26 de fevereiro de 2024

09:02

Por Paula Litaiff*

MANAUS (AM) – A asfixia à democracia em qualquer lugar do mundo segue um roteiro que inicia no ataque à imprensa, com jornalistas sendo coagidos ou censurados.  A análise consta no best-seller “Como as Democracias Morrem (2018)”, dos professores Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, que avaliaram como os governos sufocam a democracia quando surgem lideranças autoritárias que se apresentam como “outsiders” e negociam com o “establishment” uma suposta transição política.

Colocando-se como o “libertador das velhas práticas políticas” no lançamento de sua primeira pré-candidatura ao Executivo em Manaus, no último dia 23, o deputado federal Amom Mandel (Cidadania/AM) repetiu a estratégia histórica de mandatários ao atacar a imprensa e tentar desqualificar jornalistas da REVISTA CENARIUM, os quais descobriram que a irmã dele recebeu Auxílio Emergencial durante a pandemia nos anos de 2020 e 2021.

Amom postou um vídeo em suas redes sociais e acusou, sem provas, jornalistas de receberem Pix para produzirem o conteúdo sobre a irmã dele, além de tentar inferiorizar o veículo de comunicação. “O pessoal que tá pagando Pix, aí, pra esses ‘portaizinhos’ espalharem fake news, fica ligado (sic), fica ligado”, declarou o parlamentar.

A “fake news” a que se refere Amom é uma informação baseada no Portal da Transparência da Controladoria-Geral da União (CGU), que aponta que a irmã do deputado, a empresária Rebecca Mandel, recebeu Auxílio Emergencial no período de abril de 2020 a outubro de 2021. Rebecca vive com um servidor público que tem salário mensal de R$ 20,8 mil. A legislação (MP 1.000/2020) previa o auxílio a famílias com renda per capita de R$ 519,50.

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Ainda na tentativa de deslegitimar a notícia sobre a irmã, Amom foi às redes sociais atacar a conduta dos jornalistas da CENARIUM ao alegar que não lhe foi concedido o direito de resposta por meio de sua assessoria. A jornalista responsável pela reportagem ouviu Amom Mandel no evento de sua pré-candidatura, quando ele disse que “Não falava com a irmã há quase cinco anos“.

O artigo 14 do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros prevê que é dever do profissional ouvir sempre, antes da divulgação dos fatos, as pessoas envolvidas em uma matéria jornalística. O Código não cita que a reportagem deva ser submetida a intermediários das pessoas envolvidas.

Amom também tentou criar dúvida sobre a imparcialidade do veículo de comunicação ao lembrar o caso envolvendo a doação de apartamentos a familiares do prefeito de Manaus, David Almeida, em 2021, que foi matéria exclusiva da CENARIUM e virou alvo de investigação do Ministério Público Federal (MPF).

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David Almeida

Igual a Amom Mandel, David Almeida também tentou desqualificar matéria da CENARIUM sobre a entrega de apartamentos populares a parentes da filha dele, cuja pasta responsável pela ação era conduzida pela irmã do prefeito, Dulce Almeida, no Fundo Manaus Solidária. Ele buscou excluir a matéria na Justiça sob a alegação de “calúnia”. O pedido foi negado.

Autor da decisão, o juiz Marcelo Manuel da Costa justifica que a publicação não fez juízo de valor sobre David Almeida, e que as denúncias partiram de fontes legítimas, que entre elas estavam o próprio Amom Mandel e documentações de órgãos federais.

No ano de 2022, o prefeito de Manaus, David Almeida, entrou com 11 processos para excluir matérias da REVISTA CENARIUM envolvendo denúncias à gestão dele. Todos os pedidos foram negados em primeira ou em segunda instância no Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM). Atualmente, David recorre a instâncias superiores.

Apesar de pertencerem a gerações diferentes, Amom Mandel, 23 anos, e David Almeida, 55 anos, têm em comum a obsessão midiática a qualquer custo e sob qualquer condição, mesmo que isso custe a eles ofender e subjugar quem os contraria. A história eleitoral mostra que não há mais espaço para esse tipo de comportamento na política e, principalmente, os “outsiders” estão sendo desmascarados.

(*) Paula Litaiff é jornalista e diretora da REVISTA CENARIUM