Expedição de pesquisadores da USP vai explorar Serra do Imeri, no AM; ‘Um lugar completamente desconhecido’

Serra do Imeri, norte do Amazonas, onde ocorrerá a expedição (Miguel Rodrigues/IB-USP)

25 de outubro de 2022

19:10

Gabriel Abreu – Da AGÊNCIA AMAZÔNIA

MANAUS – Uma expedição de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) deve explorar a Serra do Imeri, um conjunto de montanhas no norte do Amazonas, próximo à fronteira com a Venezuela. Serão, ao todo, 17 dias de incursão, entre 4 e 20 de novembro, com uma equipe de 14 pesquisadores que pretende fazer um censo da biodiversidade para saber que tipos de animais e plantas vivem nas escarpas, e de que forma eles se relacionam, ou não, com as espécies que habitam as partes mais baixas do bioma.

Em imagens feitas por helicópteros em voos de reconhecimento do Exército brasileiro mostraram uma paisagem com montanhas verdes coroadas por nuvens e rodeadas por vastas extensões de floresta tropical intocada, sem qualquer sinal evidente de interferência humana, dizem pesquisadores. Um acampamento será montado acerca de 2 mil metros de altitude, no topo de um morro vizinho ao pico mais alto da região, que ultrapassa os 2.400 metros de altitude, segundo informações do Google Earth.

A equipe de 14 pesquisadores, incluindo especialistas em répteis e anfíbios (herpetologia), aves (ornitologia), mamíferos (mastozoologia), plantas (botânica) e parasitas. O grupo inclui nove professores e alunos de pós-graduação da USP, mais cinco representantes de outras instituições do Brasil e do exterior, incluindo a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), o Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), a Estación Biológica de Doñana (Espanha) e o Centre National de la Recherche Scientifique (França).

“Não temos a menor ideia do que vamos encontrar lá, é um lugar completamente desconhecido. Sabemos que vai ter muito bicho e muita planta, mas de quais tipos, não faço ideia. Só vamos saber quando chegarmos lá”, destacou o professor Miguel Trefaut Rodrigues, do Instituto de Biociências (IB) da USP, um dos zoólogos mais experientes do País e líder da expedição.

A expectativa dos pesquisadores é de encontrar novas espécies. As condições ambientais e climáticas que caracterizam esses ambientes de alta montanha são bem diferentes das encontradas nas florestas tradicionais, de altitudes mais baixas, e que essas montanhas estão isoladas do restante da Amazônia — biogeograficamente falando — há vários milhões de anos. Tempo mais do que suficiente para que elas desenvolvessem uma biodiversidade própria e exclusiva de seus domínios (endêmica, como se diz no vernáculo científico).

Suporte

A equipe científica contará com o suporte de 76 militares — 21 em campo e 55 em Santa Isabel do Rio Negro, cerca de 100 quilômetros ao sul —, responsáveis pela logística e segurança dos trabalhos. 

“Estamos atribuindo grande prioridade a essa expedição. Apesar de todas as limitações orçamentárias, é uma prioridade nossa manter esse apoio. Desde abril, o Exército já realizou vários sobrevoos no local para reconhecimento e planejamento da expedição”, disse o general Guido Amin Naves, chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT) do Exército.

Serra do Imeri, norte do Amazonas, onde ocorrerá a expedição (Miguel Rodrigues/IB-USP)

A equipe de pesquisadores é, em grande parte, a mesma que realizou a primeira expedição científica ao Pico da Neblina, a montanha mais alta do Brasil (com 2.995 metros), em 2017, também com apoio do Exército e de guias Yanomami.

Geograficamente, tanto o Pico da Neblina quanto o seu vizinho, o Pico 31 de Março (segunda maior montanha do País, com 2.974 metros), também são considerados parte da Serra do Imeri, mas integram um maciço rochoso diferente, em forma da platô, fisicamente separado e com características bem diferentes da cordilheira que os pesquisadores vão percorrer agora, 80 quilômetros a sudeste dali. Do ponto de vista ecológico, são como dois arquipélagos distintos, separados por um grande mar de floresta verde.

Além da presença do Exército, a região conta com duas camadas de proteção legal: o Parque Nacional do Pico da Neblina, gerido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e a Terra Indígena Yanomami, gerida pela Fundação Nacional do Índio (Funai).

A unidade abriga cerca de 27 mil indígenas ao longo de seus quase 100 mil quilômetros quadrados de extensão, mas a região onde ocorrerá a expedição é desabitada na sua maior parte. A aldeia mais próxima fica 13 quilômetros a nordeste do pico mais alto, e as informações preliminares são de que nem mesmo os indígenas costumam subir as montanhas.

“Provavelmente, vamos pisar em lugares onde nenhum ser humano pisou até agora”, diz o pesquisador Taran Grant, especialista em anfíbios e chefe do Departamento de Zoologia do IB-USP — que não pôde ir ao Pico da Neblina em 2017, mas estará nessa nova expedição.

Os 14 pesquisadores que participarão da expedição são:

– Miguel Trefaut Rodrigues, professor do IB-USP (herpetologia)
– Alexandre Reis Percequillo, professor da Esalq-USP (mastozoologia)
– Ana Paula Carmignotto, professora da UFSCar (mastozoologia)
– Lucia Garcez Lohmann, professora do IB-USP (botânica)
– Luís Fábio Silveira, curador do MZ-USP (ornitologia)
– Rafaela Campostrine Forzza, pesquisadora do JBRJ (botânica)
– Taran Grant, professor do IB-USP (herpetologia)
– Agustin Camacho Guerrero, pesquisador do EBD/CSIC, Espanha (herpetologia)
– Antoine Fouquet, pesquisador do CNRS, França (herpetologia)
– Renato Sousa Recoder, pós-doutor pelo IB-USP (herpetologia)
– Bruno Rafael Fermino, pós-doutorando no ICB-USP (parasitologia)
– Leandro João Carneiro de Lima Moraes, doutorando do IB-USP (herpetologia)
– Igor Ferreira de Alvarenga, biólogo voluntário no MZ-USP (ornitologia)
– José Mario Beloti Ghellere, biólogo (herpetologia)