Pai de filhas soterradas desmente Prefeitura e diz: ‘Era o senhor que estava lá?’

As três filhas de Andrew Henrique foram salvas pela tia, e o pai considera que no dia de seu aniversário a vida delas foi seu maior presente (Ricardo Oliveira/AGÊNCIA AMAZÔNIA)

26 de março de 2023

13:03

Mencius Melo – Da Agência Amazônia

MANAUS – No dia em que completou 29 anos, Andrew Henrique, morador do beco Joana Darc, próximo à rua Projetada, sem número, bairro Armando Mendes, viveu um dos piores dias da vida. Ele declarou à REVISTA CENARIUM“Meu maior presente é elas estarem aqui porque, hoje, eu não poderia estar comemorando o meu aniversário com as minhas filhas e, sim, o velório delas”, declarou. Andrew é uma das vítimas que sofreu com as fortes chuvas que atingiram Manaus na madrugada do sábado, 25. Revoltado, ele desmentiu o secretário da Defesa Civil de Manaus, Fernando Júnior: “O secretário veio afirmar que não tinha ninguém soterrado, eu falei na cara dele: era o senhor que estava lá?”, questionou o autônomo.

O autônomo Andrew Henrique foi umas das vítimas do desabamento que aconteceu no bairro Armando Mendes, na madrugada de sábado, durante o temporal que caiu sobre Manaus. Suas três filhas foram resgatadas pela cunhada dele. “Meu maior presente é elas estarem aqui, não só elas, como minha esposa, minha cunhada. Eu nasci de novo”, afirmou Andrew.

Moradores perderam inúmeros pertences, mas comemoram o fato de não haver vítimas fatais no desabamento do bairro Armando Mendes (Ricardo Oliveira/AGÊNCIA AMAZÔNIA)

Adriely Cunha, mãe das três meninas, recordou os momentos de terror: “Na hora da chuva, a gente só sabia orar porque é aquilo, né? A gente pensa que nunca vai acontecer com a gente. Mas, aconteceu e eu estava sem esperança de que elas sairiam vivas”, comentou. Ela deu detalhes sobre o ocorrido: “A minha irmã e meu esposo conseguiram tirar a coluna de cima da gente e, nesse momento, tentei cavar, mas fiquei sem forças, sem saber o que fazer, e foi quando eu vi a minha filha mais nova com parte do corpo preso nos escombros, e ela só me olhava, ela não chorava”, recordou. “Quando, finalmente, sai, corri para a casa da minha mãe pedindo socorro”, relatou. “Eu achava que morando ali nós estávamos seguros e, quando aconteceu, eu lembrei do que aconteceu no Jorge Teixeira”, relembrou Adriely.

Adelmo Matos, 52 anos, avô das duas crianças, agradeceu: “Eu estava no trabalho quando meu telefone tocou, era minha filha ligando dizendo que a casa da Adrielly havia desabado com as meninas embaixo”, recordou. “Estava chovendo no Distrito Industrial e peguei um engarrafamento enorme. Quando cheguei lá, meu cunhado tinha resgatado e já havia salvado as meninas”, explicou. Sobre as perdas materiais ele disse: “Geladeira, fogão, ar condicionado, a gente compra tudo de novo”, comentou. “Hoje, estou aliviado, tenho 34 anos de profissão, já perdi e recomecei de novo”, ponderou.

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Casas em escombros e muitos destroços, esse foi o resultado das fortes chuvas que caíram sobre Manaus durante a madrugada de sábado (Ricardo Oliveira/AGÊNCIA AMAZÔNIA)

Heroína

Responsável direta pelo resgate das três meninas, Bárbara Coelho, tia das crianças, declarou: “A parede caiu e a mais nova ficou presa, até a parte do pé, a do meio estava presa, de lado, com os bracinhos para fora, e a mais velha ficou muito embaixo dos escombros”, relembrou. “Eu não pensava outra coisa que não fosse tirar as meninas de lá. Essa foi a minha única reação, eu não conseguia mais pensar em outra coisa”, declarou Bárbara.

Diante da quase fatalidade, Bárbara Coelho declarou: “Não imagino minha irmã sem as filhas dela, porque elas são tudo para ela, assim como meus filhos são tudo para mim. Só tenho a agradecer. Está sendo difícil, durante a noite, porque qualquer barulhinho a gente já pensa que é o estalo de parede ruindo”, afirmou. “Mas, eu sei que vamos ficar bem, porque o que importava naquela hora era a vida das crianças”, destacou.

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