Passagens a R$ 32 tornam viagem em novo terminal hidroviário inacessível para ribeirinhos no Pará

Fachada do recém-inaugurado Terminal Hidroviário de Mosqueiro, no Pará (Michel Jorge/Revista Cenarium)

08 de maio de 2023

20:05

Michel Jorge – Da Revista Cenarium

BELÉM (PA) – Moradores das Ilhas do Marajó reclamaram do valor de R$ 32 referente às passagens do recém-inaugurado Terminal Hidroviário de Mosqueiro, que faz ligação da ilha do Marajó com a capital Belém. O valor corresponde a R$ 26 do trecho mais R$ 6 da taxa de embarque, que em uma viagem de ida e volta acumulariam R$ 64 dos marajoaras, que em sua maioria são ribeirinhos e não têm uma renda compatível com o aporte financeiro da viagem.

Para Zairo Gomes Benjó, 48, representante do Movimento pelo Direito ao Uso da Água, o valor da passagem está caro diante do poder econômico da população que vive na Ilha do Marajó, que de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) possui o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil, com 0,418.

Vista aérea do novo Terminal Hidroviário de Mosqueiro (Marco Santos/Agência Pará)

Tarifas diferenciadas

Zairo diz que as taxas poderiam ser escalonadas de acordo com o contexto social. “Poderíamos ter tarifas diferenciadas, turísticas e até tarifas para quem está viajando pela primeira vez. Assim como tarifas para estudantes e trabalhadores, uma espécie de ‘passaporte do Marajó’. Funcionaria bem e seria uma opção interessante. Jogar R$ 10 reais para quem vive na vulnerabilidade é muito, mas para quem ganha R$ 5 mil, é quase de graça. Então, escalonar as tarifas, seria a melhor opção”, explicou.

Benjó reforça que a maioria das pessoas que vão para Belém está em busca de tratamento de saúde. “As condições de saúde, no Marajó, ainda são bastante precárias. Então, por que não utilizar o CadÚnico para ajudar a diferenciar essa tarifa? Por exemplo, quem tivesse o cartão pagaria menos”, questionou o representante do movimento popular.

Mais melhorias

Para a dona de casa Norma Pantoja, 52, moradora da Ilha de Mosqueiro, tudo que é bom pode ficar melhor. “A infraestrutura está muito boa, mas pode melhorar com agentes de limpeza e segurança e, principalmente, uma conscientização para o próprio usuário e também nativos da ilha para trabalharem no terminal”, afirma Pantoja.

“O terminal é um sonho do povo de Mosqueiro. Ele vai trazer melhorias e facilitar o acesso para moradores e visitantes. De tanto ser pedido essa inauguração, os poderes públicos concluíram a obra que vinha se arrastando há muitos anos”, concluiu Norma.

O trajeto

A nova linha vai sair do terminal hidroviário, na Ilha do Marajó, às 5h30, fará uma parada no novo terminal de Mosqueiro, às 6h30, e finalizará a viagem, em 46 minutos, no Terminal Hidroviário de Belém. O terminal é uma das mais antigas reivindicações do povo paraense.

De acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNlT), responsável por executar o projeto, a instalação portuária pública de pequeno porte (IP4), construída no lugar do antigo trapiche, na vila, deve beneficiar, aproximadamente, 27 mil pessoas da região.

Plataformas aquáticas para passagem de passageiros no Terminal Hidroviário de Mosqueiro (Michel Jorge/Revista Cenarium)

Potencial

Além do potencial turístico, considerando a quantidade de praias e a beleza da ilha, a instalação promete gerar emprego e renda para a região, facilitando o transporte de cargas e o abastecimento dos navios fundeados que atracam pelo entorno, responsável por levar mantimentos às feiras e mercados do distrito.

O DNIT contratou a realização dos serviços de “terraplenagem, pavimentação, drenagem pluvial e sinalização horizontal e vertical”. O órgão ainda informa que “foram investidos quase R$ 7 milhões nas obras da estrutura” e lembra das demais obras que foram entregues nos municípios de Abaetetuba, Augusto Corrêa, Cametá, São Miguel e Viseu. Somados, a instalação de Mosqueiro representa um investimento aproximado de R$ 40,7 milhões.