23 de maio de 2023

20:05

Adrisa De Góes – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – “Cadê os defensores da causa animal, que não defende o macaco?”. A frase foi proferida pelo senador Magno Malta (PL-ES) nesta terça-feira, 23, durante audiência da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), ao comentar o racismo sofrido pelo atacante do Real Madrid Vinicius Jr., na Espanha. O parlamentar classificou o caso como “revitimização” e disse que a cobertura da imprensa tem intuito de ganhar audiência.

A ativista da causa negra e integrante do Instituo Nacional Afro Origem Hariany Campelo disse que a declaração não pode ser ignorada, pois endossa o discurso a quem compactua e trata o tema como humor. Ela ressalta que, num passado não muito distante do cenário político brasileiro, “proferir tais sandices levava políticos improdutivos ao cargo mais alto do Executivo neste País”.

“Nós, que repudiamos, precisamos manifestar que o racismo e a injúria racial são crimes que ferem de morte mulheres e homens e meninas e meninos pretos em nosso País. Quando vindas de um senador da República se intensifica, pois legitima as convicções criminosas daqueles que o elegeram. Portanto, ele representa uma parcela racista da população brasileira e encoraja que o racismo e a injúria racial sejam vistos como ‘liberdade de expressão’”, destaca.

De acordo com a advogada e ativista do movimento negro Luciana Santos, a fala do parlamentar desqualifica episódios racistas. Para ela, a atitude do senador, que também é um homem negro, em banalizar o caso, exprime a própria falta de letramento racial e corrobora teorias que respaldam o sistema colonial escravagista e o eurocentrismo.

“O parlamentar utiliza de seu mandato para minimizar um crime grave e que precisa, sim, ser denunciado. Ao fazer essa fala, ele demonstra que está ao lado daqueles que se utilizam do racismo para manter seus privilégios, em detrimento dos direitos daqueles que representam a maioria da população brasileira”, argumenta.

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‘Emissoras ficam revitimizando’

A declaração do senador do Espírito Santo começou com críticas à repercussão na imprensa sobre o caso de racismo sofrido pelo jogador brasileiro Vinicius Jr. “O mais triste, para mim, é que as emissoras ficam com esse assunto desde ontem, reverberando, revitimizando ele, porque o assunto dá ibope para eles ganharem mais patrocinadores. É uma descaração isso”, inicia.

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O parlamentar continua: “(…) Você só pode matar uma coisa com o veneno de alguma coisa. Então, é o seguinte, cadê os defensores da causa animal, que não defendem o macaco? O macaco está exposto. Veja quanta hipocrisia. Eu, se fosse um jogador negro, eu entrava em campo com uma leitoinha [leitoa] branca, nos braços, e ainda dava um beijo nela, falava assim: ‘Olha, como eu não tenho nada contra branco?’”, disse.

Racismo contra Vini Jr.

No último domingo, 21, o jogador brasileiro Vini Jr., 22, foi vítima de insultos racistas durante a derrota do Real Madrid para o Valencia por 1 a 0. Parte da torcida começou a chamar o atacante de “macaco”. O jogo precisou ser paralisado por oito minutos e, em seguida, o atleta acabou expulso após se envolver em uma confusão.

Durante o episódio em questão, Vini Jr. identificou um dos torcedores que o insultava, se aproximou do indivíduo e apontou para ele, no momento em que chamou o árbitro para se dirigir até o local, porém não teve êxito. A disputa foi imediatamente parada e o sistema de som do estádio informou que a partida seria retomada assim que os gritos cessassem. O jogo retornou com a presença da polícia.

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