04 de janeiro de 2023
20:01
Mencius Melo – Da Agência Amazônia
MANAUS – Passados quatro dias da posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), as redes sociais do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) continuam apresentando o político como chefe de Estado brasileiro. No Instagram, Facebook e Twitter, Bolsonaro realiza ‘despachos’ em postagens como se ele ainda fosse presidente. A REVISTA CENARIUM conversou com especialistas sobre a postura do ex-presidente.
Na leitura do cientista político Paulo Queiroz, a postura contraditória do capitão está em “delay com a realidade do País“. “A bem da verdade, penso que essa postura de um ex-presidente derrotado nas urnas, se portar como se chefe de Estado ainda fosse, nada mais é do que uma espécie de ‘conformidade mental’, isto é, a representação real da realidade psicológica fragmentada dele”, declarou Queiroz.
Para o cientista, Bolsonaro se aproveita da situação e do comportamento dos apoiadores. “Ele têm manifesto desvio de conduta, problemas de consciência e incongruência de realidade – e há esmagadoras evidências disso –, ele aproveita, ainda, a onda (já quase morta) de aliados lunáticos que persistem em tumultuar os processos democráticos. Nós não podemos nos perplexar com isso, pois, indivíduos ‘traumatizados’ (e ele está), não poderiam exprimir comportamento diferente desse“, avaliou.
O cientista destaca que apesar do “delírio”, Bolsonaro terá que encarar a realidade. “Ele, em breve, encontrará o instante crucial de ‘confrontamento com a realidade concreta’ e mudará drasticamente de postura, sobretudo, quando constatar que os seus derradeiros manifestantes, que já perderam quase que totalmente o “animus”, se retirarem, definitivamente, do denominado ‘campus insaniam‘, isto é, os ‘polos da loucura’, que são os acampamentos. Não tardará muito mais para que o vocábulo “bolsonarismo” integre apenas o dicionário pouco relevante do pretérito”, previu Paulo Queiroz.
Já a cientista social e antropóloga Socorro Batalha, acredita que se trata de uma estratégia para se manter em evidência. “Jair Bolsonaro faz de propósito, porque pode ser uma estratégia para manter o “bolsonsrismo” latente. É perceptível nas ruas, ainda, muito carros adesivados com a imagem e o nome de Bolsonaro”, observou a cientista.
Para Socorro, a estratégia, que tem como foco manter o nome de Jair Bolsonaro ativo, não produz os resultados que o ex-presidente espera, acredita a antropóloga. Ela cita como exemplo a faixa presidencial. Na não passagem de faixa, ele acabou sendo infeliz, porque com isso produziu uma das imagens mais bonitas da posse de Lula. Luiz Inácio Lula da Silva recebeu a faixa das mãos do povo, foi muito representativo, sensível e emocionante“, finalizou.