Fotógrafo Renato Soares retrata diversidade étnica dos povos indígenas em exposição no Museu da Amazônia

Exposição inicia em abril e tem duração de seis meses (Ricardo Oliveira/Cenarium)

26 de fevereiro de 2022

20:02

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – O fotógrafo e documentarista mineiro Renato Soares, de 56 anos, realiza uma exposição, no Museu da Amazônia, em Manaus, a partir de 19 de abril deste ano, com 100 imagens capturadas por ele e que retratam a diversidade étnica dos povos tradicionais. Com duração de seis meses, a experiência que inicia no Dia dos Povos Indígenas vai garantir aos visitantes uma imersão sobre a cultura indígena brasileira, buscando dar visibilidade às centenas de etnias existentes no País, em meio ao contexto pandêmico e político vivido pelas populações originárias do Brasil.

“Esse trabalho que estamos fazendo na exposição, que vai ficar nos corredores do bosque do Museu da Amazônia, vai contar um pouco da história brasileira e dos indígenas de vários lugares, não somente do território amazônico. Vamos olhar o Musa como se nós víssemos o Brasil e toda essa população indígena que fotografei de Norte a Sul, mostrando seus rostos e suas identidades. É como se eles estivessem aqui, neste momento, reivindicando o espaço que lhes pertencem”, destacou Renato Soares.

Ao todo, serão 100 fotografias que ficarão disponíveis pelas trilhas e tendas do Musa (Ricardo Oliveira/Cenarium)

Ao todo, serão 100 fotografias que ficarão disponíveis pelas trilhas e tendas do Musa, na Zona Norte da capital amazonense. À REVISTA CENARIUM, Renato contou, neste sábado, 26, que o momento vivido pelos indígenas com as atividades garimpeiras e madeireiras ilegais, que afetam não somente a vida das populações tradicionais, mas o meio ambiente, foi fundamental para que a exposição fosse exibida.

“Estamos vivendo um momento muito delicado. Os indígenas estão sendo atacados de todos os lados. Ou são os garimpeiros, madeireiros ou os interesses imobiliários. Então, eles precisam ser vistos. Quem não é visto, corre o risco de ser esquecido e a grande beleza da humanidade está na diversidade. Por isso, mostraremos na exposição as meninas Krahô, os Yanomamis, os Kalapalo, os Cuiú-Cuiú, os Yawalapiti, os Kamaiurá, os Kayapó, os Tikuna, a diversidade da população, o indígena brasileiro”, destacou Renato Soares.

Segundo o fotógrafo, a exposição faz parte do projeto Ameríndios do Brasil, cujo objetivo é fazer o registro fotográfico de todas as 305 etnias indígenas do País e que nasceu da necessidade de mostrar a realidade dos povos tradicionais. Além disso, 1/3 do lucro obtido com as vendas das imagens são compartilhadas com as etnias.

Família Krahô

Uma das fotografias que serão exibidas é o das “Meninas Krahô”, da família Timbira. Renato Soares conta que conhece os indígenas desde o final da década de 1980 e chegou a produzir, em 1994, na terra Krahô, em Tocantins, o livro ‘Krahô – Os filhos da Terra’, com participação do sertanista Orlando Villas-Boas, que foi mentor e amigo pessoal do mineiro. Quando retornou ao território, em 2016, Renato fez o registro com as crianças.

Renato Soares ao lado da fotografia das “Meninas Krahô” (Ricardo Oliveira/Cenarium)

O fotógrafo lembra que, quando conheceu os indígenas Krahô, o cacique Pedro Penon, um dos três líderes Krahô, também famoso pelo nome de “velho Penon”, estava tentando recuperar uma “machadinha” de pedra polida e cabo de madeira, chamada K’yire, um precioso objeto ritual que havia desaparecido da aldeia de Pedra Branca, em Goiás, no começo do século XX.

O item precioso, em formato de meia-lua, só foi encontrado em 1947, no município goiano de Pedro Afonso, por um antropólogo alemão que a levou para o Museu Paulista, ou Museu do Ipiranga, da Universidade de São Paulo (USP). Em 1982, os indígenas Krahô souberam do paradeiro da K’yire, mas somente no final daquela década o objeto foi recuperado.

Machado foi devolvido pela USP aos Krahô, em 1987 (Renato Soares/Arquivo)

Dia dos Povos Indígenas

Os amantes da cultura das populações originárias do Brasil e da fotografia podem prestigiar a exposição a partir de 19 de abril de 2022. Não por acaso, a data foi escolhida para iniciar a exibição por ser o Dia dos Povos Indígenas, reforçando a importância desses povos para o País. Vale lembrar que, para quem é natural do Amazonas, o visitante tem direito à meia-entrada.