Pastor é criticado após dizer que autistas foram curados em Marcha para Jesus

Criança com TEA (Reprodução/Internet)

09 de junho de 2023

18:06

Adrisa De Góes e Carolina Givoni – Da Agência Amazônia

MANAUS (AM) – O presidente da Ordem dos Ministros Evangélicos do Amazonas (Omeam), pastor Valdiberto Rocha, foi criticado por associações e mães de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) após dizer que pessoas autistas foram curadas após participarem da Marcha para Jesus do ano passado.

A declaração aconteceu durante entrevista ao programa Manhã de Notícias, da Rede Tiradentes, na manhã desta sexta-feira, 9. O líder religioso fazia o convite à sociedade para a edição 2023 da celebração evangélica, que será realizada nesse sábado, 10, em Manaus.

“Eu conheço pessoas que marcharam no ano passado, que estavam com câncer e, neste ano, estão curadas, porque o Senhor fez o milagre. Eu conheço pessoas que tinham filhos autistas, que vieram para a marcha e, neste ano, estão curados”, afirmou Rocha.

Trecho da entrevista em que o presidente da Omeam, Valdiberto Rocha, fala da cura de crianças autistas (Reprodução/Rede Tiradentes)

Preocupação

A presidenta da Associação Mães Unidas Pelo Autismo (Amua), Nubia Brasil, diz que o pronunciamento do religioso é preocupante, pois o autismo não é uma doença para ter cura e, sim, um transtorno que possui vários espectros, uma condição que pode se manifestar nas pessoas de maneiras diferentes.

Segundo ela, a negligência no tratamento do autismo é preocupante por conta do agravamento da condição, causada no paciente que não faz as terapias adequadas. “Com as terapias escassas no SUS, não oferecendo tratamento para todos os autistas, aí vem essa questão religiosa. Sabemos que para Deus nada é impossível, mas estamos falando de um transtorno, não é uma doença, a pessoa já nasce assim”, comentou.

A presidenta da Associação Mães Unidas Pelo Autismo (Amua), Nubia Brasil (Reprodução/Linkedin)

Ainda de acordo com Nubia, o acompanhamento de profissionais capacitados é mais do que essencial para ajudar o desenvolvimento das pessoas autistas. “O tratamento correto não é uma tortura, mas algumas mães, que não possuem conhecimento da causa, podem submeter os filhos a métodos prejudiciais. Se a pessoa não desenvolver as capacidades básicas, por meio da terapia, acompanhamento e medicação, pode agravar ainda mais a condição”, complementa.

“O que tem que ser curada é a sociedade, curar o preconceito. E o conhecimento sobre autismo tem que ser ainda mais difundido, porque quando você conhece, não repercute esses absurdos”, finaliza a presidenta da Amua.

Leia mais: Dia da Conscientização do Autismo: criar políticas públicas é necessário para garantir acessibilidade e inclusão

Ignorância

Luciana Cavalcante é mãe de Pedro Gabriel, um menino de 4 anos que tem Transtorno do Espectro Autista (TEA), e disse à REVISTA CENARIUM que a fala do presidente evangélico representa uma ignorância, além de ser retrocesso à causa.

“É mais um caso de ignorância das pessoas que não sabem sobre o transtorno. Pessoas assim só atrapalham o processo para muitos pais que não aceitam sua criança dentro do TEA. O autismo não é doença, por isso não tem cura. Pessoas assim já deveriam ser responsabilizadas por esse tipo de fala”, lamentou Luciana.

Criança segura quebra-cabeça feito com peças nas cores que representam o TEA (Reprodução/Internet)

O que é o TEA

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio neurológico caracterizado pelo desenvolvimento atípico, além de manifestações comportamentais e déficits na comunicação e na interação social. Pacientes com TEA desenvolvem padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, que podem apresentar um repertório restrito de interesses e atividades.

Sinais do TEA podem ser percebidos nos primeiros meses de vida da criança, com diagnósticos médios estabelecidos entre dois a três anos de idade. Segundo a comunidade médica e científica, o sexo masculino é o predominante em casos de autismo.

O diagnóstico e encaminhamento para intervenções e apoio mais precoce podem levar melhores resultados ao paciente, em longo prazo. O tratamento deve ser preconizado em qualquer caso de suspeita de TEA ou desenvolvimento atípico da criança, independentemente de confirmação diagnóstica.

Leia mais: Pessoas com autismo enfrentam desafios para inclusão no ensino superior