Estudo aponta alto índice de parasitoses intestinais entre indígenas Yanomami

Durante o período do estudo, 295 indígenas foram atendidos, e todos os participantes apresentavam parasitas intestinais (Reprodução)

20 de abril de 2023

18:04

Bianca Diniz – Da Agência Amazônia

BOA VISTA (RR) – O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) publicou um estudo, na segunda-feira, 17, que revelou altos índices de parasitoses intestinais entre os indígenas Yanomami. O estudo foi conduzido em 2015, em cinco comunidades Yanomami localizadas no polo base Marari, no Amazonas, próximo à fronteira com a Venezuela. Durante o período do estudo, 295 indígenas foram atendidos por profissionais de saúde.

De acordo com o estudo, todos os participantes apresentavam parasitas intestinais, sendo 81% deles portadores de micro-organismos causadores de doenças como amebíase e verminoses. Além disso, cerca de 15% dos indígenas apresentaram, simultaneamente, parasitose intestinal e malária. Alguns casos analisados tinham duas ou mais espécies de parasitas intestinais.

Indígenas Yanomami são afetados por má condições de saúde (Reprodução/Fiocruz)

Segundo os pesquisadores do IOC/Fiocruz, a alta prevalência de parasitoses intestinais entre os indígenas Yanomami pode estar relacionada à falta de saneamento básico e à exposição a condições insalubres. A presença de múltiplas espécies de parasitas em um mesmo indivíduo pode agravar os sintomas e dificultar o tratamento.

Para a pesquisadora do Laboratório de Imunoparasitologia, Joseli Ferreira, o saneamento é um agravante e contribui com a contaminação. “O índice de parasitoses intestinais foi muito alto. Mais de 80% dos indivíduos tinham duas ou mais espécies de parasitos intestinais. Em 20% dos casos, encontramos de quatro a seis espécies diferentes de micro-organismos. A falta de saneamento nas aldeias indígenas e o contato contínuo com o ambiente contaminado propiciam a infecção por uma grande diversidade de parasitas”, informou.

Infográfico publicado no site do IOC/FioCruz (Reprodução)

Resultado dos exames

Durante os exames realizados, os pesquisadores constataram que a ameba Entamoeba coli foi o parasito intestinal mais prevalente, estando presente em 100% das amostras analisadas. Embora essa ameba seja, geralmente, considerada de baixa patogenicidade (pouca probabilidade de causar doença), em alguns casos, ela pode causar desconforto abdominal. É importante ressaltar que a maioria dos indivíduos analisados apresentou infecção concomitante por um ou mais micro-organismos patogênicos.

As análises identificaram que a ameba Entamoeba histolytica, causadora da amebíase, estava presente em 71% das amostras. Além disso, aproximadamente 20% das análises mostraram a presença dos vermes ancilostomídeos responsáveis pela ancilostomose, popularmente conhecida como amarelão, e o Ascaris lumbricoides, conhecido como lombriga.

Os pesquisadores também detectaram outras espécies de parasitas, incluindo o protozoário Giardia intestinalis, causador da giardíase, bem como os vermes Trichuris trichiura, responsável pela tricuríase, e Enterobius vermicularis, causador da enterobíase (ou oxiuríase), entre outros. No entanto, essas espécies foram encontradas com menor frequência nos exames.

“Esses micro-organismos causam diarreia e prejudicam a absorção de nutrientes. Isso agrava a desnutrição, aumentando o risco de morte das crianças, além de levar a problemas a longo prazo”, ressalta Joseli.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o tratamento periódico com medicamentos antiparasitários, em locais com elevada incidência de parasitoses intestinais. Embora seja uma medida importante, os cientistas ressaltam a necessidade de considerar outras ações para o controle sustentável dessas doenças nas Terras Indígenas Yanomami (TIY).

Malária

De acordo com os resultados da pesquisa, um alto índice de malária foi identificado entre os participantes. Utilizando uma metodologia avançada de PCR, que permite a detecção do DNA dos parasitas, no sangue, a infecção foi diagnosticada em, aproximadamente, 15% dos indivíduos avaliados.

Além disso, mais de 80% dessas infecções foram consideradas submicroscópicas, o que significa que não puderam ser detectadas pelo exame tradicional de microscopia de gota espessa. Esse padrão já havia sido observado no primeiro levantamento sobre a malária, realizado na região de Marari, em 2014, em colaboração com pesquisadores do Instituto René Rachou (IRR/Fiocruz Minas Gerais).

Conforme explicado por Joseli, a diferença de resultados entre a metodologia de PCR e o exame de gota espessa se deve à capacidade da primeira em detectar pequenas quantidades de parasitas no sangue. “Em áreas endêmicas, os indivíduos adquirem imunidade por serem muito expostos à malária e acabam apresentando baixa parasitemia sem sintomas. A maioria dos casos positivos, no exame de gota espessa ocorreu em crianças, mulheres grávidas e adolescentes, que são mais vulneráveis à doença”, detalha a pesquisadora.

Estudo

O estudo foi publicado na renomada revista científica Journal of Infection and Public Health, realizado em parceria com o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), o Centro de Medicina Tropical de Rondônia (Cemetron) e o Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y).

No Instituto Oswaldo Cruz (IOC), diversos laboratórios participaram da pesquisa, incluindo os de imunoparasitologia de pesquisa em malária, de hepatites virais, de simulídeos, oncocercose e entomologia médica e forense. A pesquisa faz parte da tese de doutorado de Mariana Pinheiro Alves Vasconcelos, realizada no Programa de Pós-Graduação em Biologia Parasitária do IOC, sob a orientação de Joseli.

A pesquisa foi financiada pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Yanomami, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), bem como pelo IOC.