Em Manaus, consumidores ‘abrem mão’ da tradição e buscam opções para a ceia de Natal

Com o preço elevado do peru, Chester e tender, consumidores buscam outras alternativas. (Ricardo Oliveira/ Agência Amazônia)

20 de dezembro de 2022

12:12

Marcela Leiros – Da Agência Amazônia

MANAUS – A compra de itens tradicionais para a ceia de Natal, como peru, bacalhau ou tender, por exemplo, não será uma opção para algumas famílias em Manaus, capital do Amazonas. Com o preço do quilo desses alimentos alternando entre R$ 27 e R$ 90, consumidores se veem obrigados a achar outras alternativas de pratos para colocar na mesa.

É o caso do autônomo Aldo José, 65 anos. Ele lembra que no Natal de 2021 ainda conseguiu comprar o Peru, mas esse ano, com o preço chegando a R$ 400 em alguns estabelecimentos, não será possível saborear o prato tradicional. Outras opções serão a carne de porco e a picanha.

O peru não vai dar, não“, disse ele, que vai comemorar a data com mais quatro pessoas. “No ano passado, foi R$ 250, mas esse ano subiu muito. Vamos comprar carne de porco, picanha, o que der para comer“.

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“Não vai dar, não”, diz José Aldo sobre comprar peru para o Natal. (Ricardo Oliveira/ Agência Amazônia)

Em um supermercado no Centro de Manaus, o preço do peru está R$ 27,48, da marca Seara, e R$ 28,49, da marca Sadia; do lombo suíno Sadia, R$ 16,99; do tender Seara, R$ 54,99; do Chester Perdigão, R$ 27,49; outras opções para substituição são as aves, que chegam a custar R$ 18,89, da marca Maravilha, R$ 21,49, da marca Sadia, e R$ 24,68, da marca Seara.

Vendas

No bairro Alvorada, zona Centro-Oeste da cidade, a empresária Aparecida Rios criou alternativas para tornar os itens da ceia de Natal mais atrativos para o público. No Mercado da Carne é possível encontrar um kit formado por peru, pernil, lombinho e tender.

Ela afirma que devido ao valor do conjunto, que chega a quase R$ 500, as vendas saem mais para clientes em bairros da área considerada mais “nobre” na cidade.

Sai para o Adrianópolis, Ponta Negra, Morada do Sol, é mais para essas áreas mais nobres da cidade. Só que aqui [na Alvorada] não tem muita saída“, explica ela, afirmando ainda que se surpreendeu quando disponibilizou o frango temperado e os clientes começaram a procurar como uma opção para o peru.

O tradicional kit natalino tem mais vendas para áreas nobres de Manaus. (Ricardo Oliveira/ Agência Amazônia)

No estabelecimento, o quilo do peru temperado Sadia chega a R$ 36,99; do pernil Sadia, R$ 19,99; e do tender Sadia, R$ 94,99. Já o frango temperado está R$ 12,50. “Pedi um frango temperado, porque as pessoas vão comer frango no Natal e para cá [para região] eu vendo esse frango“, complementou.

Peru, pernil, lombinho, tender formam o kit natalino. (Ricardo Oliveira/ Agência Amazônia)

Prioridades

A economista Denise Kassama destaca que, além dos preços dos produtos terem aumentado, os consumidores escolhem priorizar outras despesas, como a quitação de dívidas.

Essas escolhas, do que comprar, estão ligadas simplesmente à renda. Ainda há um endividamento muito alto das famílias, que estão tentando se recuperar, mas a taxa de juros não ajuda a gente, e os que estão empregados preferem quitar a dívida em vez de fazer uma ceia muito farta“, explica.

A informalidade no Amazonas — 57,1%, de acordo com a última pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) — e a redução de renda também contribuem na busca para outras alternativas para a ceia de Natal, de acordo com Kassama.

Ainda tem um desemprego bastante significativo no Estado do Amazonas, e com o desemprego a gente tem a redução da renda das famílias, e com isso tem a preocupação das escolhas. A gente acaba escolhendo pelo preço mais acessível para o bolso. Também cabe salientar que muitos trabalhadores migraram pro setor informal, nos bicos, nos temporários“, finaliza.

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