Estiagem: desabastecimento é iminente, alertam empresários do AM

Fecomércio AM reuniu presidentes de sindicatos e empresas para tratar dos impactos da seca no abastecimento de produtos no Amazonas. (Foto: Yana Lima / Revista Cenarium)

16 de outubro de 2023

15:10

Yana Lima – Da Revista Cenarium Amazônia

MANAUS – Durante reunião realizada nesta segunda-feira, 16, pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Amazonas (Fecomércio-AM), empresários do setor de comércio, transporte e logística expressaram séria preocupação com a iminência do desabastecimento na região, a menos que medidas sejam tomadas imediatamente, para enfrentar a crise de navegação provocada pela seca recorde.

Leia também: A reunião ocorre no dia em que o Rio Negro atingiu o menor nível em 121 anos.

Segundo o presidente da Fecomércio, Aderson Frota, o comércio será duramente afetado na principal data comercial, as festas de fim de ano, e na Black Friday, em novembro. Segundo ele, os produtos chegarão com acréscimo de 30% a 50% nos custos com frete, o que consequentemente afeta o preço final.

“Nós vamos ter dificuldade pelo alongamento da chegada da mercadoria, pelo encarecimento do frete e isso tudo vai redundar em desabastecimento para a população. Nós precisamos ter essa noção de consequência, mas buscar uma solução que minore o prejuízo e o sofrimento da população”, alerta.

Os empresários destacaram a urgência de acelerar o processo de dragagem nos rios da região, para garantir a navegabilidade, que atualmente está seriamente comprometida devido aos baixos níveis de água. Até o momento, a data de início da dragagem ainda não foi definida pelo governo federal.

Seca no Lago do Aleixo, em Manaus; estiagem severa fez lago desaparecer (26.set.23 – Ricardo Oliveira/Revista Cenarium Amazônia)

Transporte por balsas

Há pelo menos 10 dias, grandes navios não conseguem navegar no Amazonas por conta da seca. Os dois trechos com maior dificuldade de navegação são a Enseada do Madeira, no rio de mesmo nome, e no Tabocal (entre Manaus e Itacoatiara, no Rio Amazonas).

Navio durante viagem pelo rio Negro, em Manaus, no período da cheia. (Divulgação)

As transportadoras têm implementado medidas paliativas para evitar um desabastecimento mais crítico, como o transporte de carga por via rodofluvial, utilizando balsas e rotas alternativas via Porto Velho e Belém.

No entanto, essas balsas têm uma capacidade de transporte significativamente inferior em comparação com grandes navios cargueiros, representando cerca de 10% da capacidade. Além disso, as restrições de navegação noturna aumentam o tempo necessário para as cargas chegarem ao destino.

As projeções dos empresários indicam que a navegabilidade nos rios só deve se normalizar em meados de novembro. Sem uma ação imediata para enfrentar esta seca, o desabastecimento se torna praticamente inevitável.

Estoque de alimentos

A redução drástica no estoque de um grande grupo de venda por atacado, de 60 dias para 15 dias, pode indicar que a população está começando a estocar alimentos, segundo Luis Gastaudi, sócio-proprietário da empresa. Os principais itens afetados por este fenômeno são as proteínas congeladas, como o frango.

“Eu noto que já tem certas demandas, produtos perecíveis, com demanda muito acima do normal. Ou as famílias estão estocando ou comerciantes, e isso traz um agravamento, e nós ficamos sem ter o que fazer”, aponta.

Luis Gastaudi afirma que população pode estar estocando alimentos (Foto: Yana Lima/Revista Cenarium)
Demandas

A reunião promovida pela Fecomércio contou com a presença de empresários, diretores e representantes de entidades de classe. O presidente da Fecomércio pontuou que durante a reunião, foram ouvidas as principais demandas da categoria, para que eles possam cobrar uma ação efetiva.

Além da dragagem dos rios, ele pontuou que entre os pleitos do setor está a urgência pavimentação da BR-319, sinalização do Rio Negro para melhorar a navegação e medidas sobre o recolhimento antecipado do ICMS, que segundo ele, tem descapitaliza e prejudica o setor.

O presidente da Fecomércio, Aderson Frota (Foto: Yana Lima/Revista Cenarium)

“Quando a gente fala de economia, fala dos setores econômicos, mas tem que falar do sofrimento da população. Hoje o comércio e serviços é responsável por 58% da arrecadação de ICMS. Nós que somos um setor ativo, de grande contribuição para o governo, temos que reivindicar um pouco mais de atenção, já que somos o maior agente arrecadador”, avalia.

Editado por Eduardo Figueiredo