Manaus é uma das capitais com os piores índices de expectativa de vida do País

Mulher em condições precárias na Comunidade da Sharp (Ricardo Oliveira)

04 de abril de 2024

16:04

Jessika Caldas e Carol Veras – Da Agência Cenarium

MANAUS (AM) – A capital amazonense aparece ranqueada na terceira posição, tendo um dos piores indicadores sociais do Brasil, conforme o Mapa da Desigualdade, divulgado pelo Instituto Cidades Sustentáveis (ICS), em março de 2024. Os dados apontam que os manauaras podem viver até os 59 anos. Essa média põe a cidade empatada com Tocantins e à frente de capitais como Amapá e Roraima, que tendem a ter expectativas de vida entre 57 e 58 anos.

Especialistas ouvidos pela AGÊNCIA CENARIUM avaliam as causas que levaram a esse apontamento. Conforme o sociólogo da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Luiz Antônio Nascimento, para calcular a expectativa de vida, vários fatores são levados em conta.

‘Esses fatores que levam à diminuição da expectativa de vida estão ligados objetivamente a variáveis de saúde, por exemplo. O acesso que a população tem ao serviço de saúde, o tempo médio que as populações têm, para serem submetidas às cirurgias, às chamadas filas cirúrgicas, o serviço de trânsito, a qualidade de trânsito e o estresse que as pessoas passam. Então, esse tipo de situação, que a gente vai chamar de qualidade de vida, contribui decisivamente para a qualidade de vida das pessoas e para a longevidade de vida, porque tudo isso vai bater na longevidade’, explicou.

Segundo o Instituto Trata Brasil, Manaus ocupa um dos 20 piores índices em saneamento básico. A rede de esgoto da cidade é de apenas 25,45%. Os números são ainda menores nos indicadores de tratamento de esgoto, apresentando apenas 21,58% de cobertura.

O especialista destaca, que outro fator importante é a alimentação da população, a qualidade de saneamento básico instalado na região onde o cidadão mora.

”Com baixo consumo de grãos, nós comemos pouquíssimos grãos, ricos em nutrientes, em vitaminas, etc. A gente tem uma comida muito pesada, do ponto de vista de carboidratos, que contribui negativamente para a qualidade de saúde, a gente consome uma taxa de um volume de açúcar estrondoso comparado com outros estados, outras populações”, afirmou.

Para Nascimento, os manauenses consomem poucos grãos. (CNA Wenderson Araujo/Trilux)

Atualmente, cerca de 53% da população manauara vivem em condições de moradias favelizadas,  é o que aponta u estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2023.

Na avaliação de Antônio, a situação pode ser revertida se houver um investimento por parte da prefeitura para com os cidadãos, criando possibilidades de mudança do cenário atual, por meio de mais incentivo em áreas coletivas como saúde, transporte e qualidade de vida.

Agora, isso pode ser invertido, isso pode ser modificado? Pode. Mediante políticas públicas, que estimulem a mudança de hábito alimentar, que possam estimular a aquisição de alimentos de melhor qualidade, quando você teve, durante um período que você teve merenda escolar, que acessaram programas de agricultura familiar, as crianças nas escolas públicas“, concluiu

Soluções

Manaus também ocupa a posição de segunda capital com a maior taxa de assassinatos do Brasil, de acordo com a Organização Não Governamental (ONG) mexicana “Seguridad, Justicia y Paz”. Em escala mundial, a capital ocupa a 21ª posição no ranking entre as 50 cidades com maiores taxas de homicídio do planeta. 

Em relação à saúde,o estado do Amazonas enfrenta uma crise. Em dezembro do ano passado (2023) O Ministério Público do Amazonas (MPAM) instaurou um inquérito civil a respeito da atual situação da saúde no Amazonas. A investigação foca na paralisação de serviços médicos não urgentes nos hospitais públicos devido a possível falta de pagamentos. 

Sobre a baixa expectativa de vida no Estado, a atual Coordenadora Estadual da Saúde do Idoso, Jocenir Carvalho, destaca:

“Estamos pesquisando quais as principais fragilidades que acometem os idosos e focando em ações principalmente para o interior. Será realizado um programa de avaliação multidimensional da pessoa idosa ofertado principalmente pela atenção básica de saúde, as UBS, para criação de ações que visem o enfrentamento de dificuldades relacionadas à saúde da pessoa idosa”

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Edição: Hector Muniz