Heineken anuncia saída da Zona Franca de Manaus para o interior de São Paulo

Garrafas de cerveja da Heineken (Reprodução)

04 de março de 2022

14:03

Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

MANAUS — Mais uma empresa do polo de concentrados anunciou que irá deixar a Zona Franca de Manaus (ZFM). A Heineken emitiu um comunicado nesta sexta-feira, 4, informando que vai transferir a unidade de concentrados para a cidade de Itu, no interior de São Paulo, onde também é produzido o portfólio de bebidas não alcoólicas da empresa, atualmente representado pelas marcas FYs, Itubaína, Viva Schin, Skinka e Água Schin.

A saída da Heineken de Manaus ocorre no momento de grande insegurança para as empresas instaladas no Polo Industrial de Manaus (PIM). Há uma semana, foi publicado o decreto, assinado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que reduziu o Imposto de Produto Industrializado (IPI). A medida traz grandes riscos ao PIM.

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No comunicado enviado à imprensa, o grupo Heineken informou que a realocação deve “otimizar a produção, aumentar a eficiência de toda a cadeia envolvida nesse processo, reduzir sua emissão de carbono e ainda acelerar a chegada dos produtos aos pontos de venda, tornando-se ainda mais competitiva e alinhada às dinâmicas do mercado”.

“O Grupo Heineken reafirma sua aposta e confiança no mercado brasileiro, onde tem buscado crescer de forma respeitosa e sustentável, e agradece toda a comunidade de Manaus e do Estado do Amazonas pelo acolhimento durante todos esses anos de operação local”, diz ainda a nota.

Redução de embalagens plásticas

Questionada pela CENARIUM se a saída ocorreu por conta do novo decreto presidencial que diminuiu a competitividade das empresas da Zona Franca de Manaus, a empresa informou que a mudança faz parte da ampliação da empresa no País.

“A decisão de transferir a operação de Manaus para Itu integra o plano de crescimento da companhia e de ampliação dos esforços dentro da agenda de ESG, como o de reduzir em 80% o volume de embalagens plásticas até 2025, movimento iniciado em junho de 2021. Por conta dessa decisão e de um longo estudo, a empresa decidiu por absorver toda a produção para a operação em Itu, o que nos permitirá ganhar em eficiência, em agilidade de transporte dos produtos para os pontos de venda e ainda reduzirá a emissão de carbono de transporte logístico”, acrescentou no documento divulgado nesta sexta-feira, 4.

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Pepsico

No final de 2018, outra grande empresa do setor de concentrados deixava o Polo Industrial de Manaus (PIM). A decisão da Pepsico ocorreu meses depois do governo federal mudar a taxação do IPI das companhias de refrigerante instaladas na Zona Franca de Manaus.

As empresas pagavam alíquota de 20%, porém, o índice foi reduzido para 4% para bancar os subsídios do óleo prometidos para encerrar a greve dos caminhoneiros. Na época, o governo Temer anunciou a mudança em maio e a reverteu em setembro. A ação foi feita depois da pressão de diversas empresas do ramo, entre elas o Grupo Coca Cola, que ameaçaram deixar a região.

Redução do IPI

A redução do IPI afeta diretamente os produtos importados e produzidos no Polo Industrial. A medida causou insegurança nos empresários e nos trabalhadores que temem perder os empregos.

A redução do IPI já havia sido anunciada pelo ministro Paulo Guedes, no último dia 22 de fevereiro. Segundo ele, essa seria uma medida para conter o aumento de preços generalizados e impulsionar o aumento da indústria.

O objetivo da medida é estimular a economia, mas exigirá uma renúncia fiscal, ou seja, o governo deixará de arrecadar, segundo o Palácio do Planalto, R$ 19,5 bilhões, somente neste ano.

O IPI incide sobre os produtos industrializados, e o valor costuma ser repassado ao consumidor no preço final das mercadorias. O imposto possui várias alíquotas, que variam, em sua maior parte, de zero a 30%, mas que podem chegar a 300% no caso de produtos nocivos à saúde.