Período de chuva aumenta acidentes com animais peçonhentos no AM; serpentes registram maior número

Serpentes, escorpiões e aranhas lideram os casos de acidentes, de acordo com a FVS (Antônio Lima/Secom)

04 de novembro de 2022

19:11

Arthur Coelho – Da AGÊNCIA AMAZÔNIA

MANAUS – O período de chuva no Amazonas, que compreende os meses de novembro a abril, registra o maior número de acidentes com animais peçonhentos. De acordo com especialista entrevistado pela AGÊNCIA AMAZÔNIA, esse é o momento que as tocas desses animais são inundadas e eles buscam abrigo nas residências. As serpentes são as que mais causam acidentes em todo o Estado.

De acordo com dados da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Drª Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP), serpentes, escorpiões e aranhas lideram os casos de acidentes. Na lista da fundação, em primeiro lugar estão os casos envolvendo serpentes, com 1.573 ocorrências, seguido do registro de 414 casos envolvendo escorpiões e aranhas, com 218 casos em 2022.

Acervo da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (Antônio Lima/Secom)

Período sazonal

O Amazonas experimenta, todos os anos, o período sazonal, algo que acontece sempre em determinada época do ano, no inverno amazônico. Nesse período, costuma chover mais de 900 milímetros (mm) no Estado. Para o professor e médico veterinário, mestre em Ciência Animal, Daniel Grijó Cavalcante, pode variar muito o período em que acontecem os acidentes: “Mas, no período de chuvas e, principalmente, na subida dos rios é que começa a ser inundada a toca desses animais. Não é só para o escorpião, mas para outros animais peçonhentos. E esses animais saem para buscar abrigo, e é nesse momento que começa a entrar nas residências, tendo a probabilidade de acontecer acidentes”, diz o especialista.

O médico diz que a primeira conduta para a pessoa que sofre um acidente com animal peçonhento é lavar o local com sabão neutro antes de buscar atendimento médico: “Deve evitar passar qualquer tipo de outro produto até o atendimento médico. Qualquer outra coisa que precise fazer no local [do ferimento] é com indicação de um médico. Não fazer nada por conta própria”, afirmou o especialista.

Médico veterinário Daniel Grijó com uma serpente Suaçuboia (Corallus horulana) (Arquivo Pessoal/Divulgação)

Daniel diz, ainda, que hoje em dia não é tão necessário capturar o animal para levá-lo à unidade de saúde: “No caso de uma serpente, que é um animal peçonhento, eu não recomendo. Hoje em dia, como a gente já tem um celular com resolução boa, você pode tirar uma foto para tentar identificar, mas tem que ter uma boa resolução. Em casos de serpentes, é importante observar os detalhes para saber se o animal é peçonhento ou não”, concluiu o médico.

Conduta errada

O designer Thiago Alencar diz que foi picado por um escorpião no quintal de casa quando tinha 12 anos. À época, ele teve uma atitude inusitada: “Eu não contei para meus pais. Eu, simplesmente, lavei a área do ferimento com água e passei um remédio por conta própria. Eu senti que meu braço inchou e eu fiquei com um pouco de dor de cabeça. Eu tomei remédio para dor de cabeça e acordei bem”, afirmou Alencar.

Hoje, com 29 anos, ele diz que contaria para os pais ou buscaria ajuda médica: “Avaliando bem, eu tomei uma atitude arriscada. Hoje, eu vejo que deveria ter buscado um médico porque poderia acontecer algo pior”, disse Thiago reavaliando a conduta errada.

Escorpião-preto (Tityus obscurus) da Amazônia (Butantan/Divulgação)

Essa atitude não é a melhor a ser tomada, diz o biólogo Lucas Vieira: “O risco para qualquer indivíduo que opte, até mesmo, por uma automedicação mediante à picada de um animal peçonhento é enorme. Ao ser picado, deve-se procurar, imediatamente, atendimento em uma unidade de saúde. A picada do animal traz efeitos colaterais prejudiciais à saúde do indivíduo, como tonturas, náusea, vômito, suor excessivo, agitação, tremores, salivação e aumento dos batimentos cardíacos em casos mais graves, podendo, sim, ocasionar óbito”, alertou o especialista.

Biólogo Lucas Vieira (Arquivo Pessoal/Divulgação)

Em caso de acidentes com animais peçonhentos, o paciente deve procurar o mais rápido possível a emergência do hospital mais próximo para o atendimento e, se necessário, receber o soro compatível.

Em Manaus, os atendimentos de pacientes vítimas de acidentes por animais peçonhentos são realizados na Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT/HDV), que é referência de tratamento com soroterapia para esses tipos de acidentes. Os números para contato telefônico da instituição são os (92) 2127-3555, 2127-3401 e 2127-3519.

Soro antiveneno

O gerente de zoonoses do Departamento de Vigilância Ambiental da FVS-RCP, Deugles Cardoso, afirmou que, mensalmente, a fundação libera lotes de soro antiveneno para atender as necessidades de assistência à saúde das secretarias municipais de Saúde no Amazonas: “Nós temos cinco tipos de soros antivenenos. Um soro específico para jararaca, surucucu, cobras corais, e outro para escorpião e aranhas. Em todas as unidades temos, nas geladeiras, soro antiveneno em quantidade suficiente para conter a intoxicação”, disse.

Além das unidades, o Amazonas conta com 83 pontos de soroterapia. Ainda segundo Deugles, a fundação está trabalhando em novo projeto para dar assistência em 14 polos básicos de saúde que atuam nos municípios: “Nessa primeira fase do projeto, são 14 por questões estratégicas, e porque está em teste ainda, mas a intenção é colocar também para a população indígena, para que eles recebam logo após os acidentes”, explicou.

(Girlene Medeiros/FVS-RCP)

Acidentes no Amazonas

De acordo com dados da FVS, em 2022 foram confirmados 2.205 acidentes envolvendo animais peçonhentos, no Amazonas. Em 2021, foram 3.154 casos e 3.044 em 2020.