No AM, empresa de parente de prefeito fatura milhões com domínio de ingressos para Festival de Parintins

À esquerda, prefeito de Parintins, Bi Garcia, e à direita, o irmão e diretor-presidente da Amazon Best, Valdo Garcia (Mateus Moura/CENARIUM)

29 de janeiro de 2023

16:01

Paula Litaiff – Da Agência Amazônia

MANAUS – A Amazon Best (AB), que tem entre os sócios Geyna Brelaz, cunhada do prefeito de Parintins, Bi Garcia (União), tem o monopólio da venda dos ingressos do Festival Folclórico dos Bois-Bumbás Caprichoso e Garantido e deve faturar mais de R$ 5 milhões com a perspectiva de venda dos passaportes para os três dias do evento, neste ano, com valores que equivalem a um salário-mínimo (R$ 1.302). Geyna é esposa do empresário Valdo Garcia, representante da empresa AB.

Patrimônio Cultural Imaterial do Amazonas, o Festival de Parintins torna-se inacessível para a maioria das famílias, considerando que a média da renda familiar brasileira é de R$ 1.353 mensais, conforme a série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

O contrato de exclusividade da Amazon Best para venda dos passaportes para o festival não está aberto à sociedade. A reportagem da REVISTA CENARIUM apurou que o contrato de monopólio da Amazon Best é fechado diretamente com os presidentes dos bois Caprichoso e Garantido. Os dirigentes não se manifestam sobre o assunto.

No ano passado, os presidentes dos bumbás receberam mais de R$ 10 milhões em verba pública para a realização do evento. A aplicação da verba virou alvo de investigação do Ministério Público do Amazonas (MP-AM).

Leia também: Procon-AM suspende vendas de ingressos para Festival de Parintins 2023 após falha no sistema da Amazon Best

Dados da Receita Federal apontam a cunhada de Bi Garcia como uma das sócias da Amazon Best (Reprodução)

Faturamento obscuro

Sem mostrar critérios de composição de preço e como foi beneficiada com os lugares, a Amazon Best disponibilizou um mapa de comercialização de espaços para três dias do festival no bumbódromo. Foram colocados à venda 4.492 espaços, além dos 50 camarotes que a empresa não dá transparência para comercialização. O bumbódromo tem capacidade para 35 mil pessoas, dos quais quase 20 mil espaços são destinados à venda.

Valores dos ingressos para as arquibancadas e cadeiras tipo 1 e 2 (Thiago Alencar/CENARIUM)

Na divisão do mapa da Amazon Best, há 3.306 passaportes para a “arquibancada especial” ao preço unitário de R$ 1.145, que totalizam o faturamento de R$ 3.785.370; 592 passaportes para a “arquibancada central”, com o valor de R$ 1.495, que somam R$ 885.040; 282 ingressos para a “cadeira tipo 2”, com o preço de R$ 980, que contabilizam R$ 276.360.

Já 312 passaportes para a “cadeira tipo 1” possuem o valor unitário de R$ 1.180 que, juntos, fazem R$ 368.160. Se todos os ingressos forem vendidos – como ocorre todo o ano – a Amazon Best fatura um total de R$ 5.314.930. A situação dos outros 15.508 lugares do bumbódromo não foi explicada pela empresa nem pela Prefeitura de Parintins.

Mapa de venda de ingressos da Amazon Best, em 2023, gerou intervenção do Procon-AM (Reprodução)

A Amazon Best entrou no festival a partir do terceiro mandato do prefeito Bi Garcia, em 2017. O prefeito foi eleito para o primeiro mandato em 2004. Em 2008, foi reeleito. Saiu em 2012 e retornou eleito em 2016. Em 2020, disputou a reeleição e foi, novamente, reconduzido ao cargo de prefeito.

Ticketeira que comercializa ingressos para o Festival de Parintins há quase seis anos, antes a operação era realizada pela Tucunaré Turismo, a atual vendedora dos ingressos do festival existe desde 1999, mas passou a operar, tecnicamente, em 2005.

Bumbódromo de Parintins oferece aos visitantes cadeiras especiais, arquibancadas para turistas, camarotes e frisas (Reprodução/Almadeviajante)

Procon e MP-AM

O primeiro dia de abertura de vendas dos ingressos para o Festival Folclórico de Parintins, na semana passada, foi marcado por desentendimentos, confusão e a participação de agentes do Procon-AM e da Polícia Militar do Amazonas (PM-AM). O motivo foi um problema no sistema, que não disponibilizou acesso on-line para a venda dos passaportes, obrigando-os a ir até a sede da Amazon Best, localizada na rua Nova Prata, N° 225, Conjunto Vieiralves, bairro Nossa Senhora das Graças.

Em 2017, de acordo com o Portal Parintins Amazonas, o Ministério Público do Estado (MP-AM) questionou os bumbás Garantido e Caprichoso a fim de que eles informassem quais os critérios para a escolha da empresa Amazon Best na comercialização dos ingressos do festival em detrimento de outras empresas.

O MP-AM também questionou a ausência de licitação. À época, a promotora pública Carolina Monteiro Chagas Maia declarou: “Importa salientar a urgência em prestar esclarecimentos, pois, segundo informações, a referida empresa já estaria realizando a venda de ingressos para o festival 2017”. Passados seis anos, o Ministério Público do Amazonas não se manifestou, publicamente, sobre o assunto.

Sem transparência

Questionada pela reportagem da CENARIUM quanto à atuação da empresa Amazon Best até o fim do mandato do atual prefeito da cidade, Frank Bi Garcia, a Prefeitura de Parintins respondeu que o contrato é firmado com os bois bumbás Caprichoso e Garantido.

Nos sites de Caprichoso e Garantido não há transparência da venda dos ingressos e nem o que levou a escolha da Amazon Best. A empresa foi procurada para falar sobre o assunto e disponibilizou apenas o mapa dos espaços dos assentos do bumbódromo e os valores dos ingressos. A reportagem solicitou o documento e detalhes sobre percentuais repassados aos bois pela Amazon Best, mas não obteve retorno.

Segundo a Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (SEC), os ingressos são de responsabilidade da ticketeira, a Amazon Best, que tem um contrato com os bois. A Secretaria de Estado e Economia Criativa informou que apoia os bumbás e viabiliza