12 de outubro de 2021
10:10
Bruno Pacheco – Da Cenarium
MANAUS – Uma data celebrada anualmente em 12 de outubro, o Dia das Crianças chama a atenção para a proteção de meninos e meninas contra a violência sexual, cujos números vêm aumentando com a pandemia da Covid-19. Somente nos primeiros seis meses de 2021, o Brasil registrou uma média de 282 denúncias de crimes contra crianças e adolescentes por dia, segundo dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH). Especialistas afirmam que esse tipo de crime deixa marcas profundas nas vítimas.
“Crimes de abuso e estupro deixam marcas em todas as fases da vida, independente da idade, mas quando ocorre com uma criança, a mesma não entende como aquilo pode ter acontecido com ela, principalmente, quando o abuso é cometido por aquela pessoa que deveria cuidar e protegê-la de qualquer perigo. Muitas se sentem culpadas achando que foram as responsáveis pelo abuso sofrido e por causar uma confusão no ambiente onde estão inseridas”, destacou a psicóloga Juanita Maia, especialista em atendimento familiar.
A psicóloga enfatiza que essas crianças devem ter um acompanhamento psicossocial, onde os profissionais vão ajudar a vítima a entender o que aconteceu com ela e, também, dar todo o suporte necessário para que a criança consiga crescer forte emocionalmente, não tendo grandes comprometimentos na sua fase adulta.
O conselheiro tutelar coordenador-geral dos Conselheiros Tutelares de Manaus, Francisco Coelho Neto, salienta também que crimes de estupros podem prejudicar o desenvolvimento de crianças e adolescentes no ambiente escolar. Ele lembra, ainda, casos em que as famílias não têm estrutura emocional ou psicológica para lidar com situações como as que envolvem a violência física e sexual.
De base cristã, Francisco reforça que sua religião o tem dado forças para enfrentar as barbaridades que surgem ao longo da profissão. “Antes de ser conselheiro, Deus me preparou psicologicamente e emocionalmente para eu ver as várias situações dentro do Conselho Tutelar. Eu, como conselheiro, vejo exploração sexual de crianças dos próprios pais abusando seus filhos; pedófilos abusando seus sobrinhos; as avós alugando seu próprio neto”, lembrou.
Importância da infância
A infância é uma das fases mais importantes de uma pessoa e é a etapa onde ocorre o desenvolvimento da criança. A psicóloga Juanita Maia salienta ainda que todas as fases da infância são importantes, mas a fase da primeira infância, que vai até os 7 anos, é a mais importante.
A especialista frisa que, para que as crianças tenham inteligência emocional e um melhor desenvolvimento, é necessário que elas se sintam pertencentes a sua família, amadas, acolhidas. “É necessário que seja dado limites com amor e não com violência como era antigamente com nossos avós, nossos pais”, fortalece.
Para a psicóloga, quando uma criança deixa de ser criança para exercer um papel em que ela não está preparada, ocorre uma violência emocional. Isso acontece porque as etapas necessárias para o desenvolvimento infantil são “puladas”.
“Cada etapa do desenvolvimento é necessária para o seu amadurecimento emocional. Infelizmente, na nossa sociedade, encontramos crianças ajudando com a renda da família e fora da escola. Isso pode levar a uma repetição de padrões sociais, aumento no número de pessoas com baixo nível de escolaridade, e, no futuro, adultos sem sonhos e esperança”, concluiu.
Dados
Segundo dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH) divulgados em julho deste ano, a média de 282 denúncias de crimes contra crianças e adolescentes por dia, de janeiro a junho no Brasil, teve a maior parte delas (121) crianças vítimas de maus-tratos e 52 de abuso sexual, como estupro ou assédio. Especialistas destacaram, no entanto, que os dados oficiais são subnotificados.
Uma das explicações é que o isolamento social imposto pela pandemia tenha dificultado, de forma considerável, as denúncias de violações contra crianças e adolescentes. Esse fenômeno ocorreu, principalmente, porque 80% dos casos acontecem dentro da casa da vítima, e 65% dos suspeitos são os próprios pais, mães, padrastos ou madrastas.