Extremistas impedem o trabalho de jornalistas que cobrem atos antidemocráticos no Amazonas

O impedimento do trabalho da imprensa fere um dos pilares da democracia brasileira, garantida pelo Artigo 220 da Constituição brasileira (Ricardo Oliveira/AGÊNCIA AMAZÔNIA)

12 de novembro de 2022

16:11

Gabriel Abreu – Da AGÊNCIA AMAZÔNIA

MANAUS – Jornalistas que fazem a cobertura dos protestos antidemocráticos na capital amazonense têm enfrentado resistência dos manifestantes extremistas que têm impedido o trabalho dos profissionais em pleno exercício da função. Ao longo dos 11 dias de manifestação, que completam neste sábado, 12, em frente ao Comando Militar da Amazônia (CMA), Zona Oeste de Manaus, casos de agressão física e verbal têm acontecido no local.

O impedimento do trabalho da imprensa fere um dos pilares da democracia brasileira garantida pelo Artigo 220 da Constituição: “A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição”, consta no artigo.

Ao tentar fazer fotos, essa semana, um fotojornalista, que não quis se identificar, precisou se considerar apoiador do ato para conseguir realizar fotos no local. Enquanto que o cinegrafista de um veículo de imprensa precisou fazer imagens de longe para não ser hostilizado ou sofrer algum tipo de violência.

Mais ataques

Nesta semana, um manifestante atacou a repórter de televisão de uma emissora de Manaus, Mayara Rocha, enquanto fazia a cobertura do ato antidemocrático. O repórter cinematográfico Anderson Luiz também foi hostilizado. Segundo informações apuradas pela equipe de reportagem da AGÊNCIA AMAZÔNIA, os manifestantes se aproximaram armados de pedras para lançar na direção dos jornalistas, caso contido por meio da intervenção de um segurança na manifestação.

Em seguida, um dos manifestantes, ainda não identificado, se aproximou da repórter que, na saída do veículo, ao término da reportagem, recebe gritos do homem que bate no carro. Em seguida, ele agride os profissionais, verbalmente, com palavras de baixo calão. Em várias delas, ele, o agressor, grita e ofende a repórter no aspecto pessoal de sua orientação sexual: “seus bando de imundo… Tu tá doida é? Vai tomar no…, sua…”, diz o agressor.

Na semana passada, um apoiador da extrema-direita fez uma postagem no Twitter onde fez ameaça a profissionais da Rede Amazônica e CNN Brasil. Na postagem, o homem identificado como Thiago Farias dizia: “A ordem é a seguinte: Se algum representante, seja da Rede Amazônica, seja da CNN chegar ao âmbito do Comando Militar da Amazônia, por ocasião do nosso ato, quebre ele. Nada de morte ou algo que manche o nosso ato, por favor. Apenas aleije, invalide, no máximo”, dizia na postagem, que foi removida pela plataforma em seguida.

Segurança dos jornalistas

Em convenção, a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) conclamou que governos, jornalistas e organizações de mídia devem apoiar a adoção de uma Convenção da ONU sobre a segurança e independência de jornalistas e outros profissionais da mídia.

Apesar de suas boas intenções, o Plano de Ação da ONU sobre a segurança dos jornalistas e a questão da impunidade não conseguiu oferecer “o ambiente livre e seguro para jornalistas e trabalhadores da mídia”, conforme prometeu.

Veja a íntegra do documento:

Pelo contrário, os jornalistas continuam a ser atacados, espancados, detidos, perseguidos e ameaçados por fazerem o seu trabalho. Além disso, ameaças contínuas à segurança digital de jornalistas, incluindo ataques cibernéticos, roubo de dados, hackers e assédio online, colocam em risco os profissionais de mídia e a segurança. Nesse contexto, é ainda mais urgente a adoção de um instrumento que obrigue os governos a enfrentar a impunidade da violência contra jornalistas e profissionais da mídia.

Posição da Abraji

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) se manifestou, repudiou e denunciou a intimidação imposta à imprensa de Manaus, impedida de cobrir a manifestação antidemocrática diante do Comando Militar da Amazônia (CMA).

Além dos casos de agressão, em Manaus, a Abraji registrou 50 ocorrências de violência contra a imprensa e pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) desde o final da eleição, no dia 30 de outubro de 2022.

A maioria dos ataques ocorreu nos locais de manifestações antidemocráticas, que negam o resultado das urnas e pedem intervenção militar. A gravidade da situação brasileira tem sido denunciada pela Abraji e pelo conjunto de entidades e organizações de defesa da liberdade de imprensa e de expressão.

Abraji cobrou, ainda, do Ministério da Defesa, das Forças Armadas e das forças de segurança locais e regionais a garantia de que o trabalho da imprensa possa ser cumprido com segurança e respeito nos locais dessas manifestações, que são de interesse público e alvos de investigação criminal em diversos Estados.