‘Do chão da Aldeia para o Chão do Mundo’, diz indígena que faz moda descolonizada

A estilista Patrícia Kamayurá em sua prancheta de criação no atelier onde projeta moda e ativismo em meios aos grafismos do seu povo ancestral (Reprodução/Divulgação)

23 de maio de 2023

21:05

Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Unir ancestralidade e resistência em cortes de costura, linha e agulha. Essa é a ideia da estilista mato-grossense Patrícia Kamayurá, mulher indígena pertencente ao território indígena do Xingu (MT). Com o lema “Do chão da Aldeia para o Chão do Mundo”, a artista do corte e costura faz moda mas, também, faz ativismo. A ideia por trás das peças é formar uma trincheira de afirmação e identidade, fruto da consciência de pertencimento da qual Patrícia se orgulha. Em entrevista à REVISTA CENARIUM, a estilista falou sobre sua trajetória, história e os motivos que a levaram a enveredar pela moda.

Patrícia Kamayurá contou um pouco de sua biografia e revelou que se identifica como uma mulher atuante nas linhas de frente do movimento indígena brasileiro. “Sou artista, estilista, empreendedora e ativista. Trabalho com arte indígena desde os 16 anos. Faço parte do “Movimento das Mulheres Indígenas do Brasil”. Fui vencedora do prêmio “Mulheres Combativas do Futuro”, em 2020, e fui citada por Lilian Pacce, uma das maiores críticas da moda mundial, em seu artigo: ‘Marcas indígenas para usar e apoiar’”, relembrou.

A estilista Patrícia Kamayurá e uma das peças baseadas nos grafismos Kamayurá que são a base de suas criações (Reprodução/Divulgação)

Além de comentar sobre sua estrada e vivências no ativismo indígena brasileiro, Patrícia recorda que a busca pelo uso da moda como instrumento de manifestação e afirmação vem desde cedo, quando ainda era uma jovem idealista. “Desde jovem sempre foi um sonho poder produzir minhas próprias roupas e retratar nossas artes ancestrais, para mostrar ao mundo que nosso povo vive, resiste, e que nossas artes milenares não se perderam mesmo com toda colonização”, obstinou.

As linhas estéticas obedecem o sentido da ancestralidade e da resistência do povo Kamayurá (Reprodução/Divulgação)

Moda e resistência

Questionada se a moda tem força para imprimir uma mensagem, a estilista respondeu: “Moda indígena é resistência, é luta. Para que esses grafismos milenares chegassem as minhas mãos, meus ancestrais resistiram, lutaram para manter vivo esses grafismos! E, hoje, eu posso ser protagonista da minha história, contar, por meio das minhas peças, nossa resistência e luta. Na nossa aldeia os grafismos são nossas roupas nos dias de rituais. Eu retrato, nos tecidos, para que vocês possam conhecer nosso sagrado. Moda indígena mostra toda essa resistência”, triunfou.

Para a CENARIUM, Patrícia Kamayurá adiantou uma das peças da nova coleção 2023 (Reprodução/Divulgação)

Para concluir, Patrícia Kamayurá explica quem quer atingir com seu trabalho. “Quero mostrar ao mundo a moda indígena, esse misto entre o ancestral e o contemporâneo. Quero mostrar que, por meio de moda étnica, eu consigo revelar a cultura viva dos grafismos sagrados do povo Kamayurá”, revelou. A profissional aproveitou para anunciar uma nova coleção. “Tá saindo do forno, com a chegada do outono-inverno, vem chemises e kimono, com o grafismo milenar ‘Pirá’kang’. Me sigam e vejam as novidades chegando no @patriciakamajura”, finalizou.

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