‘Grande avanço’, dizem especialistas sobre união de pais e filhos LGBTQIAPN+

Pai e filho se abraçando (Frepik)

13 de agosto de 2023

16:08

Pricila de Assis – Da Agência Amazônia

MANAUS (AM) – Especialistas foram entrevistados pela AGÊNCIA CENARIUM AMAZÔNIA para discutir o progresso nas relações entre pais e filhos LGBTQIAPN+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans, Queer/Questionando, Intersexo, Assexuais/Arromânticos/Agênero, Pan/Poli, Não-binários e outros) nesta geração, que ainda enfrenta desafios no contexto familiar. A última pesquisa realizada em 2013 pelo Instituto Data Popular sobre a aceitação dos pais em relação à orientação de seus filhos LGBTQIAPN+, revelou que 37% não aceitaria um filho homossexual.

Nove anos após a publicação desta pesquisa pelo Instituto, outra análise realizada pela Global Advisor — LGBT+ Pride 2023, por meio da Especialista em Pesquisa de Mercado e Opinião Pública (Ipsos), revela que 51% dos brasileiros são favoráveis à união de pessoas do mesmo sexo, ou seja, indicando uma mudança de pensamento em relação à presença da comunidade LGBTQIAP+.

A terapeuta Samiza Soares analisa que existem mudanças na relação entre pais e filhos LGBTQIAPN+ como um sinal positivo de evolução social e maior compreensão. “É encorajador observar que cada vez mais pais estão aceitando e apoiando seus filhos e filhas homossexuais. Esse movimento reflete um questionamento dos valores tradicionais e uma abertura para a diversidade que antes era limitada. Pais que aceitam seus filhos LGBTQIAPN+ estão proporcionando um ambiente de amor e aceitação, permitindo que seus filhos expressem sua identidade de forma autêntica e se sintam verdadeiramente acolhidos em suas famílias”, destaca.

Ainda na observação clínica, a especialista destaca que os desafios precisam ser superados, seja por parte dos pais ou mesmo dos filhos, que têm o medo de expressar o afeto pelo mesmo sexo para suas famílias. “Alguns pais podem enfrentar dificuldades em lidar com suas próprias crenças e preconceitos internalizados, o que pode afetar sua capacidade de aceitação. Nesses casos, é fundamental o suporte de profissionais da área de saúde mental, como terapeutas, para auxiliar pais e filhos a trabalharem juntos na construção de uma relação saudável e respeitosa”, destaca.

Terapeuta Samiza Soares (Arquivo pessoal)

Inclusão

No Governo Bolsonaro, ocorreram diversas mudanças, especialmente no Ministério de Direitos Humanos, que foi renomeado como Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, excluindo a sigla LGBTQIA+ das diretrizes de direitos humanos e limitando políticas públicas para esta comunidade.

O cientista político Helson Ribeiro critica a persistência de um discurso por vezes moralista e hipócrita. “É importante termos a consciência de não universalizar nosso pensamento, seja qual for a direção. Se analisarmos os 20 países com melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), observamos um respeito em relação aos diversos tipos de família, não apenas àquelas com tradições conservadoras que impõem”, destaca.

Analista político Helso Ribeiro (Divulgação)

Para a CENARIUM, o cientista avalia que a inclusão do núcleo LGBTQIAPN+ no Ministério de Direitos Humanos é um grande avanço. “Quando respeitamos a diversidade, quando temos tolerância e empatia pelo diferente, isso representa um avanço. Vamos observar como acontece na Noruega, Bélgica, Holanda, Suécia, Canadá, Nova Zelândia e Austrália, embora esteja mencionando países com um elevado IDH. Veremos que em todos esses lugares há espaço para as diversas formas de família”, explica.

O ex-deputado federal Marcelo Ramos, que tem um filho homossexual, declarou abertamente em suas redes sociais a aceitação de seu primogênito em uma relação homoafetiva. À AGÊNCIA CENARIUM AMAZÔNIA, o político que foi vice-presidente da Câmara dos Deputados, fala sobre o seu olhar crítico em relação ao posicionamento do ex-presidente Bolsonaro em relação à comunidade LGBTQIA+.

“Não sou um militante da causa. Sou até muito crítico em relação a algumas pautas radicalizadas, mas sou um defensor do amor, da tolerância e do respeito. Um defensor de os pais ficarem ao lado de seus filhos, amando-os e apoiando-os de forma plena. O discurso do Governo Bolsonaro estimulava o preconceito e a violência contra a comunidade, empoderava pais que agridem seus filhos e relativizava a violência contra a comunidade”, afirma.

Marcelo Ramos é um político conservador e compartilha um pouco sobre sua relação com seu filho, Gabriel, que no início foi um processo difícil. “Perdi meu pai muito cedo e idealizei com meu filho a relação que não tive tempo de ter com um pai. Queria que fosse como eu idealizei, mas não foi – hoje sei que ele é muito melhor do que eu imaginei – e isso gerou um conflito. No entanto, houve um dia em que percebi que não poderia perder meu filho, pois se o rejeitasse, ele poderia ser influenciado pelas drogas e até pelo suicídio, como acontece com muitos adolescentes. Nesse dia, conversamos e ali se iniciou um processo de amor e compreensão que foi longo para a mim e para ele. Foram anos de acertos e erros para chegarmos onde estamos hoje. Quero dizer que onde estamos hoje é o local mais feliz do amor de pai e filho. Gabriel é meu orgulho e me transformou em um ser humano melhor“, declara.