‘Estamos pagando o preço com vidas’, diz secretário da ONU na COP28

Simon Stiell, secretário executivo da ONU (Foto: Christopher Pike/ COP28 via Flickr)

01 de dezembro de 2023

16:12

João Cunha – Especial para Agência Amazônia

DUBAI (EAU) – A 28ª Sessão da Conferência das Partes (COP28) foi iniciada na tarde dessa quinta-feira, 30, nos Emirados Árabes Unidos (EAU). Mais de 70 mil delegados de centenas de nações do planeta vão se reunir na Expo City, em Dubai, em busca do avanço nos acordos multilaterais para o combate à escalada da emergência do clima. A cerimônia de abertura da COP28 imprimiu o tom de urgência que os efeitos do aquecimento do planeta impõem, como a seca extrema vivida desde setembro na Amazônia brasileira.

“Este ano foi o mais quente já visto pela humanidade. Foram tantos recordes terríveis quebrados, e estamos pagando o preço com as vidas e os meios de subsistência das pessoas”, afirmou Simon Stiell, secretário executivo da ONU para Mudanças Climáticas.

Abertura da COP28, nos Emirados Árabes Unidos (Foto: João Cunha / Revista Cenarium Amazônia)

Stiell indicou a necessidade de mudança na dependência econômica e produtiva dos combustíveis fósseis, como o petróleo, responsável pela maior parte das emissões dos gases de efeito estufa. “Se não sinalizarmos o declínio terminal da era dos combustíveis fósseis, tal como a conhecemos, estaremos saudando o nosso próprio declínio terminal”.

Organização socioambiental da Amazônia participante da conferência, a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) comenta que a abertura da COP28 sinaliza um clima positivo para a continuidade das negociações. “É momento de ampliar as ambições das metas climáticas e, ao mesmo tempo, buscar o engajamento de todos os atores, todos os países e de todos os segmentos da sociedade”, diz Virgilio Viana, superintendente-geral da fundação.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou na abertura e criticou o dinheiro dispensado em guerras e a falta de compromisso dos países em seguir os protocolos climáticos acertados anteriormente.

Presidente Lula, em discurso na COP28 (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Fundo aprovado

A última Conferência do Clima realizada (COP27) foi encerrada com um acordo para a criação de um Fundo de Perdas e Danos, destinado a países mais vulneráveis, assolados por enchentes, estiagens, elevação dos mares e outros desastres climáticos. Uma das expectativas para a nova edição do evento era justamente a retomada das definições sobre os mecanismos de financiamento e distribuição do fundo.

Em uma decisão histórica, a Conferência das Partes, que organiza a COP28, anunciou a aprovação do Fundo de Perdas e Danos. Os Emirados Árabes Unidos, país-sede do evento, comprometeu-se com o aporte de US$ 100 milhões, o mesmo valor indicado pelo governo da Alemanha. Reino Unido (US$ 75 milhões) e Japão (US$ 10 milhões) também declararam contribuições financeiras ao fundo.

“A decisão sobre o Fundo de Perdas e Danos, anunciada hoje na COP28, é um avanço importante, bem como as contribuições já propostas por alguns países”, aponta Leandro Ramos, do Greenpeace Brasil. “O resultado desta COP deve confirmar a responsabilidade dos países que mais contribuíram para a crise climática – eles devem garantir que o Fundo tenha os recursos necessários para operar. E, mais do que isso, a indústria de combustíveis fósseis, que continua a lucrar bilhões, deve pagar pelo dano que causou.”

Cenário de emergência

“Eu sei, assim como vocês sabem, a gravidade desse momento. E nós vemos, assim como vocês veem, que o mundo chegou em uma encruzilhada. Sim, desde (o Acordo de Paris), nós fizemos algum progresso, mas nós também sabemos que o caminho que temos seguido não vai nos levar ao nosso destino a tempo. A ciência falou, de forma clara e contundente: confirmou que o momento é agora para achar um novo caminho, um caminho largo o suficiente para todos nós”, disse o presidente da COP28, Sultan Al Jaber.

28ª Sessão da Conferência das Partes (COP28) foi iniciada na tarde dessa quinta-feira, 30

A COP deste ano marca a conclusão do “balanço global” (ou global stocktake, no termo original), a primeira avaliação do progresso global na implementação do Acordo de Paris de 2015. As conclusões são claras: o mundo não está no caminho certo para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C até o final deste século.

Um relatório publicado recentemente pela ONU Climate Change mostra que os planos nacionais de ação climática (conhecidos como contribuições determinadas nacionalmente, ou “NDCs”) reduziriam coletivamente as emissões de gases de efeito estufa para 2% abaixo dos níveis de 2019 até 2030, enquanto a ciência deixa claro que é necessária uma redução de 43%.

Um relatório publicado recentemente pela ONU Climate Change mostra que os planos nacionais de ação climática (conhecidos como contribuições determinadas nacionalmente, ou “NDCs”) reduziriam coletivamente as emissões de gases de efeito estufa para 2% abaixo dos níveis de 2019 até 2030, enquanto a ciência deixa claro que é necessária uma redução de 43%.

O relatório reconhece que os países estão desenvolvendo planos para um futuro com emissões líquidas zero e que a mudança para a energia limpa está ganhando velocidade. A transição ainda não está nem perto de ser rápida o suficiente para limitar o aquecimento dentro das ambições atuais

Leia mais: Análise da COP28: avaliação das medidas globais no combate ao aquecimento global
Editado por Jefferson Ramos
Revisado por Gustavo Gilona