Homens encapuzados invadem aldeia e ameaçam cacique no Vale do Javari

Terra indígena Vale do Javari, no Amazonas. (Adam Mol/ Funai)

20 de abril de 2023

13:04

Ívina Garcia – Da Agência Amazônia

MANAUS – Há poucos meses desde que recebeu visita de representantes do governo federal, lideranças no Vale do Javari, em Atalaia do Norte, (distante 1.136 km de Manaus), continuam sofrendo com insegurança e ameaças constantes. No último domingo, 16, quatro homens encapuzados invadiram a aldeia Irari 2, localizada no noroeste da Terra Indígena, próximo à fronteira com o Peru, buscando “acertar as contas” com o cacique Valdemar Kanamary.

Conforme o Boletim de Ocorrência (BO) registrado no 50º Distrito Integrado de Polícia (DIP), os homens chegaram em um bote de alumínio com motor 13 HP, por volta das 16h de domingo. Armados com fuzis, os homens falavam em espanhol que estavam em busca do Cacique. Segundo a denúncia feita por uma liderança que estava no local no momento do ocorrido, os homens estavam “pedindo a cabeça” do cacique.

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Problemas no Vale do Javari vão além da falta de segurança (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Ao serem informados que o cacique não estava na aldeia naquele momento, os autores das ameaças saíram do local. A denúncia foi enviada à REVISTA CENARIUM por uma liderança indígena que prefere não ser identificada com medo de se tornar um dos alvos. Segundo ele, a tensão na região não diminuiu apesar da presença de agentes federais.

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), Polícia Federal (PF) e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), para solicitar quais ações serão tomadas para prevenir novas ameaças e possíveis mortes no local, até o momento apenas a Funai e a PF responderam.

A Funai relatou que acompanha o caso pela unidade localizada na região. “Além disso, o órgão se colocou à disposição das forças de segurança pública para tratativas sobre ações de combate ao tráfico de drogas, pesca, caça ilegal e contrabando de madeira na região a fim de evitar que as populações indígenas sejam alvos de novos ataques“, escreveu.

Já a PF afirma estar tomando providências. “A Polícia Federal no Amazonas informa que providências referentes a fiscalização ostensiva e investigação já estão sendo tomadas, em conjunto com os órgãos de Segurança Pública, para que seja elucidado o caso e trazer seguridade às comunidades residentes no Vale do Javari“, diz.

Terra indígena Vale do Javari, no Estado do Amazonas. (Adam Mol/ Funai)

A Associação dos Kanamari do Vale do Javari (Akavaja), enviou uma carta à Funai, PF, Ministério Público Federal (MPF) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), informando sobre as invasões e ameaças no território Kanamari.

Estamos cansados de informar ao estado brasileiro sobre as invasões em nosso território. A retirada de madeira e a pesca ilegal feita por criminosos dentro das nossas aldeia tem nos tornado refém do medo“, diz a carta.

A Associação ainda afirma que o estado demora a tomar ações coordenadas e realmente eficazes na região. “Precisamos que as ações de proteção e vigilância territorial sejam realizadas em parceria entre as organizações estatais, movimento indígena e associações, e, que sejam assertivas e coordenadas. A morosidade do estado brasileiro tem nos causado grandes perdas e não estamos dispostos a perder mais nenhum dos nossos“, declara.

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Base de proteção no Vale do Javari (Foto: Funai/Divulgação)

Eles pedem que equipes de segurança se desloquem em caráter de urgência ao local, pois os moradores temem que uma nova tragédia aconteça, isso porque há quase um ano, a região do Vale do Javari tomou as mídias após o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. Após isso, diversas lideranças indígenas passaram a ser ameaçadas.

Estamos com medo que uma nova tragédia aconteça em nossa região e, portanto, pedimos que a esta solicitação seja atendida o mais breve possível“, finaliza a carta.

Operação

As ameaças ao cacique Valdemar Kanamary aconteceram um dia após a Polícia Federal e a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) trabalharem em conjunto após uma denúncia de extração de madeira ilegal da Terra Indígena no dia 15 de abril.

Segundo a PF, foram apreendidas mais de 70 toras de madeira de várias espécies. Além disso, três suspeitos foram identificados e levados à delegacia de Tabatinga, onde prestaram depoimento. Um Inquérito civil foi instaurado para verificação da procedência da madeira e demais envolvido.

Madeiras apreendidas pela Polícia Federal em operação no Vale do Javari (Divulgação)