Crianças Yanomami são torturadas por garimpeiros na fronteira com a Venezuela

Crianças Yanomami amarradas em postes (Reprodução)

22 de setembro de 2023

13:09

Ívina Garcia – Da Agência Amazônia

MANAUS – Um grupo de crianças da etnia Yanomami foi torturado e espancado por garimpeiros em uma região de fronteira entre Surucucu e a Venezuela, próximo da Comunidade Haiau, em Roraima. Ao todo, 14 adolescentes e duas crianças foram agredidas e ameaçadas. O caso aconteceu no começo de agosto, mas a denúncia foi divulgada nessa quinta-feira, 21, pela Urihi Associação Yanomami.

As crianças foram mantidas ao longo da noite amarradas em postes, no acampamento dos garimpeiros ilegais, sob ameaças, acusadas de furtar um telefone celular. Pela manhã, um grupo adulto de indígenas foi ao local resgatar as crianças e após discussão com os garimpeiros, houve troca de tiros, mas ninguém ficou ferido.

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À REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA, Júnior Yanomami, presidente da Urihi, relatou que uma das crianças segue internada em Surucucu, no Centro de Referência em Saúde Indígena. Até o momento, as crianças não receberam apoio psicológico.

Segundo o relato das vítimas, o grupo estava passeando pela região e se aproximaram do acampamento por curiosidade quando foram capturados pelos garimpeiros e acusados de ter roubado um telefone celular. Nos vídeos encaminhados à reportagem, um dos homens aparece perguntando sobre o telefone e ao fundo outro pede para que “peguem a espingarda”.

Veja vídeo:

“A Urihi tomou ciência dos fatos e imediatamente buscou o diálogo com uma testemunha, que relatou que a situação ocorreu na fronteira com a Venezuela, e os Yanomami são pertencentes a Região do Haxiú, uma das áreas delimitadas por esta organização, dentro da TIY”, escreveu associação em nota.

Ainda nas imagens é possível notar uma criança e dois adolescentes amarrados em postes do acampamento. Segundo a Uhiri, as crianças que aparecem no vídeo são familiares do Yanomami que foi brutalmente atropelado por garimpeiros na pista do Homoxi, em 2021, na época então, denunciado pelo Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana.

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Em documento enviado ao superintendente regional da Polícia Federal de Roraima, Ronaldo Campos, ao procurador da República, Alisson Marugal, à presidente da Funai, Joênia Wapichana, à ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, ao ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio de Almeida, e ao general do Exército, Ricardo Augusto Ferreira Costa Neves, a associação pediu proteção imediata dos povos da região.

Cabe, então, uma articulação para atuação conjunta dos órgãos representativos, de maneira que garantam a proteção imediata, estabelecendo medidas efetivas que impeçam a população de sofrer um possível massacre, bem como amparo para as crianças, que foram expostas e estão sofrendo abalo psicológico, em razão da barbárie cometida por invasores”, relatou.

Crise humanitária

Em fevereiro deste ano, o equipes do governo federal e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estiveram na Terra Indígena Yanomami em Roraima e identificaram uma crise humanitária sem precedentes por conta da invasão do garimpo ilegal. Estima-se que 20 mil garimpeiros atuavam na maior reserva indígena do Brasil, com mais de 9,6 milhões de hectares de floresta.

Os Yanomami assistiram, ao longo dos anos, o território ser destruído, afetando principalmente crianças e bebês, que sofrem com os impactos da atividade na região, seja por conta da contaminação por mercúrio ou agressões a indígenas e invasões de território.

O Ministério dos Povos Indígenas informou que 570 Yanomami, entre 2019 e 2022, morreram por contaminação por mercúrio, desnutrição e fome, por conta do impacto das atividades de garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami.

Edição por Eduardo Figueiredo.
Revisão por Gustavo Gilona.