Com recorde de desemprego no Brasil, cresce número de trabalhadores que atuam por conta própria
30 de abril de 2021
19:04
Bruno Pacheco
MANAUS – No trimestre encerrado em fevereiro, o Brasil atingiu a estimativa de 14,4 milhões de desempregados, segundo dados divulgados nesta sexta-feira, 30, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O quantitativo é o maior número desde 2012, quando foi iniciada série histórica. Apenas a categoria de trabalhadores que atuam por conta própria cresceu no País.
Segundo o instituto, foram 400 mil pessoas a mais desempregadas, uma alta de 2,9%, frente ao trimestre anterior (setembro a novembro de 2020), na qual a desocupação foi estimada em 140 milhões de pessoas. A taxa de desocupação, por tanto, ficou estável em 14,4% em relação ao trimestre anterior (14,1%). Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad).
“O trimestre volta a repetir a preponderância do trabalho informal, reforçando movimentos que já vimos em outras divulgações – a importância do trabalhador por conta própria para a manutenção da ocupação”, comenta a analista da pesquisa, Adriana Beringuy.
Segundo o IBGE, em um ano de pandemia, houve redução de 7,8 milhões de postos de trabalho. Apenas a categoria de trabalhadores que atuam por conta própria, que reúne 23,7 milhões de pessoas, registrou aumento (3,1%) na comparação com o trimestre encerrado em novembro. Esse crescimento representa a inclusão de crescimento (3,1%) mais 716 mil de pessoas nesse índice.
Para o instituto, o registro evidencia a precarização e dificuldade de recuperação do mercado de trabalho. O sociólogo e advogado Carlos Santiago explica que esse aumento do trabalho informal e a queda da taxa de desemprego é o resultado de uma década perdida (2011 a 2020) no País.
“Com o impacto da pandemia, essa situação pode se agravar ainda mais, com reflexo na perda de direitos trabalhistas de milhões [de pessoas] e na queda da arrecadação no caixa da previdência social. Para recuperar a década perdida e os impactos econômicos e sociais da pandemia serão necessários, no mínimo, uma década de crescimento sustentável da economia. Horizonte ainda construído pelos atuais governantes do País”, ponderou.
Alternativa
A confeiteira Evanice Lira de Menezes, proprietária da loja Maria Doces, trabalha há oito anos por conta própria com o segmento. À REVISTA CENARIUM, ela conta que era assistente financeira, mas que decidiu empreender no ramo de confeitaria para ficar mais tempo com a família e cuidar da filha, que na época tinha apenas 2 anos de idade.
“Me incomodava muito em ter que ficar de 8 a 10 horas fora de casa e terceirizar a sua educação e os cuidados. Foi quando iniciei a venda de doces no meu trabalho como teste. Deu certo. Pedi demissão e abri com foco em festa infantil e buffet”, lembrou.
Atualmente, Evanice trabalha com doces e salgados e os alimentos também são vendidos para quem tem restrição alimentar. “Fazemos encomendas com entrega ou retirada. Somos em três pessoas, por vezes contrato diaristas e também, se necessário, peço a ajuda da família. Com a graça de Deus jamais voltarei ao mercado. Somente terei minha loja”, finalizou.
Pnad
A Pnad Contínua é a pesquisa que monitora a força de trabalho no País feita por trimestre. A amostra do estudo corresponde a 211 mil domicílios pesquisados. Em função da pandemia da Covid-19, os dados são coletados por telefone desde março de 2020.
A analista Adriana Beringuy salienta que quase todos indicadores se mantiveram estáveis frente ao trimestre imediatamente anterior, mas na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, houve redução na maior parte deles, seja de posição no mercado de trabalho ou de grupamentos de atividades, refletindo os efeitos da pandemia.
Segundo o IBGE, a estabilidade do contingente de pessoas ocupadas é decorrente da informalidade, com o crescimento dos trabalhadores por conta própria. “O trimestre encerrado em fevereiro de 2020 ainda era um cenário pré-pandemia e qualquer comparação com este período vai mostrar quedas anuais muito acentuadas. Isso explica o porquê da estabilidade no trimestre e alta no confronto anual”, esclarece Adriana.
Em meio às incertezas do mercado de trabalho, atuar por conta própria foi a melhor opção para Marcleice Veloso, de 38 anos. À REVISTA CENARIUM, ela conta que há três anos e meio, junto com a sócia Carla Daniela, de 34 anos, passou a ser autônoma no ramo alimentício e abriu o Espetinho das Patroas. “Sempre trabalhava empregada, e após trabalhar 12 anos em um cartório, resolvi abrir meu próprio negócio, principalmente pelo aumento de desemprego que o País vem sofrendo ultimamente e o sonho de ter meu próprio negócio”, frisou.
“Há três anos e meio atrás comecei somente com minha sócia. Fazíamos tudo (preparação, atendimento, despache, entrega, compras) absolutamente tudo. Hoje eu e minha sócia empregamos 5 pessoas que trabalham conosco, pessoas da família e de fora também. Estou muito satisfeita com nosso crescimento em plena pandemia