Dia da Liberdade de Imprensa: jornalistas mostram resistência contra ataques

O Dia Nacional da Liberdade de Imprensa é celebrado no dia 7 de junho (Reprodução/Shutterstock)

07 de junho de 2023

13:06

Adrisa De Góes – Da Agência Amazônia

MANAUS (AM) – O Brasil celebra nesta quarta-feira, 7, o Dia Nacional da Liberdade de Imprensa, data que ganhou significado em 1977, quando jornalistas comandaram um manifesto pelo fim da censura imposta pela ditadura militar. Passados 46 anos desse dia histórico, a defesa da integridade dos profissionais continua no centro das lutas da classe.

No último ano, 558 agressões a jornalistas e meios de comunicação, além de imprensa em geral, foram registradas no “Monitoramento de Ataques a Jornalistas no Brasil“, realizado anualmente pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). O número é 23% maior do que os registros notificados no ano de 2021.

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No ano de 2022, com a realização das eleições gerais no País, a violência política contra comunicadores representou 31,6% dos casos registrados no monitoramento da Abraji, os quais são diretamente ligados à cobertura eleitoral. Desse total, 56,7% foram praticados por governantes, parlamentares, agentes estatais e funcionários públicos.

Manifesto de 7 de junho de 1977 (Reprodução/Memorial da Democracia)

Outro recorte do levantamento mostra que, durante a campanha presidencial, 51 agressões se relacionaram a candidatos ao Planalto. O relatório aponta que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi o postulante que mais atacou a imprensa. Ele e os filhos que possuem mandato são causadores de 41,6% dos ataques do ano. Fruto do bolsonarismo, os atos antidemocráticos e contrários ao resultado das urnas foram motivo de 12% dos casos de agressões aos profissionais da imprensa.

Resistência

Uma das vítimas de ataques no exercício da profissão foi a jornalista da REVISTA CENARIUM Ívina Garcia. No final do ano passado, quando manifestantes acampavam em frente ao Comando Militar da Amazônia (CMA), ela denunciou os financiadores dos acampamentos, que permaneceram por cerca de dois meses e pediam a anulação das eleições.

Com três anos de profissão, ela afirma que, das três vezes que foi hostilizada, por conta das reportagens que escreveu, essa foi a mais intensa e duradoura. Foram quase 30 dias de perseguições pelas redes sociais e fotos pessoais que circularam em grupos bolsonaristas, acompanhadas de mensagens de ameaça contra a jornalista.

A jornalista Ívina Garcia, repórter da Revista Cenarium (Reprodução/Arquivo Pessoal)

“Fiquei recebendo ameaças primeiro no Twitter, depois eles migraram para o meu Instagram, Facebook e até descobriram meu número do WhatsApp e ficaram enviando xingamentos e ameaças. Isso repercutiu de forma bem negativa”, conta.

“Eu tive medo, sim, mas tive mais medo pela minha família que não tinha nada a ver com a situação”, revela. Ívina também ressalta que os ataques não eram voltados ao trabalho desenvolvido por ela e, sim, voltados à aparência física.

A Abraji aponta, no monitoramento feito no ano eleitoral, que 61,2% dos casos de ofensas a jornalistas foram de discursos estigmatizantes.

Desafio

O jornalista da CENARIUM Gabriel Abreu também sentiu os impactos de fazer jornalismo na Amazônia. Durante o período em que esteve na cobertura da crise Yanomami e do garimpo ilegal, em Boa Vista (RR), ele foi hostilizado por garimpeiros da região e teve o número de WhatsApp divulgado em grupos da rede, o que gerou uma série de ameaças.

“No primeiro momento, você se assusta. Medo, medo, eu não senti. Depois, isso foi o combustível para dizer que estava no caminho certo, num Estado onde metade da população é contra os indígenas e apoia a destruição e a exploração, todos que se levantam contra isso são ameaçados de alguma forma. Por isso, o foco é não desistir”, destaca.

O jornalista da REVISTA CENARIUM Gabriel Abreu (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Apesar das ameaças, o jornalista afirma que não pensa em desistir da profissão e se sente motivado a continuar atuando em prol da Amazônia por meio da imprensa. “Eu sou apaixonado pelo jornalismo que faço na Amazônia. Nós vivemos na região mais privilegiada do planeta terra. Todos querem saber o que tem na Amazônia, e ser o porta-voz do que acontece aqui é um desafio”, disse.

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