Ilha do Marajó vira ‘hype’ de internet e instituições alertam sobre fake news

Criança com olhos cobertos por mãos de homem. Ao fundo, região da Ilha do Marajó (Composição de Paulo Dutra/Agência Cenarium)

24 de fevereiro de 2024

16:02

Ricardo Chaves – Da Agência Cenarium

MANAUS(AM) –  Entidades e institutos sociais que atuam em políticas públicas na Ilha do Marajó, no Pará, emitiram um posicionamento público que alerta para as fake news da campanha na internet que associa a região à exploração e ao abuso sexual de crianças e adolescentes. O assunto virou “hype” nas redes sociais, ou seja, se transformou em tendência e passou a ser promovido de forma extrema.

Em nota publicada nas redes sociais com o título “Não acredita em tudo o que vês na internet”, o Observatório do Marajó diz que as redes de tráfico internacional operam em todas as regiões do País e não é exclusivamente da localidade, além de ressaltar que “a propaganda que associa o Marajó à exploração e o abuso sexual não é verdadeira”. A entidade também destaca que “a população marajoara não normaliza violências contra crianças e adolescentes”.

Na última semana, grupos bolsonaristas usaram vídeos e montagens fora de contexto para inflamar e atribuir o problema ao governo federal. Uma das imagens mais compartilhadas mostra dezenas de crianças em um carro. O vídeo foi gravado no Uzbequistão e compartilhado pelo deputado federal Carlos Jordy (PL).

Outra entidade a se posicionar foi o Instituto Dom José Luis Azcona, organização que promove a defesa dos direitos humanos das populações em situação de vulnerabilidade na região amazônica. 

A organização destacou que é importante tratar do assunto “de forma sensível e efetiva, sem estigmatizar a região do Marajó, em especial a vida dos seres em desenvolvimento”.  

Em 2022 durante o período eleitoral, a ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves disse que ouviu nas ruas relatos sobre estupro e tráfico de crianças no Marajó, porém nunca apresentou provas ou formalizou denúncias. 

O Ministério Público Federal (MPF) entrou com uma ação civil pública contra a ex-ministra e atual senadora pela divulgação de “falsas informações sensacionalistas envolvendo abuso sexual e torturas às crianças do Marajó”. 

Damares nunca destinou recursos

Ainda no texto, o Observatório do Marajó afirma que “enquanto ministra de Estado, Damares Alves não destinou os recursos milionários que por diversas vezes prometeu para a região para fortalecer comunidades escolares.” 

A nota diz, ainda, que a senadora “atentou contra a honra da população diversas vezes, espalhando mentiras, e abriu tais políticas públicas para grupos privados de São Paulo que defendem a privatização da educação pública”. 

Governo do Pará diz que acompanha

O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), disse que acompanha a situação da exploração sexual a crianças na Ilha do Marajó. Em vídeo publicado nas redes sociais na noite de sexta-feira, 23, o chefe do Executivo afirmou tratar do tema com o governo federal e prefeituras da região.

“Nós estamos focados nisso [na resolução do problema] não é de hoje (…) Capacitamos moradores da região para ajudar no reconhecimento de sinais de qualquer tipo de abuso (…) É inaceitável que crianças sejam vítimas de exploração no Marajó ou em qualquer parte do Brasil e do mundo”, disse o governador do Pará.

Barbalho defendeu a criação de uma “Zona Franca de Bioeconomia do Marajó” para gerar emprego e renda e combater a situação na região. O projeto foi proposto em 2020 ao governo de Jair Bolsonaro, no entanto, segundo o governador, não teve apoio. À época, foi apresentado como alternativa para substituir atividades de alto impacto ambiental, como o agronegócio e a mineração.

Família ribeirinha em Ilha do Marajó (Lalo de Almeida/Folhapress)

A ideia do projeto era oferecer isenções fiscais para a instalação de empresas de bioeconomia, uma espécie de “zona franca verde”. De acordo com o governador, a contrapartida federal, que seria a isenção de impostos federais para a comercialização de produtos, nunca ocorreu.

“Infelizmente o governo anterior não isentou os impostos federais e isto, sim, seria uma solução estrutural para mudar a realidade social da região, porque a mudança dessa triste realidade passa também por criar melhorias nas condições de vida”, afirmou Barbalho.

O político também destacou ações que já foram realizadas na localidade, como a criação de uma delegacia especial que apura os casos e encaminha para o acolhimento psicossocial crianças e adolecentes.

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Editado por Adrisa De Góes