Parlamentares alegam ‘conspiração’ em pedido de cassação de vereador preso por estupro

À esquerda, João Paulo Pichek (Republicanos), ao centro, Valdomiro Corá (MDB), acima, Lauro Costa Kloch (PSD) e à direita, doutor Paulo Henrique (PTB) (Montagem: Thiago Alencar)

09 de maio de 2023

07:05

Iury Lima – Da Revista Cenarium

VILHENA (RO) – O Partido Socialista Brasileiro (PSB) apresentou nesta segunda-feira, 8, à Câmara de Vereadores de Cacoal, no interior de Rondônia, pedido de cassação do mandato do parlamentar Lauro Costa Kloch (PSD), acusado de estuprar uma menina de 13 anos. Durante sessão ordinária, parte dos parlamentares classificou o documento como uma conspiração política.

Colegas vereadores de Lauro, também conhecido como “Garçom do Semáforo”, criticaram a atitude da presidência do partido e falaram em conspiração política. Lauro está preso desde o último dia 2 de maio, quando foi transferido do presídio de Cacoal para a capital Porto Velho, na quinta-feira, 4.

Segundo o procurador jurídico da Câmara de Cacoal, Abdiel Afonso Figueira, o político está detido em uma sala de correição da Polícia Militar de Rondônia (PMRO), uma espécie de Sala de Estado Maior. De acordo com os autos da Justiça, o crime de estupro de vulnerável aconteceu em 2014, na cidade de Itapuã do Oeste (RO), e o processo tramita sob sigilo.

O vereador de Cacoal (RO), Lauro Costa Kloch (PSD), acusado de estupro de vulnerável (Reprodução/Acervo Pessoal)

Conspiração

O vereador João Paulo Pichek (Republicanos) usou os dez minutos concedidos na tribuna da Casa Legislativa para levantar hipóteses em defesa do colega de poder. “Quero muito acreditar que isso tudo não seja uma conspiração política para mexer as peças do tabuleiro e fortalecer ainda mais a base do prefeito [Adailton Fúria, também do PSD], disse Pichek. “Porque só quem está nos bastidores sabe o que acontece“, complementou o vereador. 

Ele acredita que o caso seja complô, uma vez que, com a saída do vereador investigado, Pedro Rabelo, o 1° suplente do PSD na Câmara e ex-vereador da cidade, deve assumir a vaga. O suplente do partido trabalha como chefe de gabinete do deputado estadual Cássio Gois (PSD), que deixou o cargo de vice-prefeito de Cacoal para compor a nova legislatura da Assembleia Legislativa (Ale-RO).

Vereador de Cacoal pelo Republicanos, João Paulo Pichek, na tribuna da Câmara Municipal (Reprodução/Câmara Municipal de Cacoal)

Documento ‘infundado’

Doutor Paulo Henrique (PTB) criticou a qualidade técnica da petição apresentada pelo PSB. “É vergonhosa uma petição dessa, sem ao menos conhecer o processo e muito menos, sem trânsito em julgado (…) acho que ele pegou de alguém, isso aqui [documento], e assinou. Por que como eu vou pedir a quebra de decoro parlamentar se não tem sentença? Qual decoro o parlamentar quebrou, se todos os atos que nós estamos tratando são de 2013?”, questionou. 

Paulo Henrique afirmou ainda que teve acesso ao processo que corre em segredo de Justiça e defendeu a inocência do colega. Paulo também comparou repercussão do caso a uma espécie de linchamento público. “É mais um exemplo de julgamento de reputações por fake news de redes sociais, sem critério ético, jurídico, social ou científico”, disparou.

O advogado e vereador doutor Paulo Henrique (PTB), na tribuna da Câmara (Reprodução/Câmara Municipal de Cacoal)

Tudo por um cargo

O vereador Valdomiro Corá (MDB), conhecido como “Corazinho” é outro defensor de Lauro Kloch. Ele disse que o presidente do PSB, em Cacoal, Antonio Carlos dos Santos Junior, o “Toninho do Jornal”, corrobora com a ideia de conspiração no legislativo. “Aqui, se algum suplente pudesse matar um vereador e ninguém descobrisse, eles matariam [sic], declarou na tribuna.

“Eu mesmo, meu Deus do céu, se fosse para me cassar, já tinham me cassado umas 200 vezes. Quantas vezes eu já fui para a ‘gaiola’, já fui preso, sem dever nada? (…) Saí de lá e o povo me elegeu de novo”, disse, ainda, Valdomiro Corá.

O vereador de Cacoal, que também saiu em defesa de Lauro Kloch, Valdomiro Corá (MDB) (Reprodução/Câmara Municipal de Cacoal)

Presidente rebate

Presidente do PSB em Cacoal, Antonio Carlos dos Santos Junior rebateu as afirmações dos parlamentares, logo após o fim da sessão. À CENARIUM, ele negou a existência de uma manobra política. “Nós tomamos essa iniciativa por entender que o fato tem desonrado a imagem da Câmara, por entendermos a magnitude que esse tema tomou”, disse.

“Tudo o que foi dito no documento não foi inventado. Nós estamos, simplesmente, pegando o que ocorreu e anexamos com base nos dispositivos legais que nos amparam (…) o que eu posso dizer é que, em relação ao pedido que nós protocolamos, não há nenhuma relação com jogo político”, afirmou Toninho do Jornal.

“A polícia inventou isso? Ele [Lauro] está preso por que o caso foi inventado? Encaminhamos a petição ao presidente da Câmara e esperamos que ele encaminhe à Comissão de Ética para fazer a análise”, concluiu.

O presidente do PSB em Cacoal (RO), Antonio Carlos dos Santos Junior, o ‘Toninho do Jornal’ (Reprodução/Acervo Pessoal)

Parecer

Em nota enviada à CENARIUM, o presidente da Câmara de Cacoal, Magnison Mota (PSC), afirma que a Procuradoria Jurídica do Legislativo ainda vai emitir um parecer, referente ao pedido de cassação, protocolado pelo PSB. Os parlamentares do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar também devem votar um parecer que vai definir ou não a cassação do político.

Ainda conforme a nota, a Câmara não pode se manifestar sobre os fatos por “se tratar de processo que tramita em segredo de Justiça”, mas que “todas as medidas em relação à prerrogativa jurídica de direito do parlamentar Lauro Kloch estão sendo oferecidas”.

Foto da época em que o vereador Lauro Costa Kloch vendia água e outros produtos nas ruas de Cacoal (RO) (Reprodução/Acervo Pessoal)

O caso

A Polícia Civil (PC) prendeu Lauro Kloch por suspeita de crime de estupro de vulnerável, após Sessão Ordinária na Câmara dos Vereadores. O crime aconteceu há quase uma década, em 2014. Na época, a vítima tinha 13 anos. O estupro de vulnerável é um crime que possui pena máxima de até 15 anos em reclusão.

Aos 25 anos, Lauro Costa Kloch ficou conhecido como “Garçom do Semáforo” por trabalhar vestido de acordo com a profissão, vendendo água mineral, água de coco e outros itens em ruas e avenidas de Cacoal, no interior do Estado.

Kloch foi eleito como o sétimo vereador mais votado na cidade, em 2020, com cerca de 700 votos. No ano passado, também foi eleito suplente para a Assembleia Legislativa de Rondônia (ALE-RO).

A CENARIUM não localizou a defesa do vereador.