Embate entre Débora Menezes e Alberto Neto reforçam uso impróprio do termo ‘comunismo’

À esquerda, a deputada estadual Débora Menezes, e à direita, o deputado federal Capitão Alberto Neto (Montagem: Thiago Alencar/Revista Cenarium Amazônia)

24 de agosto de 2023

21:08

Jefferson Ramos – Da Agência Cenarium Amazônia

MANAUS (AM) – A deputada estadual Débora Menezes acusou o deputado federal Capitão Alberto Neto, ambos do PL, de bancar supostos blogs “comunistas” e de “esquerda” para atacar o ex-presidente Jair Bolsonaro. A acusação foi feita na manhã desta quinta-feira, 24, durante sessão plenária da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam).

Na avaliação do professor do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Luiz Antônio, o emprego demasiado da palavra comunismo pela direita distorce o sentido histórico e clássico da palavra.

“Os conceitos precisam ser definidos. O comunismo nunca existiu de fato. O comunismo seria uma forma de organização da sociedade, baseada na colaboração entre as pessoas, com a ausência do Estado. O comunismo seria uma etapa superior de desenvolvimento da sociedade que não precisa do Estado, porque a sociedade estaria organizada por meio de cooperativas e frentes indicando soluções de forma cooperada”, explicou.

O cientista social Luiz Antônio (Reprodução/Redes Sociais)

Segundo o professor, a economia seria diferente, uma vez que para chegar ao socialismo deve ser necessário “destruir o sistema capitalista”, com meios de produção sob a responsabilidade da burguesia.

“Meia dúzia de empresários exploram a força de trabalho de todo o mundo e pagam um salário muito baixo. A lógica é o lucro e a acumulação de riqueza. A teoria de esquerda diz que vai se superar o modo de produção capitalista e teríamos uma fase intermediária entre o capitalismo que desapareceu e o comunismo que será construído. Essa fase é o socialismo”, acrescentou Luiz Antônio.

O cientista político Marcelo Seráfico adiciona que as expressões socialismo e comunismo são expressões críticas de uma interpretação dos limites do capitalismo. Ele ressalta que países que adotaram o sistema no período da guerra fria só faziam referência ao comunismo no nome.

“Talvez se possa dizer que socialismo e comunismo são duas possibilidades de transformação política e social da própria sociedade capitalista. Isto é, são, um e outro, possíveis desdobramentos críticos dos limites do capitalismo para realizar a dupla promessa civilizatória da igualdade e da liberdade, vistas como ideais da modernidade”, explanou.

O analista político e cientista social Marcelo Seráfico (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Marcelo Seráfico explica que o ímpeto de transformação que tomou experiências socialistas de alguns países estão “na origem de muitas experiências autoritárias e ditatoriais, tanto em países capitalistas quanto socialistas, no decorrer do século 20”.

“Muitos dos preconceitos, estigmas e incompreensões, que têm como alvo o socialismo e o comunismo, se assentam na ignorância sobre essa história e sobre muitas das questões centrais em jogo na dinâmica da sociedade capitalista e em suas expressões políticas e ideológicas”, pontuou.

Embate

Procurado pela AGÊNCIA CENARIUM AMAZÔNIA, o deputado federal Capitão Alberto Neto exigiu provas das acusações feitas por Débora Menezes.

“Ela tem que se explicar de onde ela tem essas provas sobre essas acusações. Só digo que não financio blogs nem de esquerda e nem de direita. O que fiz foi uma denúncia, porque o coronel Menezes feriu regras do estatuto do PL. O processo ainda não acabou. Ele ainda pode recorrer, se quiser”, rebateu.

O deputado federal Capitão Alberto Neto (Reprodução/Douglas Gomes)

Questionado pela reportagem a respeito do seu entendimento sobre comunismo, Alberto Neto fez referência a Karl Marx e Coreia do Norte.

“Nunca vi nenhum blog daqui do Amazonas pregando em relação a Karl Marx. Eu desconheço”, finalizou.

Até a publicação da matéria, a deputada estadual Débora Menezes não retornou os contatos da reportagem.

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Editado por Pricila de Assis
Revisado por Adriana Gonzaga