Manaus tem aumento de 1.738% nos casos de dengue em janeiro de 2024

O mosquito Aedes aegypti é responsável pela transmissão de doenças como dengue, zika e chikungunya (Reprodução/Pixabay)

30 de janeiro de 2024

21:01

João Felipe Serrão – Da Agência Cenarium

MANAUS (AM) – O início de 2024 tem sido marcado por um surto de dengue em Manaus. O Boletim de Arboviroses divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) mostrou que, até o dia 27 deste mês, a capital amazonense registrou 809 casos da doença. O número representa um aumento de 1.738% em relação a janeiro do ano passado, quando Manaus contabilizou 44 casos de dengue em todo o mês.

Na última semana, os casos mais que dobraram. O cenário epidemiológico fez a Semsa colocar Manaus em estado de alerta. Em nota divulgada no último fim de semana, a pasta afirmou que “as equipes da Semsa estão mobilizadas e a secretaria, em articulação com outras instituições, realiza ações de prevenção e controle das arboviroses (dengue, zika e chikungunya) para evitar o aumento de casos”.

Dados da Semsa mostram explosão de casos (Reprodução/Semsa)

A situação em Manaus acompanha o cenário estadual e nacional de aumento nos casos de dengue. De acordo com o boletim epidemiológico divulgado pela Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), até o dia 25 de janeiro, o Estado registrou 3.934 casos de dengue. Nenhum óbito pela doença foi registrado, no período, no Amazonas. 

No Brasil, mais de 217 mil casos já foram notificados, segundo dados do Ministério da Saúde (MS) divulgados nesta terça-feira, 30. O número é quase cinco vezes maior do que o registrado no mesmo período do ano passado, quando 44.752 notificações foram feitas. O Ministério da Saúde estima que o País pode registrar 1.960.460 casos de dengue em 2024. 

Mudanças climáticas

A pasta informou que o aumento de casos está relacionado com a crise climática, que envolve a combinação entre ondas de calor excessivas e chuvas intensas resultante dos efeitos do fenômeno El Niño. 

O MS também afirmou que a alta tem influências sorotipos DENV-3 e DENV-4, do vírus da dengue, que voltaram a circular no País. Em dezembro do ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) destacou que as mudanças climáticas têm colaborado para que a dengue se torne uma ameaça global. 

A líder da equipe da OMS sobre arbovírus, Diana Rojas Alvarez, disse que a ameaça exige “a máxima atenção e resposta em todos os níveis”“As mudanças climáticas têm impacto na transmissão da dengue porque aumentam as chuvas, a umidade e a temperatura”, disse ela.

Alvarez pontuou que, normalmente, a Europa relata “casos importados” das regiões endêmicas”, mas neste ano foram identificados conjuntos de casos relacionados com transmissão local, inclusive, porque “os verões estão cada vez mais quentes”.

Vacina

Segundo o Ministério da Saúde, a distribuição da vacina contra a dengue, a “Qdenga”, deve iniciar na segunda semana de fevereiro para 521 municípios brasileiros.

Doze municípios do Amazonas vão receber a vacina, segundo a pasta. São eles: Manaus, Iranduba, Presidente Figueiredo, Rio Preto da Eva, Barcelos, São Gabriel da Cachoeira, Careiro, Nova Olinda do Norte, Manaquiri, Santa Isabel do Rio Negro, Autazes e Careiro da Várzea.

A vacina para dengue, ‘Qdenga’, que será distribuída pelo SUS (Divulgação/Takeda)

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, disse nesta terça-feira que as doses ainda não começaram a ser entregues em razão de uma exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a ser cumprida pelo laboratório Takeda, responsável pela produção do imunizante.

“Ainda não iniciamos essa distribuição porque há uma exigência e ela tem que ser cumprida pelo laboratório produtor. É uma exigência regulatória da Anvisa que a bula esteja em português. Estamos finalizando esse processo”, explicou Nísia.

A faixa etária prioritária será a de crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, pelo fato do grupo concentrar um dos maiores números de hospitalizações por dengue.

De acordo com o Ministério da Saúde, de janeiro de 2019 a novembro de 2023, a faixa etária respondeu por 16,4 mil hospitalizações, atrás apenas dos idosos, grupo para o qual a vacina não foi autorizada. O esquema vacinal será composto por duas doses, com intervalo de três meses entre elas.

Painel dos Estados que receberão as primeiras doses da vacina contra a dengue (Reprodução/Agência Brasil)
Dengue

A dengue é uma doença infecciosa febril aguda, que pode se apresentar de forma benigna ou grave, dependendo de alguns fatores, como o vírus envolvido, infecção anterior pelo vírus da dengue e fatores individuais como doenças crônicas (diabetes, asma brônquica e anemia falciforme).

As autoridades sanitárias orientam que a melhor forma de evitar a dengue é combater os focos de acúmulo de água, locais propícios para a criação do mosquito transmissor da doença. De acordo com a FVS-AM, 66% dos depósitos das larvas do mosquito poderiam ser eliminados com vistoria semanal.

A orientação é a adoção da lista de verificações (check-list) semanal, de 10 minutos de duração, de modo que a população possa agir para identificar os possíveis criadouros, como garrafas, vasos de plantas, pneus, bebedouros de animais, sacos plásticos, lixeiras, tambores e caixas d’água.

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Editado por Jefferson Ramos
Revisado por Adriana Gonzaga