Lula defende exposição de financiadores de atos golpistas; relembre envolvidos no AM

Em primeiro plano, o presidente Lula frente ao acampamento golpista em Manaus (Composição de Paulo Dutra/Agência Cenarium)

08 de fevereiro de 2024

22:02

Ricardo Chaves – Da Agência Cenarium

MANAUS (AM) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu que os nomes dos financiadores dos acampamentos golpistas sejam revelados à sociedade ao comentar a operação da Polícia Federal (PF) realizada nesta quinta-feira, 8, que teve como alvo o ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados envolvidos numa tentativa de golpe de Estado.

No Amazonas, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão contra três militares: os ex-comandantes do Comando Militar da Amazônia (CMA), generais Augusto Heleno e Estevam Cals Theophilo Gaspar, além do subcomandante do Centro de Instrução de Guerra na Selva (Cigs), tenente-coronel Cleverson. Em novembro de 2023, a AGÊNCIA CENARIUM revelou os nomes de pelo menos cinco financiadores do acampamento montado em frente à unidade do Exército, no Amazonas, sediada em Manaus.

Os generais Augusto Heleno e Theophilo Gaspar (Composição de Wesley Santos/Agência Cenarium)

A declaração do presidente da República ocorreu em uma entrevista à rádio Itatiaia, em Minas Gerais, horas após a deflagração da operação batizada de Tempus Veritatis, que significa “hora da verdade” em latim.

“É muito difícil um presidente da República comentar sobre uma operação da Polícia Federal que ocorre em segredo de justiça. Espero que não ocorra nenhum excesso e seja aplicado o rigor da lei. Sabemos dos ataques à democracia. Precisamos saber quem financiou os acampamentos. Vamos esperar as investigações”, escreveu o presidente no X (ex-Twitter).

Empresários do Amazonas

No Amazonas, a Polícia Federal informou que cumpriu um mandado de busca e apreensão, um mandado de busca pessoal e uma intimação para medidas coercitivas. Duas pistolas, dois aparelhos celulares, dois notebooks e dez pen drives foram apreendidos. De acordo com o órgão, não ocorreu prisão.

CENARIUM visitou, em novembro de 2022, o acampamento montado por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro em frente ao Comando Militar da Amazônia (CMA). A reportagem apurou e identificou alguns dos grupos empresariais ligados a diversos ramos de atuação que incentivaram e financiaram o protesto antidemocrático.

Conforme apurado à época, existem outras empresas envolvidas em doações e no financiamento das manifestações antidemocráticas em Manaus.

Ao chegarem ao local, a repórter Ívina Garcia e o fotojornalista Ricardo Oliveira registraram a entrega de doações realizadas por pessoas a bordo de um carro modelo Chevrolet S10 que abastecia os manifestantes com água e refrigerante.

Homem grava vídeos durante doações para atos antidemocráticos (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

A investigação da placa do veículo mostrou o envolvimento do empresário Ednei Rocha da Silva, dono da Elshaday Variedades e da Planet Pet Shop, empresas localizadas no bairro Armando Mendes, Zona Leste de Manaus.

Empresas registradas em nome de Ednei Rocha da Silva (Reprodução)

A reportagem também teve acesso a um vídeo que mostra uma doação de fardos de água da empresa Tuboaços da Amazônia, que tem como sócios Fabiano Moreira Magalhães, Maria de Fátima Moreira e Sergiani Costa de Alcântara.

Nas imagens, um dos manifestantes declara ser “mais uma doação da Tuboaços“. O participante do ato pede para divulgarem o vídeo. “Compartilha aí que a Tuboaços é nossa amiga“, afirma. Assista a seguir.

Vídeo divulgado entre grupos bolsonaristas mostra doação de fardos de água (Reprodução)

CENARIUM localizou um processo no nome de Fabiano Moreira Magalhães, movido pela Agência Nacional de Minério. De acordo com a ação, Fabiano foi multado por não pagamento ou pagamento fora do prazo legal da Taxa Anual por Hectare (TAH), que com os juros chega a R$ 5 mil.

Consulta ao CNPJ da Tuboaços da Amazônia (Reprodução)

O supermercado Baratão da Carne foi uma das primeiras empresas a realizar doação de alimentos e bebidas para os protestos antidemocráticos em Manaus no dia 11 de novembro. O empresário Edilson Rufino, dono do supermercado, é citado em vídeos em que funcionários aparecem abastecendo um veículo de manifestantes com comidas e bebidas.

Vídeo divulgado em redes sociais da doação do ‘Baratão da Carne’ para manifestantes bolsonaristas (Reprodução/Redes Sociais)

Doações realizadas pela empresa Jumar Indústria Comercio e Serviços Metalúrgicos, que tem como sócios os empresários Sardis Chaves Monteiro Junior e Ladilson Almeida Lima, também foram flagradas pela CENARIUM. Um caminhão carregado com fardos de bebidas foi enviado ao local.

Funcionários de metalúrgica descarregam do caminhão da empresa bebidas para manifestantes (Reprodução)

Um veículo registrado em nome da empresa Portal Vidros também foi flagrado descarregando mantimentos na manifestação antidemocrática no Comando Militar da Amazônia. Registrada nos nomes dos sócios Tulhio Moreira Israel e Luiz Israel da Silva, a caminhonete preta foi vista realizando doações por moradores que enviaram a foto à reportagem.

Foto enviada à Revista Cenarium mostra veículo de loja de vidros realizando doação na manifestação (Reprodução/Revista Cenarium)

Questionados pela CENARIUM, os manifestantes declararam que o ato era um movimento popular liderado pelo povo.

O financiamento de atos antidemocráticos é crime e pode levar à prisão dos doadores identificados. Conforme o Artigo 286 do Código Penal, quem “incita, publicamente, animosidade entre as Forças Armadas, ou delas contra os poderes constitucionais, as instituições civis ou a sociedade” pode ser detido por três a seis meses, ou multado.

Operação da PF

A megaoperação da PF nesta quinta-feira, 8, mirou aliados de primeira hora do ex-presidente Jair Bolsonaro para apurar o que chamou de organização criminosa, responsável por arquitetar uma tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito.

O grupo teria tentado obter vantagem de natureza política com a manutenção do então presidente da República no poder mesmo após derrotado por Lula (PT) nas eleições de 2022. As informações que embasaram a operação foram coletadas na delação do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid.

Entre os alvos da operação estão os ex-ministros de Bolsonaro, general Augusto Heleno (GSI), general Braga Netto (Casa Civil e Defesa), Anderson Torres (Justiça) e o ex-comandante do Exército Paulo Sérgio Nogueira.

Os policiais cumpriram 33 mandados de busca e apreensão e quatro mandados de prisão preventiva em dez Estados e no Distrito Federal (DF). Há, ainda, medidas cautelares como proibição de contatos entre os investigados, retenção de passaportes e destituição de cargos públicos.

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Editado por Adrisa De Góes
Revisado por Adriana Gonzaga