Em três anos, Bolsonaro gastou mais de R$ 3,5 milhões em viagens ao AM para cultos, reuniões e entrevistas

Presidente Jair Bolsonaro (Divulgação)

07 de novembro de 2022

15:11

Ívina Garcia – Da Agência Amazônia

MANAUS – O presidente Jair Bolsonaro (PL) gastou R$ 3.529.519,37 milhões no Cartão de Pagamento do Governo Federal (CPGF) e em transporte, passagens aéreas e diárias nas dez viagens ao Amazonas, no período de 2019 a junho de 2022, antes do início da campanha.

As despesas da Presidência da República com o cartão corporativo já somam R$ 15.635.610,02 apenas em 2022, tendo nove portadores e o valor médio de R$ 2.090,32 por pagamento. As informações foram obtidas pela reportagem da AGÊNCIA AMAZÔNIA por meio da Lei de Acesso à Informação.

Mais da metade da agenda do presidente no Amazonas foi destinada a encontros com líderes religiosos, congressos e cultos. Das dez viagens ao Estado, apenas duas foram para entregar obras do governo federal.

(Arte: Mateus Moura/AGÊNCIA AMAZÔNIA)

A primeira visita do presidente empossado ao Amazonas ocorreu em 25 de julho de 2019 e custou R$ 137.563,33. Bolsonaro esteve em Manaus para entregar certificados da Olimpíada Internacional de Matemática sem Fronteiras, no Colégio Militar da Polícia Militar 5, e firmou compromisso com o desenvolvimento da região.

Ao casar o desenvolvimento com a preservação ambiental, nós seremos, sim, mais do que o coração do Brasil, nós seremos a alma econômica do nosso Brasil. Aqui, tem tudo para alavancar o Brasil ao local de destaque que ele merece”, afirmou o presidente durante o evento.

Bolsonaro durante entrega de certificados em Manaus (Isac Nóbrega/PR)

Quatro meses depois, o presidente esteve novamente na capital, em 27 de novembro de 2019, Bolsonaro participou de culto, jantou com o governador Wilson Lima e pela noite participou da abertura da 1ª Feira de Sustentabilidade do Polo Industrial de Manaus — FesPIM, organizada pela Superintendência da Zona Franca. A viagem custou R$ 280.321,99.

Após um ano sem comparecer ao Estado, Bolsonaro retornou em abril de 2021, quando participou da inauguração do pavilhão de eventos do Centro de Convenções Vasco Vasques, teve reunião com líderes evangélicos e concedeu entrevista a uma rede local de televisão, com o custo total de R$ 178.848,86.

No mês seguinte, o presidente retornou ao Estado para entregar a Ponte Rodrigo e Cibele, em São Gabriel da Cachoeira, e inaugurar módulos de energia solar no 5º Pelotão Especial de Fronteira — PEF, em Santa Isabel do Rio Negro, a viagem é a mais cara da lista e custou R$ 710.835,28.

Bolsonaro reinaugura ponte de madeira, em São Gabriel da Cachoeira (Reprodução)

À época, a inauguração da ponte de madeira de dezoito metros em São Gabriel da Cachoeira causou revolta em políticos da oposição. O deputado Elias Vaz (PSB-GO) solicitou detalhamento das despesas e, ao receber relatório, pontuou que os gastos com o cartão corporativo foram quase três vezes maiores que o custo da obra de R$ 255.174,38.

Leia mais: Bolsonaro gastou R$ 711 mil em inauguração de microponte, no interior do Amazonas

Conforme lista enviada à reportagem, o presidente gastou R$ 47.757,13, no dia 9 de julho de 2021, e R$ 276.440,40, no dia 17 de julho do mesmo ano, em viagens a Manaus, mas não foram identificados os eventos que Bolsonaro teria participado na capital.

A reportagem consultou a agenda oficial do presidente no site do governo federal e, no dia 9 de julho de 2021, Bolsonaro cumpriu agenda em São Paulo e no Rio Grande do Sul, sem informações sobre visitas a Manaus. No dia 27, a agenda também não consta viagens a Manaus, Bolsonaro fez transmissão ao vivo e realizou reuniões em São Paulo.

A reportagem questionou a Secretaria da Presidência sobre os gastos nas datas especificadas, mas até o fechamento da matéria não obteve retorno.

Bolsonaro retornou à capital, no dia 18 de agosto, quando participou da Cerimônia de Entrega do Módulo B do Residencial Cidadão Manauara II, com o prefeito de Manaus, David Almeida, e o governador do Estado, Wilson Lima. Os gastos totais com a comitiva foram de R$ 305.254,46.

Bolsonaro participa da entrega do Módulo B do Residencial Cidadão Manauara (Isac Nóbrega/PR)

Na última viagem, em 2021, ao Amazonas, Bolsonaro desembolsou R$ 504.173,88 entre os dias 26 e 28 de outubro. A passagem mais longa de Bolsonaro pelo Estado foi marcada pela participação no Baile do Curso de Formação de Soldados 2020, entrevistas, participação em uma Consagração Pública de Pastores do Amazonas e em um culto da Assembleia de Deus.

Em 2022, a primeira visita do presidente aconteceu em maio, quando Bolsonaro esteve na capital para participar da Marcha para Jesus. Antes do evento, o presidente se reuniu com líderes evangélicos no Teatro Amazonas em encontro fechado para a imprensa. Os gastos somaram R$ 546.752,12.

Michelle, Bolsonaro, governador Wilson Lima e Coronel Menezes durante visita do presidente (Diego Peres/Secom)

Na última visita do presidente ao Amazonas, antes da campanha eleitoral começar, Bolsonaro gastou R$ 541.571,92 para participar novamente de eventos religiosos. Segundo a agenda oficial, Jair participou de uma Unção Apostólica e do Congresso Internacional da Visão Celular no Modelo dos 12, organizada pelo Pastor Renê Terra Nova, aliado do presidente.

Promessas econômicas

Bolsonaro venceu a eleição, em 2018, sob o mantra das promessas econômicas do ministro Paulo Guedes e pautou toda o governo em volta de recuperação econômica pós-pandemia e de que o Brasil estava com a saúde financeira acertada.

A recente declaração do ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, trouxe aos holofotes as inúmeras manobras realizadas pelo Governo Bolsonaro que quebraram o teto de gastos de diversos setores e criaram um rombo de R$ 400 bilhões.

“Na minha avaliação, o tamanho do buraco deixado é mais próximo de R$ 400 bilhões, estimado por entidades independentes, do que dos R$ 150 bi que o governo está falando”, disse Meirelles.

Entre a lista das manobras estão a PEC do Teto, assinada em setembro de 2019, utilizando a repartição da cessão onerosa do pré-sal para transferir recursos federais aos municípios sem contabilizar, no total de R$ 46 bilhões. Em abril de 2021, a PEC dos Precatórios com mais R$ 44 bilhões e em dezembro foi aprovado outro “furo no teto” de R$ 81,7 bilhões.