No AM, ‘famílias cosplayers’ fazem sucesso e veem oportunidade de negócio se fantasiando para eventos geeks

Famílias aderem ao universo Cosplay e ganham renda extra em Manaus (Arquivo Pessoal)

21 de agosto de 2022

17:08

Bruno Pacheco – Da Agência Amazônia

MANAUS – Um setor cada vez mais lucrativo, o universo cosplay tem ganhado adeptos em Manaus com famílias que veem nas fantasias a oportunidade para fazer negócio e garantir uma renda extra ou, até mesmo, apenas diversão. No mercado geek, que movimenta mais de R$ 138 bilhões por ano no Brasil, segundo um estudo da empresa japonesa Rakuten Digital Commerce, se caracterizar de personagens de histórias em quadrinho, cinema ou animes se tornou em uma febre no País.

A digital influencer e apresentadora Kamy Marçal, de 30 anos, faz cosplay há 14 anos, em Manaus. Ela conta, no entanto, que a paixão por esse universo surgiu ainda criança, pois o pai dela gostava das fantasias. “Isso intensificou quando eu conheci meu namorado (atual marido) que também gostava desse universo e me mostrou animes que eu nunca tinha assistido antes”, destaca.

Kamy Marçal e o marido, David Marçal (Arquivo Pessoal)

Na primeira vez que Kamy se apresentou como cosplay, em 2008, ela lembra que ficou com vergonha de se fantasiar. Na época, a influencer estagiava em banco e tinha medo se alguém a reconhecesse. Com o tempo, a vergonha e a timidez foi passando e jovem conseguiu se acostumar com os olhares das pessoas para ela e sua caracterização.

“Na adolescência eu ia em bastantes eventos, via os cosplayers e achava incrível. Mas eu tinha muita vergonha, até que minha mãe disse que ela costuraria o meu cosplay e foi aí que tudo começou. Já fiz vários personagens, Bulma, Vegeta de Dragon Ball Z, Umi Sonoda de Love Live, Darth Maul de Star Wars e outros. Ao todo foram 42 cosplayers que fiz até hoje”, reforça.

Kamy Marçal de cosplay de Ravena, personagem do desenho Jovens Titãs (Arquivo Pessoal)

No princípio, Kamy Marçal participava de eventos por diversão, mas quando ela percebeu que o hobby poderia lhe ajudar financeiramente, se fantasiar se tornou mais frequente. Atualmente, a renda com o cosplay faz parte de 80% da renda familiar dela. “Isso não contando somente com os eventos, mas com as redes sociais também que foi o que salvou muitas vezes a gente na pandemia”, salienta.

Segundo a influencer, dependendo do material usado, ela gasta entre R$70 nas fantasias com poucos acessórios a R$550 nos mais trabalhados. “Lembrando que existem cosplayers que valem muito mais e têm os casos que a gente faz e nem contabiliza, o que é a maioria das vezes. Mas eu prefiro fazer eu mesma, porque sai mais em conta e eu tenho sempre ajuda da mamãe na costura”, frisou.

Paixão de família

A paixão pelo universo geek também é compartilhada pela família de Kamy. Assim como ela, o marido David Marçal, de 32 anos, e o filho Nero Marçal, de 8 anos, participam de eventos com cosplay. “Geralmente eles vão para curtir o evento, fazer as comprinhas nas feirinhas geek e participar dos desfiles”, explica a influencer.

Kami, David e o filho Nero Marçal (Arquivo Pessoal)

Segundo a influencer, o filho chegou até a ganhar concursos ao participar de eventos geeks. “Ele é sempre o mais empolgado e ele é o mais exigente com os cosplays dele. Ele já ganhou seis concursos cosplay e dois concursos fantasias de Halloween”, citou.

Para David, fazer cosplay rende bons momentos em família, já que a correria do dia a dia não permite. “Sem dúvidas, nós brincamos juntos e acabamos participando da infância do nosso filho e tudo registrado não só por nós como por todos.”, enfatiza.

Davi e o filho Nero (Arquivo Pessoal)

“É legal. Conforme ele vai crescendo, a gente acaba ganhando mais um parceiro. Ele também tem coisas que só ele gosta. Outro dia, ele começou a jogar futebol de salão, tivemos que comprar calçado apropriado, tive que aprender sobre para não fazer besteira”, brinca.

David conta, ainda, que sempre gostou do universo cosplay, mas não se imaginava se fantasiando. “Recentemente, comecei a receber proposta dos eventos que a Kamy vai para apresentar para montar mesa de boardgame, que ambos gostamos. O que era um hobbie, agora traz dinheiro para dentro de casa”, destaca.

De Pai para Filha

spotter Wangles Saraiva de Oliveira, de 42 anos, é pai da Isabela Bezerra de Oliveira, de 4 anos. Juntos, eles fazem de Tanjiro e Nezuko Kamado, personagens de uma série japonesa de mangá e anime chamada Demon Slayer, que se popularizou no Brasil nos últimos anos e ganhou o público jovem e adulto. O fotógrafo destaca que é fã desde a extinta TV Manchete, que exibia os seriados japoneses em sua grade de programação.

Wangles Saraiva de Oliveira, de 42 anos, com a filha Isabela Bezerra de Oliveira, de 4 anos (Bruno Pacheco/Cenarium)

“Eu sou da geração dos anos 1980. Vi Spectreman e a evolução dos seriados japoneses, como o Sadman, Jaspion, Lion… e sempre gostei. Mas a minha geração não tinha internet e a gente sempre acompanhava o que surgia nas emissoras, como a TV Manchete, que trouxe esse universo. Desde aí, surgiu [a paixão] e sempre tentei me envolver”, lembrou.

Em 2010, Wangles se casou com Andreza Bezerra e formou uma família também apaixonada pelo universo geek. O spotter lembra que a primeira fantasia dele foi do icônico He-Man, personagem principal da linha de brinquedos Masters of the Universe, da Mattel. O fotógrafo também fez outros cosplayers como Freddy Krueger, de A Hora do Pesadelo, Jason Voorhees, de Sexta-Feira 13, e Halloween Ends.

A ideia de fazer cosplay com a filha, Isabella, segundo Wangles Oliveira, surgiu como uma brincadeira, mas recebeu o apoio da mãe. Os materiais foram comprados e adaptados ao tamanho da menina, que ganhou a companhia do pai na caracterização.

Isabela, de 4 anos, é cosplay de Nezuko Kamado (Arquivo Pessoal)

Há pouco mais de um ano, em maio de 2021, Wangles foi operado de um edema Subdural craniano e ganhou uma nova chance de viver. À REVISTA CENARIUM, o spotter afirma que fazer cosplay com a filha e receber o apoio de toda a família é inimaginável e emocionante.

“É muita emoção. Vocês não têm ideia de como é legal as pessoas quererem tirar fotos com a gente e a gente eternizar, incorporar o personagem. Com a família envolvida é muito melhor. A minha esposa é staff, fica nos bastidores ajudando a gente, e eu com a Isabella fazemos o show”, salientou o spotter.

Pai e filha se fantasiam juntos (Arquivo Pessoal)

Os gastos com as fantasias giram em torno de R$ 200 a R$ 500 por vestimenta e acessório, sem contar a própria mão de obra. Até o momento, Wangles de Oliveira afirma que faz cosplay apenas por diversão e amor o universo geek e dos animes, mas destaca que está de portas abertas para convites para participar de eventos e festas.