Moradores do Rio Madeira têm mercúrio no organismo três vezes maior que limite admissível, aponta laudo
15 de dezembro de 2021
18:12
Bruno Pacheco — Da Revista Cenarium
MANAUS — Um laudo da Polícia Federal (PF) apontou, nesta quarta-feira, 15, que o mercúrio no organismo de moradores do Rio Madeira, no Amazonas, é três vezes maior que o limite considerado admissível pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os dados surgem após balsas e dragas de garimpo invadirem a região, em novembro deste ano, em busca da exploração ilegal de ouro.
O documento obtido pela REVISTA CENARIUM trata sobre a primeira fase da Operação ‘Uiara’, onde três garimpeiros foram presos e 131 balsas foram destruídas, em uma ação deflagrada pela Polícia Federal. O laudo mostra que as informações foram detectadas por meio de amostras de cabelo de moradores do rio. Os agentes também coletaram materiais das balsas, da água do Rio Madeira e de folhas que estavam nas margens do rio e nas imediações das embarcações.
A região vem sendo invadida por garimpeiros há, pelo menos, um mês. Balsas enfileiradas de garimpo chegaram a formar uma “vila flutuante” na região dos municípios de Autazes e Nova Olinda do Norte, no interior do Amazonas. A invasão dos garimpeiros foi registrada pelo Greenpeace Brasil num sobrevoo no dia 23 de novembro.
Autoridades brasileiras, contudo, já tinham imagens de satélite há pelo menos um mês antes do registro do Greenpeace, mostrando a formação da vila fluvial de garimpeiros. Após a notícia sobre a invasão começar viralizar pelo País, as embarcações se dispersaram no dia 26 de novembro, em meio ao anúncio de uma operação da Polícia Federal.
Laudo
De acordo com o laudo, o nível de mercúrio na água do Rio Madeira é de 15 a 95 vezes maior ao considerado aceitável como máximo para consumo e uso recreativo. As amostras de cabelo foram coletadas das comunidades ribeirinhas Remanso e Rosarinho. Segundo o documento, todas as amostras relacionadas diretamente ao garimpo foram coletadas em balsas que operavam próximas ao município de Nova Olinda do Norte.
Conforme o relatório, dos materiais analisados, 85% apresentaram indícios de contaminação pelo elemento mercúrio. “As amostras da água e sedimento demonstram fortes indícios de contaminação ambiental e confirmam o lançamento de contaminantes a partir das balsas, correados para o meio ambiente mediante os materiais utilizados no processo de exploração do ouro e principalmente no rejeito da atividade”, mostra trecho do documento.
As amostras de folhas indicam que pode haver contaminação da vegetação às margens do Rio Madeira. Segundo o laudo, a presença de mercúrio nas folhas pode ser indicativa que o metal está sendo dispersado pela atmosfera e se precipitando no entorno do rio, podendo alcançar pequenas lavouras. “As amostras de cabelo advertem que as populações ribeirinhas estão consumindo água e/ou alimentos contaminados e concentrando nos seus tecidos o metal pesado”, diz outro trecho do laudo.
Operação
Nesta quarta-feira, 15, a PF e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) deflagraram a segunda fase da Operação ‘Uiara II’, que tem por objetivo identificar, abordar e inutilizar balsas e dragas que operam a atividade de garimpo ilegal de ouro na calha do Rio Madeira, no Amazonas. Esta fase da operação acontece em Borba (a 159 quilômetros de Manaus).
Veja também: PF e Ibama deflagram nova fase de operação contra garimpo ilegal no Rio Madeira
Em nota, a PF esclareceu que toda atividade de lavra de ouro no Rio Madeira é ilegal e que, portanto, as ações com o objetivo de desocupar a hidrovia continuarão a ser realizadas, assim como serão estendidas em 2022 a outras regiões de garimpo ilegal detectadas no Amazonas.
Confira o laudo na íntegra: