Crime contra a vida selvagem: investigação detectou 230 publicações de comércio ilegal de onça-pintada
16 de novembro de 2022
13:11
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium
MANAUS – O estudo publicado no bioRvix, repositório internacional de pré-publicações, apontou a existência de comércio ilegal de partes de onças-pintadas em pelo menos 19 países. A pesquisa da Wild Conservation Society (WCS), com apoio do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos (USFWS, em inglês), envolveu mais de 20 investigadores e pesquisou em 31 plataformas o comércio on-line e ilegal do felino.
A publicação detalha que foram encontrados 230 anúncios em sete idiomas, no período entre 2019 e 2020, de vendas de partes do animal.
Segundo o relatório preliminar, foram detectados 21 anúncios em mercados on-line, dois em sites de busca, cinco em redes sociais, dois em sites de vídeos e um em blog. Ao todo, 579 imagens foram coletadas e em pelo menos 71 publicações foram confirmadas as imagens de onças, contendo 125 partes do corpo.
Entre as partes mais comercializadas ilegalmente estão o dente e a pele, sendo 95 publicações do primeiro e 22 do segundo. Também foram detectadas cinco peças de cabeças de onça, dois corpos inteiros e uma publicação de partes de pele.
As publicações passaram por avaliação de técnicos, que conseguiram identificar, entre as 230 postagens, 71 que podiam confirmar ser de onça-pintada. Entre elas, 42 eram peças identificadas como dentes, 21 eram peles, cinco cabeças, dois corpos e uma parte de pele.
No Brasil, a caça comercial, ou seja, aquela praticada para subsidiar o mercado de couro, peles e carne, é proibida por lei desde 1967. De acordo com a Lei n.º 9.605, de 12 de fevereiro de 1998: “Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida“, pode render detenção de seis meses a um ano e multa.
Para a REVISTA CENARIUM, o especialista no combate ao tráfico de vida silvestre da WCS Brasil, Antônio F. Carvalho, explicou que o comércio ilegal da vida silvestre é uma séria ameaça para a conservação, isso porque as onças-pintadas são essenciais para a cadeia alimentar das regiões que vive.
“A retirada indiscriminada de indivíduos devido à apanha ou à caça pode levar espécies a colapsos locais, culminando no desaparecimento de espécies em muitas regiões e em desequilíbrios na cadeia alimentar“, diz o especialista.
Ele explica que essa cadeia movimenta animais vivos que podem levar “na carona” parasitas e genes para regiões onde estes não ocorrem naturalmente, o que pode resultar em danos irreparáveis para populações silvestres nativas.
Percentual
Conforme o estudo, a maioria dos anúncios (50,7%) estavam em espanhol, seguido por português (25,4%), chinês (22,5%) e francês (1,4%). As publicações foram veiculas principalmente no México e no Brasil, em 12 plataformas diferentes, acompanhadas de imagens identificadas como onça-pintada pelos pesquisadores: 74,6% estavam em reses sociais e 24,4% nos mercados on-line.
Os dentes de onça-pintada detectados em 156 publicações eram mais frequentes no México, China, Bolívia e Brasil, oferecendo pelo menos 367 dentes no total. Além disso, também foram detectadas 12 publicações vendendo garras no México e uma em Costa Rica.
Já as peles foram identificadas apenas na América Latina, principalmente no Brasil, com sete peles detectadas, Peru com seis, Bolívia com três, México com duas peles e uma parte de pele, Venezuela e Nicarágua com uma.
O estudo também identificou uma pequena quantidade de comercialização ilegal de ossos por meio das buscas, mas não foi possível verificar as imagens, mas o documento afirma que obteve provas suficientes para confirmar a existência do comércio de ossos on-line dos países.