Em um ano, exploração ilegal de madeira cresceu 11 vezes em terras indígenas do Pará

Madeira apreendida em operação ocorrida no Pará, em 2021 (Alex Ribeiro/Agência Pará)

23 de setembro de 2022

21:09

Karol Rocha – Da Agência Amazônia

MANAUS – A área com extração ilegal de madeira dentro dos territórios indígenas cresceu 11 vezes em um ano. Em números, a exploração madeireira, nestes territórios, passou de 158 hectares, entre agosto de 2019 e julho de 2020, para 1.720 hectares entre agosto de 2020 e julho de 2021.

Os dados são do Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex), que integram quatro instituições ambientais como Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e o Instituto Centro de Vida (ICV).

O território mais impactado foi o Amanayé, que teve pelo menos 1.255 hectares de área explorada entre agosto de 2020 e julho de 2021, o que corresponde a 73% da área com a atividade ilegal nas terras indígenas do Pará. A área fica localizada no município de Goianésia do Pará, e embora presente na base de dados de terras indígenas da Fundação Nacional do Índio (Funai), esse território ainda aguarda homologação.

A segunda área indígena mais afetada durante o período foi a de Baú, com 205 hectares (12%); seguida da Sarauá, com 117 hectares (7%); da Cachoeira Seca, com 94 hectares (5%); e da Anambé, com 49 hectares (3%). Entre agosto de 2019 e julho de 2020, a única área protegida impactada era Baú, a qual tinha 158 hectares afetados pela exploração ilegal da madeira. O pesquisador do Imazon, Dalton Cardoso, aponta os dados como preocupantes para a Amazônia.

“O aumento da exploração de madeira dentro das terras indígenas e o registro nas unidades de conservação é extremamente preocupante, pois indica que esses territórios que, por lei, devem ser protegidos com prioridade, não estão recebendo a atenção necessária para barrar novas invasões”, afirmou o pesquisador.

Extração de madeira em terra indígena (Reprodução/Imazon)

Unidades de Conservação

O estudo também revela que exploração ilegal de madeira em unidades de conservação, entre agosto de 2020 e julho de 2021, no entanto, foram encontrados 126 hectares com exploração madeireira não autorizada em unidades de conservação do Pará. Na publicação anterior, não foi encontrado registros da atividade irregular em áreas acima de 1 hectare — tamanho a partir do qual a Rede Simex mapeia a extração de madeira.

A maior parte ocorreu na Floresta Nacional do Jamanxim, que fica nos municípios de Itaituba e Novo Progresso. No local, 56 hectares tiveram registros de exploração madeireira, o que corresponde a 45% da área afetada irregularmente nas unidades de conservação paraenses. Em segundo lugar, ficou a Floresta Nacional de Altamira, com 44 hectares (35%), a Florestal Estadual de Iriri, com 18 hectares (15%) e o Parque Nacional do Jamanxim, com 7 hectares (6%).

Extração de madeira em unidade de conservação (Reprodução/Imazon)

De modo geral, em um ano, 6.940 hectares de exploração de madeira foram registradas entre agosto de 2020 e julho de 2021. Para se ter noção, entre agosto de 2019 e julho de 2020, a área explorada era de 50.139 hectares e um ano depois os impactos chegaram a 57.079 hectares.

Entre agosto de 2020 e julho de 2021, 23.390 hectares (41%) de exploração eram realizadas sem autorização. A área autorizada apresentou 59% do total mapeado, com 33.690 hectares. Quanto à atividade não autorizada, a maior parte foi identificada dentro de imóveis rurais cadastrados (17.496 hectares ou 75% do total).

Estudo

O Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex) é uma ferramenta de monitoramento da Amazônia baseada em imagens de satélites, desenvolvida pelo Imazon, em 2008, para avaliar Planos de Manejo Florestais e mapear áreas submetidas à exploração madeireira na região.

Em 2020, com objetivo de expandir a atuação do Simex nos Estados da Amazônia, foi constituída a Rede Simex, integrada, atualmente, por Imazon, Imaflora, Idesam e ICV.

Impactos registrados entre agosto de 2020 e julho de 2021 (Reprodução/Imazon)