‘Estado não vai recuar face à criminalidade’, diz Marina Silva após ataque em Terras Yanomami

Membros da comitiva acompanharam ações em Roraima (Léo Otero/MPI)

02 de maio de 2023

14:05

Bianca Diniz – Da Revista Cenarium

BOA VISTA (RR) – Uma comitiva interministerial desembarcou em Roraima, nessa segunda-feira, 1º, para acompanhar as investigações do ataque a tiros de garimpeiros ilegais contra indígenas na Comunidade Uxiú, localizada na Terra Indígena Yanomami (TIY). O grupo foi liderado pelas ministras da Saúde, Nísia Trindade, dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, e do Meio Ambiente, Marina Silva.

De acordo com a ministra Marina Silva, uma operação conjunta está sendo ajustada de acordo com as necessidades identificadas pelas equipes na região Yanomami. “Com base nos dados que vão surgindo a todo momento, a operação vai sendo aprimorada. As ações vão ser intensificadas. O Estado brasileiro não vai recuar face à criminalidade. Vamos reforçar as equipes para que possamos dar uma resposta à altura“, afirmou Marina.

Além disso, a ministra Marina ressaltou que as ações humanitárias na TI Yanomami devem seguir um cronograma, com a reativação de bases e a realização de um trabalho articulado para atender as demandas dos povos indígenas. “A ação de comando e controle está sendo ajustada, mas obviamente, não divulgaremos quais são as estratégias. Já temos a informação de que houve uma redução de 70% a 75% no garimpo”, concluiu

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Ministras compõem comitiva interministerial em Roraima (Bianca Diniz/Revista Cenarium)

A ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima, lamentou a morte do agente de saúde indígena Ilson Xirixana durante uma visita aos dois indígenas sobreviventes ao ataque, Otoniel Xirixana, de 29 anos, que teve uma bala alojada no pulmão, e Venâncio Xirixana, de 31 anos, baleado no abdômen e na perna direita. “Queria expressar nosso pesar pelo indígena Ilson, que além de ser um jovem muito querido, era um agente de saúde indígena. Isso abate todos aqueles que trabalham na área da saúde”, disse a ministra.

Segundo Nísia, o Ministério da Saúde deve fornecer condições favoráveis aos indígenas internados para garantir que não corram risco de vida. “Este ataque ocorreu perto de uma unidade de saúde que conseguimos reabrir recentemente. Havia sete unidades. Isso exige que tenhamos cuidado com a saúde dos indígenas, bem como com todos os profissionais de saúde, justiça e defesa envolvidos. Precisamos cuidar de quem também cuida desta causa tão importante”, ressaltou.

A ministra também se reuniu com representantes do Centro de Operações de Emergência do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI-Yanomami), Júnior Hekurari e Dário Kopenawa. Na ocasião, Nísia enfatizou a importância de unir forças com todos os ministérios para proteger o Povo Yanomami. “Nossa missão é a cultura de paz, essa é a mensagem que trazemos”, destacou.

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Intensificação das ações

A ministra Sônia Guajajara complementou sobre o fortalecimento da Operação Conjunta. “Nós estamos aqui hoje numa ação de emergência, uma ação integrada para definir as intensificações das ações no território Yanomami, para fortalecer e concluir essa operação. A gente não está incentivando esses conflitos, não queremos derramamento de sangue”, comentou a ministra.

A presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, reconheceu a existência de grupos indígenas isolados com necessidades específicas em Roraima, enquanto destacou que a segurança e o acesso à água potável dos povos indígenas são essenciais. “Os povos indígenas merecem ter seus direitos garantidos”, afirmou Wapichana.

Ordem do presidente

O representante do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Francisco Tadeu, ressaltou que toda a atuação da comitiva foi planejada e organizada pelo presidente Lula. “Estamos agindo de forma determinada e firme para enfrentar aqueles que desafiam a autoridade legal. Não vamos ceder um milímetro. Essas são as palavras do presidente Lula. O Estado brasileiro não vai tolerar ações ilegais e criminosas”, afirmou Tadeu.

Caminho certo

O presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho Mendonça, destacou a atuação do Instituto na Operação. ”O Ibama vem trabalhando há três meses nesta operação. Nosso serviço de inteligência tem encontrado indício muito forte que alguns pontos de garimpo são mantidos por facções criminosas. O Ibama acredita que está no caminho certo, está fazendo as operações de forma bastante organizada para acabar com a ilegalidade naquela área”, comentou Mendonça.