Lula visita Boa Vista neste sábado para conhecer as estruturas de atendimento à saúde indígena no Estado
20 de janeiro de 2023
21:01
Gabriel Abreu – Da Agência Amazônia
MANAUS – O governador de Roraima, Antonio Denarium (Progressistas), confirmou nesta sexta-feira, 20, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estará em Boa Vista neste sábado, 21, para conhecer de perto as estruturas de atendimento à saúde indígena no Estado. A viagem a Roraima será a primeira do presidente da República a um Estado brasileiro depois de empossado. Farão parte da comitiva a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e o do Desenvolvimento Social, Wellington Dias.
Uma equipe do Ministério da Saúde (MS) está na capital e visitou as comunidades indígenas na maior Terra Indígena do País. De acordo com o MS, essa estratégia é usada para restabelecer o acesso à saúde de qualidade aos povos indígenas, já que a região é assolada pela invasão de garimpeiros ilegais.
“O presidente está preocupado com a situação de desnutrição do povo Yanomami e pretende conversar com os órgãos responsáveis pela saúde indígena sobre a questão. Vamos recepcionar a ele e à comitiva, pois a saúde indígena é uma preocupação do presidente e também do governo de Roraima” explicou Denarium.
Duas equipes técnicas atuam na região. Uma está concentrada na capital Boa Vista, trabalhando com o Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Yanomami, a Casa de Saúde Indígena (Casai), Secretaria Estadual de Saúde de Roraima e Secretaria Municipal de Saúde de Boa Vista. A outra, chamada equipe de campo, visita os polos-base de Surucucu e Xitei. Por serem regiões de difícil acesso, a chegada ao local é por via aérea, executada com aeronaves da Força Aérea Brasileira devido à parceria.
No Twitter, o presidente Lula (PT) comentou a ida até o Estado, e considerou absurda situação de desnutrição de crianças Yanomami na região. “Recebemos informações sobre a absurda situação de desnutrição de crianças Yanomami em Roraima. Amanhã viajarei ao Estado para oferecer o suporte do governo federal e, junto com nossos ministros, atuaremos pela garantia da vida de crianças Yanomami“, disse o presidente.
Descaso nas aldeias
Para o líder indígena Júnior Hekurari Yanomami, boa parte desse cenário poderia ser revertida com ações mais robustas do governo federal. Ele relembra a foto de uma criança indígena debilitada e com quadro grave de malária, pneumonia, verminose e desnutrição, publicada por um missionário, no ano passado. Um fiel retrato da falta de assistência e do avanço da fome.
“Aquela imagem mostrada ano passado (…) está na mesma situação [a realidade na Terra Indígena Yanomami]. Nós, indígenas, estamos pedindo. Nós, indígenas, estamos gritando, pedindo socorro. Alguém [precisa] ouvir a nossa voz para salvar a população indígena, a população criança (…) essas crianças precisam ser salvas”, desabafou Júnior Hekurari.
Investigação
Em novembro, a Polícia Federal (PF) deflagrou a Operação Yoasi, com objetivo de investigar um esquema de desvio de recursos públicos federais do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y), no Estado de Roraima (RR). Yoasi, para os Yanomami, é irmão de Omama e responsável pela morte no mundo.
A investigação policial foi instaurada após o recebimento de um inquérito civil conduzido pelo Ministério Público Federal (MPF), que apurou notícias divulgadas pela imprensa que relatavam a falta de medicamentos para malária e verminoses na Terra Indígena Yanomami. As diligências do MPF identificaram, dentre outras irregularidades, o recebimento do vermífugo albendazol em quantidades inferiores ao adquirido pelo órgão.
As suspeitas são que, apenas 30%, de mais de 90 tipos de medicamentos fornecidos por uma das empresas contratadas pelo DSEI-Y, teriam sido devidamente entregues. Com o apoio de agentes públicos, os recebimentos das entregas seriam fraudados e indicariam o cumprimento integral da contratação.
Apenas em relação ao prejuízo para tratamento de verminoses, o esquema implementado no DSEI-Y teria deixado 10.193 crianças desassistidas, resultando no aumento de infecções e manifestações de formas graves da doença, com crianças expelindo vermes pela boca.