Manaus é terceira capital do país mais violenta para população LGBTQIAPN+

Composição: (Paulo Dutra/ Cenarium)

09 de abril de 2024

21:04

Jéssika Caldas – Da Agência Cenarium*

MANAUS (AM) – Dados divulgados em março deste ano pelo Instituto Cidades Sustentáveis (ICS) que mede a desigualdade entre as capitais brasileiras, aponta que Manaus está em terceiro lugar entre as capitais do país com o maior índice de Violência contra a população LGBTQIAPN+. A cidade fica atrás somente das capitais Porto Velho, que está em segundo lugar e de Vitória, no Espírito Santo, primeira colocada.

Conforme o relatório do ICS, foram analisados e comparados dados e indicadores de 26 capitais do país, que trouxeram um recorte da desigualdade entre as capitais. Segundo o sociólogo, Luiz Antônio, essa violência é fruto de um imaginário estrutural na sociedade, que vende a ideia de que pessoas com identidades de gênero fora do modelo tradicional seriam pessoas consideradas ‘anormais’.

“A cidade já está habituada à cultura de violência, uma cidade machista, uma cidade conservadora, que faz o de uso da violência como forma de resolução do conflito, e uma hora ou outra acaba também se espelhando na relação com a população LGBTQIAPN+. Uma vez que essas pessoas são tratadas com menor valor pelo fato de serem diferentes aos olhos da sociedade, é um reflexo estrutural que vem de uma cadeia hereditária. Outro fato também que aumenta o índice de violência é a aceitação da população em relação à morte, como forma de resolver um problema, se eu não gosto dele, se ele me constrange ou se ele me expõe, eu mato”, desctacou o sociólogo.

Conforme o relatório do Observatório de Mortes e Violências LGBTQIPN+ no Brasil, divulgado em 2022, a capital amazonense também apresenta o terceiro maior número de violência LGBTfóbica de todo o país, sendo 3,29 mortes por cada milhão de habitantes na capital. Perdendo apenas para Fortaleza no Ceará, e Maceió, em Alagoas.

Em entrevista a CENARIUM, a presidente do Instituto da Diversidade LGBTQIA+ em Manaus, Bruna Laclose, afirma que a discriminação contra a população começa muita das vezes dentro da própria delegacia e que o Instituto vem com a proposta de combater essas questões com auxílio de advogadas, apoio psicológico e palestras de conscientização.

‘Uma mulher transexual, um gay assumido já possuem problemas na delegacia , porque às vezes a discriminação já começa por lá. As vezes a pessoa que está lá, o escrivão ou a pessoa que está lá para fazer o B.O. não sabe como o atender, às vezes é até discriminado ali mesmo, então não haa política pública voltada para a nossa população, disse Bruna a Cenarium.

Vítima

A atriz e ativista da causa LGBTQIAPN+, Manuella Otto, foi morta em fevereiro de 2021 em um quarto de motel, com tiros pelas costas. O caso aconteceu no bairro Monte das Oliveiras. O suspeito foi identificado como Jeremias da Costa Silva, de 28 anos, preso em fevereiro do mesmo ano.

Jeremias Silva é suspeito da morte de Manuela Otto (Reprodução/Internet)

A defesa de Jeremias na época solicitou habeas corpus para ele responder o crime em liberdade, porém foi negado pelo Superior Tribunal de Justiça em dezembro daquele ano. Uma nota sobre o caso foi solicitada ao Tribunal de Justiça do Amazonas, porém até a divulgação desta matéria não foi respondida

Onde pode ser feita denúncia de uma LGBTfóbia?

O boletim de ocorrência pode ser realizado em qualquer delegacia do Estado pelo motivo de ainda não existir uma unidade policial específica para esses crimes. Os crimes são investigados pela Delegacia Especializada em Ordem Política e Social (Deops).

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Edição: Hector Muniz.