Conheça a primeira arqueira indígena do AM que representa o Brasil em competições mundiais

Originária do povo Karapanã, a pioneira arqueira indígena Graziela Santos quer chegar às Olimpíadas e inspirar outros jovens indígenas (Reprodução/FAS)

17 de abril de 2023

20:04

Mencius Melo – Da Agência Amazônia

MANAUS – É do Amazonas a primeira arqueira indígena a representar o Brasil em competições mundiais. Graziela Santos ou Yaci, nome em Tupi que significa “Lua”, representa o Estado na seleção brasileira na modalidade tiro com arco. Originária do povo Karapanã, da Comunidade Nova Kuanã, localizada às margens do Rio Cuieiras, zona rural de Manaus, Graziela iniciou a carreira em 2013, quando a indígena passou a integrar o projeto de Arquearia Indígena da Fundação Amazônia Sustentável (FAS).

A iniciativa da FAS era um projeto pioneiro voltado aos povos indígenas. A ação inclusiva visava levar um atleta indígena para as Olimpíadas Rio 2016. Graziela foi a única menina entre os 12 jovens selecionados pelo projeto. “Fomos para Manaus fazer a transição do arco nativo para o arco olímpico. Em 2014, fomos morar na Vila Olímpica, para sermos atletas e fazer faculdade. O projeto queria que a gente estudasse, para que tivéssemos uma profissão quando encerrássemos a vida de atleta. Consegui uma bolsa para cursar Ciências Contábeis e comecei a treinar tiro com arco e fazer faculdade junto“, recordou Graziela.

A arqueira indígena se adaptou às técnicas do arco e flecha para se desenvolver na modalidade (Reprodução/FAS)

Assim que iniciaram os treinos, Graziela e a equipe foram para o campeonato brasileiro de base, onde a atleta conquistou a medalha de bronze no individual feminino. Pouco tempo depois, já em 2015, “Yaci” repetiu o feito, conquistando o terceiro lugar em sua categoria, além de prata na categoria de dupla mista ao lado do parceiro de equipe, Nelson Moraes. A dupla foi campeã na categoria, no Campeonato Brasileiro de Tiro com Arco, em 2016. Com os sucessos, Graziela avançou para novas etapas na pavimentação da carreira desportiva.

Quase

Apesar das vitórias e conquistas em um curto espaço de tempo, ainda não seria em 2016 a chegada do sonho maior. “Com dois anos de treinamento, nós conseguimos ir para a seletiva das Olimpíadas”, comentou Graziela. A oportunidade de representar o Brasil não veio, mas o futuro reservava outros sucessos para a arqueira indígena. Em 2018, ela se tornou a primeira mulher indígena a integrar a seleção brasileira e representar o País nos Jogos Sul-Americanos. Na competição, a arqueira fez bonito, conquistando o ouro no individual feminino e por equipe.

A passagem pela Bolívia ficou na memória da arqueira: “Quando eu fui para os jogos sul-americanos foi um momento importante. Foi meu primeiro ano de seleção brasileira, representando o Amazonas e o Brasil. Cheguei lá, competi, fiquei em primeiro lugar na classificatória, com 645 pontos, meu recorde na época, ganhei medalha de ouro no individual feminino e na equipe feminina, e [fui] o quarto lugar na dupla mista”, recordou com orgulho. Em 2019, Graziela participou do Grand Prix do México, onde ganhou a medalha de prata com a equipe feminina e chegou até os Jogos Pan-americanos de Lima, no Peru.

Graziela, cujo nome em Tupi é Yaci, representa o Amazonas e o Brasil em competições mundiais (Reprodução/FAS)

Pioneirismo

O pioneirismo de Graziela, no tiro com arco, pode impulsionar a participação de outros e outras indígenas a ingressarem no mundo do esporte profissional. “Sinto que sou uma representante que está abrindo caminhos para os povos indígenas e para jovens que desejam estar no meio do esporte ou em qualquer outra área. Todo ser humano é capaz, resiliente e pode se aperfeiçoar ao longo da caminhada. Eu sou um exemplo que mostra aos jovens indígenas que podemos conquistar nossos objetivos com coragem e dedicação”, destacou. “Yaci” faz planos: “Meu objetivo é chegar nas Olimpíadas e trazer a medalha de ouro para o Brasil, para os povos indígenas e para o Amazonas”, finalizou.