Pedreiro com mesmo nome de criminoso é preso duas vezes por engano; entenda

Homem algemado (Reprodução/Freepik)

25 de março de 2024

14:03

Davi Vittorazzi – Da Agência Cenarium

CUIABÁ (MT) – Duas pessoas com o mesmo nome, mas com históricos criminais diferentes. Essa situação fez com que um homem sem antecedentes criminais fosse preso duas vezes por engano, em um intervalo de cinco anos. O pedreiro Alisson Rodrigues dos Santos, de 29 anos, morador de Primavera do Leste (a 239 quilômetros de Cuiabá), é quem viveu essa história.

Alisson conta que a prisão mais recente ocorreu no dia 11 de março deste ano. Ele estava em uma avenida da cidade e seguia até um cliente para fazer o orçamento de uma obra, por volta das 20h. Em determinado momento, percebeu que uma viatura policial o acompanhava.

Os policiais militares da Força Tática fizeram a abordagem e o pedreiro se identificou. “Eles nem perguntaram se eu já tinha sido preso e já falaram ‘qual o seu artigo?’”, diz o trabalhador. O questionamento fazia referência aos artigos do Código Penal.

Policiais militares de Mato Grosso (Reprodução/PM-MT)

O trabalhador conta que disse aos agentes que já havia sido preso por engano em São Paulo. Ele relata que, após dizer que foi preso, os policiais o trataram de forma diferente, como se ele fosse um criminoso. O morador de Primavera explicou que mora na cidade há 15 anos, mas isso não foi suficiente para fazer com que a guarnição deixasse de suspeitar dele.

Segundo Alisson, ele foi questionado sobre quem seria o “Lagoa” e relatou aos agentes que foi por causa desse apelido que tinha sido confundido e chegou a responder a um processo. Os policiais continuaram a questionar e a rebater as respostas do trabalhador, o acusaram de ser responsável por um homicídio e o levaram detido.

O pedreiro foi encaminhado para a delegacia da Polícia Civil de Primavera ainda na noite do dia 11 e ficou lá até a manhã do dia seguinte, 12 de março. Nesse período, ele diz ter ficado sem comer, já que não foi oferecida nenhuma alimentação. Ainda na terça-feira, Alisson foi levado para a penitenciária municipal. “Depois eu expliquei, falei para o oficial que estava lá, que estava tudo errado”, conta.

Alisson Rodrigues dos Santos mora em Primavera do Leste, em Mato Grosso (Reprodução/Arquivo pessoal)

Somente por volta das 13h do dia 12 ele conseguiu avisar a família que estava sob custódia policial. A irmã, que havia procurado a Defensoria Pública na primeira vez em que ele foi preso por engano, foi socorrer o irmão.

“Ela foi à mesma defensora e avisou: ‘Meu irmão está preso de novo pelo mesmo caso [homônimo de nomes]’“, contou Alisson. A Defensoria conseguiu marcar uma audiência de custódia apenas no dia 13, cerca de 48 horas após a prisão.

Primeira prisão

Em 2019, quando foi detido em São José do Rio Preto, Alisson tinha se dirigido à cidade do interior do Estado de São Paulo com o objetivo de realizar o sonho de se graduar no curso de Engenharia Civil.

Na ocasião, ele foi erroneamente identificado como suspeito de ter perpetrado um crime de tentativa de homicídio triplamente qualificado em Diamantino (distante 229 quilômetros de Cuiabá), no ano de 2016. O pedreiro ficou nove dias preso até ser liberado.

O que dizem as autoridades

A Defensoria Pública do Estado (DPE), por meio de nota, lamentou o caso e afirmou que os dados de Alisson Rodrigues dos Santos, o verdadeiro investigado pelos crimes, foram atualizados com o CPF no sistema da Secretaria de Segurança Pública (Sesp-MT).

“Infelizmente, erros como esses são mais comuns do que se imagina e o que orientamos é que, em casos semelhantes, peçam para a autoridade conferir todos os dados com o documento de identidade e, se não forem atendidos, entrem em contato com a Defensoria Pública”, disse em trecho da nota a defensora Synara Vieira Gusmão.

A Polícia Militar disse que “a PM só faz a condução de suspeitos para a delegacia, onde são realizados os demais procedimentos. É feita checagem, mas a constatação é na delegacia. O procedimento é PM/PJC/Poder Judiciário (audiência de custódia)”.

Procurada, a Polícia Judiciária Civil não deu retornou sobre o caso do pedreiro Alisson.

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Editado por Adrisa De Góes
Revisado por Gustavo Gilona