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Governo Bolsonaro comprou pescoço de galinha por R$ 260 o quilo a indígenas; valor é 24 vezes maior que a média

Governo Bolsonaro comprou o quilo do pescoço de galinha por R$ 260 (Montagem: Mateus Moura/Agência Amazônia)

16 de maio de 2023

11:05

Ívina Garcia – Da Agência Amazônia*

MANAUS – Sem licitação, o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) comprou por R$ 260 o quilo de pescoço de galinha para distribuir a indígenas do Rio Madeira, no Amazonas. O preço é 24 vezes maior do que a média do produto em contratos anteriores com o governo federal, que chegava a R$ 10,70 por quilo. Segundo indígenas na região, os pacotes de pescoço de frango nunca chegaram.

A informação publicada com exclusividade pelo Estadão nesta terça-feira, 16, revelou outros gastos do Governo Bolsonaro com coordenações regionais da Amazônia. Além dessa compra, a coordenação regional da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), no Rio de Madeira (AM), ainda adquiriu mais de uma tonelada de charque, maminha, coxão duro, alcatra e latas de presunto que nunca foram distribuídas entre as famílias das aldeias na época da pandemia da Covid-19.

Leia também: Governo Bolsonaro comprou 19 toneladas de bisteca nunca entregues ao Vale do Javari

Indígenas durante ritual com crianças (Lton Santos/Semed)

Os produtos seriam destinados a indígenas da etnia Mura e funcionários da Funai que atuavam em missão em Manicoré, distante 331 quilômetros da capital Manaus, mas o produto nunca chegou ao destino. O total gasto com a compra das carnes chegou a R$ 927,5 mil, entre 2020 e 2022. Desse valor, 5,2 mil foram gastos para adquirir 20 quilos de carne de pescoço.

Pescoço de galinha

O valor gasto com o pescoço de galinha dava para adquirir meia tonelada do mesmo produto, caso o governo federal tivesse seguido com o valor pago em contratos anteriores, de R$ 10 por quilo. Responsável pela aquisição dos produtos, o atual comando da Funai e a gestão anterior não se posicionaram sobre a compra.

A reportagem faz parte de uma série de investigações levantadas pelo Estadão, que ainda revelaram a compra de 19 toneladas de bisteca nunca entregues a indígenas do Vale do Javari e o gasto de R$ 4,4 milhões para compra de sardinha e linguiça aos Yanomami, mesmo após orientação técnica e alertas do Ministério Público de que esses alimentos não eram apropriados aos povos da região.