Em Manaus, Exército faz ‘vista grossa’ para protestos antidemocráticos que já duram seis dias

Barracas foram instaladas no local. (Ricardo Oliveira/ Agência Amazônia)

07 de novembro de 2022

14:11

Marcela Leiros – Da Agência Amazônia

MANAUS – O Comando Militar da Amazônia (CMA), em Manaus, no Amazonas, se mantém em silêncio sobre o acampamento montado por apoiadores de atos antidemocráticos na área externa da instituição. A AGÊNCIA AMAZÔNIA questionou a instituição sobre as estruturas montadas nas calçadas do órgão, com banheiros químicos, barracas e até mesmo redes, mas não obteve resposta.

Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), a liberdade de expressão prevista na Constituição não pode ser invocada para proteger discursos que pregam a destruição do Estado Democrático de Direito, garantidor da própria liberdade de expressão.

A lei Nº 14.197 da Constituição diz que incitar a animosidade entre as Forças Armadas e os Poderes, como Legislativo, Executivo e o Judiciário, é crime, porque configura apologia à intervenção militar. A prática cabe pena de reclusão de quatro a oito anos, além da pena correspondente à violência.

Na semana passada, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, chamou de criminosos os grupos que contestam a vitória de Lula nas urnas. “Aqueles que criminosamente não estão aceitando a democracia serão tratados como criminosos e as responsabilidades serão apuradas”, disse.

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Intervenção militar

Desde quarta-feira, 2, o local foi tomado pela presença de pessoas que não aceitam o resultado da eleição que confirmou a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência da República. Além de negarem o resultado do pleito, os manifestantes, vestidos de verde e amarelo, ainda querem a prisão do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, e intervenção militar.

Os manifestantes alegam, em grupos nas redes sociais, que a concentração e permanência em frente ao comando militar é uma forma de conseguir a interferência dos militares na eleição. A reportagem inquiriu, via e-mail, se a presença dos manifestantes foi autorizada por alguém do comando, já que se trata de espaço que faz limite com a área militar, mas não houve respostas de Exército.

reportagem constatou que as barracas, banheiros químicos e até mesmo tendas foram montadas para atenderem os manifestantes, já que alguns passam o dia e a noite no local. Em uma das tendas instaladas na calçada em frente ao CMA, alimentos e bebidas, como pão e água, são disponibilizados para os presentes. Além de homens e mulheres, crianças também são vistas no local.

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Churrasco e rede

No fim de semana, começaram a circular nas redes imagens da situação em frente ao CMA. Na rede social Twitter, o jornalista Mário Adolfo compartilhou imagens do que chamou de “esculhambação”. Segundo ele, o ambiente está insalubre e o cheiro de urina afeta quem passa pela região. Fotos publicadas por ele mostram, ainda, uma churrasqueira onde carnes são assadas.

Ambiente completamente insalubre na frente do CMA, na Ponta Negra, em Manaus. Os bolsonaristas transformaram a área em um chiqueiro a céu aberto. Odor de urina começa na passarela do Ponta Negra Shopping e se espalha pelas redondezas. Tudo isso com a conivência de muitos“, disse ele.

Publicação de Mário Adolfo, no Twitter. (Reprodução/ Twitter)

O apresentador Ronaldo Tiradentes também compartilhou, pelas redes sociais, como se encontra a permanência dos apoiadores na calçada do Comando Militar da Amazônia. Na imagem publicada no Instagram, é possível ver que uma rede foi instalada próxima à placa que alerta: “Área militar. Proibida a entrada”. “Inacreditável”, comentou ele.

Rede foi instalada em frente ao CMA (Reprodução/ Instagram)