputado federal, ele agrediu fisicamente Conceição Aparecida Aguiar, na época gerente da Planajur, empresa de consultoria jurídica e que atendia ao Exército. Especialista consultada pela AGÊNCIA AMAZÔNIA falou que nesse governo não há pautas que respeitam as mulheres: “eleitores devem analisar com bastante cuidado”, afirmou.

O último ataque aconteceu na noite de domingo, 2, quando Bolsonaro chamou as candidatas à Presidência Simone Tebet (MDB), de ‘estepe’ e Soraya Thronick (União) de ‘trambique’, durante conversa com apoiadores na porta do Palácio da Alvorada, em Brasília.

Na fala, o presidente cita as senadoras após comparar as opções a candidatos à Presidência a um restaurante “self-service”. Ele citou também o candidato do PDT Ciro Gomes, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “É aquela história de ‘vamos mudar’. Mas quem entra no meu lugar? A política é um self-service. Vocês têm eu, Lula, Ciro, a ‘estepe’, a ‘trambique’, que é decoradora sabe daquilo, né? A decoradora. E acabou. Não adianta procurar. É o que está ali”, afirmou Bolsonaro.

Veja o vídeo:

Jair Bolsonaro (PL) proferiu ataques contra as mulheres (Reprodução/Redes Sociais)

As críticas às mulheres nunca deixaram de fazer parte do trato do candidato à reeleição ao público feminino. “As falas misóginas do presidente, infelizmente, encontram apoio também em mulheres, as que são subjugadas e que acreditam que podem menos do que realmente podem”, analisou a jornalista e cientista política Liége Albuquerque.

A advogada especialista em Direito Eleitoral Denise Coelho afirma que nunca as mulheres foram tão esquecidas em um governo federal. E pede que mulheres votem com consciência e fiquem mais alertas neste 2° turno, que está marcado para o dia 30 de outubro.

“Comparando os dados oficiais, nunca se investiu tão pouco em políticas públicas voltadas às mulheres, à redução das verbas e vetos em projetos de leis, como foi o caso do PL que tratava da distribuição de absorventes. Os eleitores devem analisar com bastante cuidado e receio acerca dessas políticas, com único intuito eleitoreiro e com prazo para acabar, como é o caso dos benefícios assistenciais que têm prazo para finalizar em dezembro”, complementou.

Jornalistas mulheres

Há inúmeros outros episódios de ataque às mulheres ocorridos recentemente. No dia 6 de setembro, Bolsonaro insultou a jornalista Amanda Klein, da rádio Jovem Pan, ao ser questionado sobre a compra de imóveis em dinheiro vivo. Em resposta à jornalista, Bolsonaro citou a vida conjugal da apresentadora. “Amanda, você é casada com uma pessoa que vota em mim. Não sei como é o teu convívio com ele na sua casa”, disse ele. A apresentadora retrucou o presidente ao afirmar que sua vida particular não estava em xeque naquele momento. A atitude de Bolsonaro causou desconforto à jornalista.

No dia 28 de agosto, no segundo bloco do primeiro debate entre os candidatos à Presidência com maior intenção de votos nas pesquisas eleitorais, realizado pela TV Band, o chefe do Executivo se alterou com a jornalista Vera Magalhães, que fez uma pergunta para Ciro Gomes (PDT) e o presidente.

“A cobertura vacinal está despencando nos últimos anos. Em que medida que a desinformação difundida pelo presidente pode ter agravado a pandemia de Covid-19?”, perguntou a jornalista a Ciro, para Bolsonaro comentar. “Vera, não podia esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido num debate como esse, fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo, mas tudo bem”, disse o presidente.

Outras ofensas

Em 2019, após se tornar presidente, Bolsonaro afirmou, no Dia Internacional da Mulher daquele ano: “Pela primeira vez na vida, o número de ministros e ministras está equilibrado em nosso governo. Temos 22 ministérios, 20 homens e duas mulheres”. Outro caso de desrespeito às mulheres ocorreu em 2014, quando o então deputado chamou a deputada Maria do Rosário (PT-RS) de “vagabunda” e disse que não a estupraria porque ela “não merecia”.

Também declarou em tom de ameaça: “Dá que te dou outra, dá que te dou outra”. No dia seguinte, Bolsonaro falou, novamente, sobre o assunto: “É muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria”. A fala deu origem a duas ações penais no STF (Supremo Tribunal Federal).

Jair Bolsonaro (PL) enfrentará Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no 2° turno das eleições presidenciais marcado para o dia 30 de outubro. Com 99% das urnas apuradas, o petista estava com 48,43% dos votos válidos, contra 43,20% de Bolsonaro. Ao longo da sua campanha no 1° turno, Bolsonaro insistiu em insinuações golpistas e em um apoio que não tem no serviço ativo das Forças Armadas para gestos de ruptura.