Combate à Intolerância Religiosa; lideranças falam sobre data que marca a luta pelo respeito às manifestações de fé

O Brasil é um País plural nas manifestações de fé (Reprodução/MarciaFrizoBlogSpot)

21 de janeiro de 2023

18:01

Mencius Melo – Da Agência Amazônia

MANAUS – O dia 21 de janeiro entrou para o calendário brasileiro como o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. A REVISTA CENARIUM procurou lideranças para fazer uma análise de conjuntura sobre o marco de luta pelo respeito às manifestações de fé no Brasil. Adeptos das religiões de matriz africana, evangélicos, padres católicos, todos apresentaram seus pontos de vista sobre o tema.

Padres, pais e mães de santo celebram, na fé, a devoção a São Sebastião, em evento que acontece há quase 20 anos, em Manaus (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Para o coordenador-geral da Articulação Amazônica de Povos Tradicionais de Matriz Africana (Aratrama), pai Alberto Jorge, a data exige reflexão: “Mais que nunca se faz necessário celebrar esse dia. Recentemente, os ataques desferidos contra os frades capuchinhos, em especial, o frei Paulo Xavier, na página oficial da Paróquia de São Sebastião, por ocasião da participação já tradicional do ‘Povo de Terreiro’, na missa a São Sebastião, indica que ainda estamos longe da tolerância“, afirmou.

Para Alberto, até mesmo o peso da lei não intimida aqueles que insistem em praticar a intolerância e o preconceito: “Essas pessoas não temem a Lei de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa, até o momento em que são presos, processados e condenados. Ainda que essas pessoas saibam do agravamento da pena de prisão por racismo, em até cinco anos, não se intimidam, mostram a cara, pois acreditam estar em uma missão divina“, analisou.

Mães de santo celebram com fiéis católicos missa em honra a São Sebastião em sua igreja localizada no Centro de Manaus (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Francisco

O pároco da igreja de São Francisco de Assis, na Colônia Oliveira Machado, Zona Sul de Manaus, frei Paulo Xavier, usou um exemplo histórico para retratar a importância da convivência pacífica entre as diversas expressões de fé no Brasil. O frei utiliza as práticas de São Francisco para ilustrar a data. “Nós estamos juntos! Somos franciscanos. São Francisco foi ao encontro com o Sultão para o diálogo, a paz e o bem“, recordou.

Campanhas

Outro representante das religiões de matriz africana, o babalorixá pai Ronald Ty Odé acredita que os passos estão avançando no caminho para erradicar os preconceitos e intolerâncias. “Estamos vendo uma campanha maciça contra a intolerância religiosa. Vejo uma marcha muito intensa, uma união incrível entre umbandistas, candomblecistas e quimbandeiros para combater a intolerância religiosa”, avaliou o religioso.

Pai Ronald cita que, apesar dos avanços, há uma contrarresposta das correntes radicais de evangélicos e católicos fundamentalistas. “Ao mesmo tempo que vejo essa união, inclusive, para celebrar a data de combate à intolerância religiosa, vejo também um movimento da volta da cooptação em massa de fiéis de evangélicos nas igrejas, praças e ônibus. É a conhecida prospecção de fiéis”, observou.

Dados

O 2° Relatório sobre Intolerância Religiosa: Brasil, América Latina e Caribe, organizado pelo Centro de Articulação das Populações Marginalizadas (Ceap) e pelo Observatório de Liberdades Religiosas (Olir), apoiado pela representação da Unesco, no Brasil, aponta dados alarmantes quando o assunto é o discurso de ódio.

Segundo a publicação datada de 19 de janeiro deste ano, em 2022 houve média de 3 denúncias de intolerância religiosa, por dia, no Brasil. Até o mês de julho do ano passado, por exemplo, o País já somava uma média de 545 denúncias voltadas ao tema.

Pastora

A pastora Joseane Nunes, da igreja Evangélica Assembleia de Deus no Amazonas (Ieadam), também comentou sobre a data. “No dia de hoje comemora-se, em todo Brasil, o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. Nunca foi tão imperioso tratar de um tema salutar em todos os campos da sociedade. E, quando nos reportamos a ele, lembramos de um princípio basilar de toda convivência humana: o respeito”, destacou.

Para a pastora Joseane Nunes o amor e o respeito são exemplos deixados por Cristo para que sigamos em boa convivência em sociedade (Reprodução/Arquivo Pessoal)

A líder religiosa chamou atenção para o exemplo de Cristo. “O amor é um princípio bíblico primordial para o exercício da fé e o segundo mandamento deixado por aquele que, para além das palavras, o exerceu. Jesus amou, a cada um, sem julgamentos ou rótulos, e enxergou, a cada um, nas suas necessidades. Amar ao próximo, como a si mesmo, requer respeito e compreender que o outro é diferente de mim, mas juntos nos completamos”, exemplificou.

Joseane deixa uma reflexão sobre o dia voltado ao combate à intolerância religiosa: “Que possamos, em alusão a essa data, refletir sua importância na sociedade moderna, superando os estigmas e rótulos religiosos que nos impedem de sermos um em Deus. Pois, se ele não faz acepção de pessoas, que direito temos nós em fazê-lo? Que a mensagem da tolerância religiosa permeie nossas vivências e experiências em sociedade, sabendo que não somos melhores, mas iguais perante Deus!”, finalizou.

Clique aqui para ler o relatório sobre Intolerância Religiosa: Brasil, América Latina e Caribe.