12 de setembro de 2022
13:09
Ívina Garcia – Da Agência Amazônia
MANAUS – Um foco de incêndio em vegetação atingiu trecho do KM 12 da rodovia MT 251, entrada de Cuiabá, capital do Mato Grosso, no último dia 8. O incêndio foi contido pelo Corpo de Bombeiros, mas a fumaça permanece no ar, encobrindo áreas por todo o Estado. A nuvem densa de queimadas que atinge a região também vem de incêndios ocorridos na Bolívia e no sul do Amazonas.
Dados do sistema Windy, mostram a concentração de monóxido de carbono (CO) e dióxido de azoto (NO²), indicadores de fumaça e poluição do ar. O NO2 é produzido pela queima de combustíveis e contribui para chuva ácida, neblina e problemas pulmonares, já o CO é resultado da queima de compostos de carbono, quando há queima incompleta da vegetação. A queima de combustíveis também é uma das principais fontes de emissão de monóxido de carbono.
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Galeria de Fotos: Incêndio na estrada MT-251
Imagens: Reprodução/Lucas Xavier
De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em agosto a área queimada na Amazônia corresponde a 41% da área total queimada em todo o País. São 26 mil km² de vegetação destruídos no bioma apenas no mês de agosto. Em caráter comparatório, no mês de julho, foram 4 mil km queimados, um aumento de 479%.
Na avaliação de Muriel Saragoussi, socioambientalista, a ação no combate aos focos de incêndio nessa época requer inteligência e vontade política, isso porque é de conhecimento geral o aumento de queimadas no período e a existência de mecanismos de controle deveria colaborar para a diminuição do desflorestamento.
“Se sabe que vai ter desmatamento e queimadas nessa época do ano e existem várias formas de acompanhar isso. Primiero pelos satélites, dá pra saber quando se está desmatando, e isso é possivel graças ao DETER do INPE. Dá para intervir com inteligência, porque para desmatar, antes de queimar é necessário comprar combustivel para motosserra e trator em grandes quantidades, então da para acompanhar como está acontecendo“, disse a especialista.
No entanto não é o que ocorre no atual governo, segundo Muriel, o que está ocorrendo é uma ação tardia, depois que toda a madeira já foi extraída e escoada. “Quando se começa a queimar o desmatamento já aconteceu, a madeira já saiu. É preciso que os poderes estatais, IBAMA, ICMBIO, a Polícia Federal, Rodoviária e as secretarias de meio ambiente atuem de forma coordenada e clara para impedir o desmatamento“, afirma.
Para ela, uma punição mais justa, que realmente faça diferença no bolso dos criminosos, é um caminho para barrar a extração ilegal e o desmatamento. “Também é preciso trabalhar na punição, precisa ser exemplar, precisa ser mais caro desmatar do que o dinheiro que eles ganham roubando madeira e terras públicas, isso precisa ser uma política de Estado“.
Ilegalidades
O desmatamento e a grilagem fazem parte de uma reação em cadeia, um “efeito dominó”, segundo a especialista, que pontua a retroalimentação entre garimpos, desmatamento, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. “Nós estamos assistindo ao encadeiamento de crimes contra o povo brasileiro, contra as riquezas do País e contra a natureza”, diz.
“É importante sempre lembrar que o mecanismo de desmatamento é um mecanismo primeiro e antes de tudo de apropriação de riquezas públicas. O financiamento do desmatamento vem da retirada das madeiras mais nobres da área e da venda dessas madeiras.”, afirma a especialista.
A ambientalista também ressalta que esse financiamento vem de bancos e de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas, que segundo ela “tomaram conta da Amazônia”, graças à ausência do estado. “Estão usando o desmatamento e a grilagem de terra para lavar dinheiro do tráfico de drogas, depois que é feito (a queima do solo), eles colocam gados que é uma das formas fáceis de lavar dinheiro, eles usam pescado também, que foi a razão da morte do Bruno Pereira e do Dom Phillips (no Vale do Javari)”, relembra.
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Saúde
A extração ilegal e consequentemente o desmatamento causam problemas diretos às pessoas que vivem próximas aos locais onde ocorrem os focos, seja pela onda de calor e pouca chuva ou pelos problemas de saúde agravados pela fumaça.
“Faz muito mal pra quem tem processos alergicos, como rinite e asma, essa fumaça entra no pulmão das pessoas e agrava muito as síndromes respiratórias e também pode agravar o quadro de pessoas que não possuem alergias, mas ficam fragilizades, sobretudo crianças e idosos, que tem uma saúde que precisa de mais cuidados”, afirma a socioambientalista.
“Não só na saúde, mas as fumaças são um problema geral, que vai desde pousos e decolagens de avião com as neblinas que se formam nas cidades, até os focos de calor que também diminuem localmente as chuvas, porque o ar quente sobe e leva tudo o que tem de umidade, isso é um efeito dominó, que muda o clima localmente e a nível mundial”, explica.