Em carta, Arthur Virgílio se despede de Amazonino Mendes: ‘Deixa saudades’

O ex-governador Amazonino Mendes e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto (Divulgação)

16 de fevereiro de 2023

20:02

Marcela Leiros – Da Agência Amazônia

MANAUS – O ex-prefeito e ex-senador pelo Amazonas, Arthur Virgílio Neto, compartilhou nesta quinta-feira, 16, uma carta de adeus ao ex-governador do Amazonas Amazonino Mendes, que morreu no último domingo, 12. Na despedida, o ex-parlamentar lembrou da luta de ambos pela Zona Franca de Manaus (ZFM) e do legado que Amazonino Mendes deixa no Estado, citando, ainda, a convivência que tiveram ao longo dos anos.

O corpo de Amazonino Mendes chega em Manaus ainda na manhã desta quinta-feira, 16. O velório será aberto ao público, no Teatro Amazonas, das 17h desta quinta-feira, às 6h de sábado, 18. Mendes foi quatro vezes governador do Estado, três vezes prefeito de Manaus e uma vez senador.

“Nossas vidas se encontraram e desencontraram inúmeras vezes”, diz Arthur Virgílio no início da carta. “Em momentos delicados, como a defesa da Zona Franca e outras prerrogativas do Amazonas, invariavelmente, nos unimos”.

O também ex-senador lembra que houve momentos de tensão e brigas, mas as divergências eram deixadas de lado em prol do trabalho pelo Amazonas. “Discutimos, brigamos muito, porém, tivemos tempos saborosos de discutir história, literatura, arte e vida. Meu primeiro governo na Prefeitura coincidiu com grande parte do seu primeiro mandato como governador. E trabalhamos juntos e bem”, conta Arthur Virgílio.

Legado

Arthur Virgílio Neto lembra, ainda, que foi Amazonino Mendes quem fundou a Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Na época, os dois estavam brigados. “Lembro que estávamos brigados quando você surgiu com a UEA. Tive de admitir a grandeza da ideia. E a uni a do meu pai, seu amigo e candidato, tantas vezes, criador da Ufam. Comoveu bastante, Amazonino”, declara ele.

Saudade

Na última eleição, em 2022, Amazonino Mendes, no Cidadania, disputou o cargo de governador do Estado e Arthur Virgílio, no PSDB, concorreu ao Senado. Os dois partidos formaram uma federação.

Por fim, o ex-senador e ex-prefeito fala na saudade que Amazonino Mendes vai deixar e lamenta não poder ir às cerimônias fúnebres por ter sido diagnosticado com Covid-19. “Você deixa saudades na nossa gente, na minha esposa, nos nossos filhos e netos. Deixa saudades em mim. Ficou um buraco. Que deve ter ido com você, também”, cita ainda.

Leia a carta na íntegra:

Nossas vidas se encontraram e desencontraram inúmeras vezes. Em momentos delicados, como a defesa da Zona Franca e outras prerrogativas do Amazonas, invariavelmente, nos unimos.

Discutimos, brigamos muito, porém tivemos tempos saborosos de discutir história, literatura, arte, vida.

Meu primeiro governo na Prefeitura coincidiu com grande parte do seu primeiro mandato como governador. E trabalhamos juntos e bem.

Lembro, como se fosse ontem, da visita informal que você fez para me abraçar e dizer que estava deixando o governo para disputar o Senado. Em agradecimento a isso, visitei seu escritório político e dialogamos por horas a fio.

O que, no fundo, nos aproximava era o conteúdo intelectual de cada um. Nós tínhamos ideias para trocar, saindo do rame-rame de fulano vai ganhar, beltrano tem ou não tem votos e coisas assim. Creio q essa era a mágica, era o amálgama que nos atraía mutuamente.

Essa relação, que não era diária, não era contumaz, se dava com alegria e descontração, os momentos sendo todos eles aproveitados.

Você deixa saudades na nossa gente, na minha esposa, nos nossos filhos e netos. Deixa saudades em mim. Ficou um buraco. Que deve ter ido com você também.

Lembro que estávamos brigados quando você surgiu com a UEA. Tive de admitir a grandeza da ideia. E a uni a do meu pai, seu amigo e candidato, tantas vezes, criador da Ufam. Comoveu bastante, Amazonino.

Peguei meu segundo Covid e, por isso, não irei beijar sua fronte. Estou bem, graças a Deus, mas prejudicaria muitas pessoas se aparecesse na sua despedida.

Recomendei ao Armando que fizesse como fiz com meu pai: não permitir “comícios” que misturem saudade com temas menores.

Um dia nos reencontraremos na eternidade e com os nossos queridos que já esperam por você. Uma grande reunião, uma grande celebração, abraços, carinho, saudades deles, que já estão lá, por você, que estará chegando.

A vida é isso mesmo. É um tempo, um ciclo. Você lutou como uma onça do Amazonas. Recebi notícias, pelo Armando, todos os dias.

Confesso que estou sentindo falta de você. Sei que a recíproca deve ser semelhante.

Adeus, por enquanto, governador Amazonino Armando Mendes. Deus lhe receberá de tapete vermelho.

Com admiração para sempre, Arthur Virgílio Neto.