Dia da Liberdade de Imprensa: com Lula, Brasil sobe 18 posições em ranking; especialistas analisam novo governo

O presidente Lula em coletiva de imprensa. (Ricardo Stuckert)

03 de maio de 2023

12:05

Marcela Leiros – Da Agência Amazônia

MANAUS – O Brasil subiu 18 posições no ranking de liberdade de imprensa, saindo da 110ª posição para a 92ª, de acordo com relatório da Organização Não Governamental (ONG) Repórteres Sem Fronteiras (RSF) divulgado nesta quarta-feira, 3, Dia da Liberdade de Imprensa. O principal motivo apontado para a melhoria de colocação foi a saída do Governo Bolsonaro e um otimismo, dos profissionais, em relação ao Governo Lula. Representantes da categoria consultados pela AGÊNCIA AMAZÔNIA analisam que a atual administração é respeitosa com o trabalho da imprensa.

Os especialistas explicam que a liberdade de imprensa, no Brasil, tem relação direta com o governo de Bolsonaro, já que o mesmo foi o principal agressor e ainda incentivou apoiadores a também se tornarem agressores. De acordo com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), de 2019 a 2022, Bolsonaro realizou 570 ataques a veículos de comunicação e aos jornalistas, numa média 142,5 agressões por ano; um ataque a cada dois dias e meio.

Luiz Inácio Lula da Silva em coletiva de imprensa. (Ricardo Stuckert)

O Repórteres Sem Fronteiras levantou os dados até março de 2023. O diretor do escritório da ONG para a América Latina, o jornalista Artur Romeu, explica que a posição brasileira tem relação com uma expectativa e uma percepção de otimismo de analistas, jornalistas e pesquisadores, consultados para o levantamento desde a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, nas eleições de 2022.

“Essa subida de 18 posições do Brasil no ranking é a mais importante de um país no continente americano e uma das mais significativas em nível global. O estudo reflete otimismo em relação à possível volta à normalidade nas relações entre governo e imprensa”, afirmou o diretor da RSF.

Na foto, Artur Romeu, coordenador do RSF. (Tânia Rêgo/ Agência Brasil)
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Violência institucionalizada

A presidente da federação Fenaj, Samira de Castro, elenca que o Governo Bolsonaro estabeleceu uma violência institucionalizada contra os profissionais da imprensa. “O ano de 2022 encerrou o ciclo de Bolsonaro na Presidência da República, período que houve uma institucionalização da violência contra os jornalistas por meio da prática governamental sistemática de descredibilizar a imprensa e atacar seus profissionais”, afirma.

Jornalistas são agredidos durante desmontagem de acampamento golpista na Avenida Raja Gabáglia, em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. (Redes Sociais/ Reprodução)

Para Samira, atualmente, no Governo Lula, há respeito institucional dos cargos e dos papéis. “Primeiro, o presidente Lula tem respeito pela instituição imprensa, compreende o seu papel de presidente da República, sabe que vai ser questionado, quais as ações do governo serão questionadas, mas não parte para ataque pessoais a jornalistas, não tenta descredibilizar o trabalho da imprensa, e isso já é muito importante porque em uma sociedade polarizada que nós estamos, isso evita que os seus seguidores e apoiadores ataquem diretamente os jornalistas”, defende a presidente da Fenaj.

A presidente da Fenaj, Samira de Castro. (Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)

Desafios para a liberdade

O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Octávio Costa, destaca que a organização tem uma posição otimista com o respeito à imprensa no novo governo, mas não é possível relaxar. Para ele, os profissionais da categoria precisam continuar lutando por direitos.

“É evidente que nós temos que lutar pela regulamentação da nossa profissão, a volta da exigência do diploma. Nós temos outra frente hoje que é essa questão das fake news, que até o secretário-geral da ONU [António Guterres] falou sobre isso, sobre a questão do discurso de ódio, da disseminação de notícias falsas, isso é uma coisa que preocupa, segundo ele, a ONU, porque também significa um ataque à liberdade de imprensa”, afirmou.

O presidente da ABI, Octávio Costa. (Reprodução/ Século Diário)

Samira de Castro corrobora que cada jornalista precisa contribuir com o seu trabalho e a sua luta individual e coletiva para efetivar a liberdade de imprensa no Brasil. Além disso, segundo a jornalista, é preciso mais diversidade de mídia para haver mais pluralidade e, consequentemente, avanço na liberdade de imprensa no País.

“O que a gente tem ainda como desafios é uma mídia extremamente concentrada nas mãos de poucos, e isso é obvio que influencia na questão da liberdade de imprensa”, afirma Castro. “A gente tem a questão da alta violência ainda contra os profissionais da mídia e a gente tem a crise do modelo de negócio do jornalismo com dezenas ou centenas de jornais e empresas de jornalismo fechando por falta de jornalista. Quanto mais veículos de mídia, mais diversidade, mais pluralidade, mais jornalismo regionalizado tivermos, melhor para a liberdade de imprensa no nosso País”.