Pesquisa amazonense mostra que bebidas à base de açaí e bacaba podem ajudar no combate à aterosclerose e obesidade

Açaí (Divulgação)

06 de outubro de 2022

15:10

Ívina Garcia – Da Agência da Amazônia

MANAUS – Frutas originárias da Amazônia, o açaí e a bacaba são eixo de estudo contra doenças que têm como característica o acúmulo excessivo de gordura corporal. A pesquisa conta com a participação de dez pesquisadores, sendo desenvolvida no Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

Duas bebidas estão sendo desenvolvidas pelo CBA, utilizando as propriedades químicas dos frutos que já são eficazes contra doenças gordurosas. A pesquisa agrega outros componentes químicos que ajudam a intensificar a ação antioxidante dos frutos.

Bacaba (Divulgação)

De acordo com o pesquisador e doutor em Ciências dos Alimentos, Edson Pablo da Silva, as frutas utilizadas na pesquisa são ricas em pectina e compostos fenólicos, que são um tipo de fibra solúvel naturalmente e metabólitos secundários sintetizados, que contribuem para uma digestão correta e ajudam o trato intestinal.

Bebidas desenvolvidas à base de açaí e bacaba (Ívina Garcia/Cenarium)

“A gente desenvolveu essas bebidas para serem nutracêuticas, é um alimento, mas é um alimento que funciona como medicamento. Hoje, nosso açaí é exportado in natura ou em processo de secagem, o objetivo é transformar essas bebidas em material de exportação”, afirma o pesquisador.

Com o prazo de 18 meses para finalização da pesquisa, Edson conta que no início do ano uma avaliação será realizada para testar o fator medicinal das bebidas. “Nós iremos entrar no início do ano na parte de avaliação em vivo, nos animais, esses testes serão feitos no Senai Cimatec de Salvador, na Bahia, então a gente espera que a partir dos dados obtidos, se tudo der certo, até setembro de 2023 os produtos já esteja pronto e aprovado”, conta.

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Após a aprovação do produto, a próxima fase é tornar comercial, seja por meio da venda da tecnologia desenvolvida no laboratório ou até uma parceria do CBA com produtores para vender a matéria-prima.

“Inclusive futuramente, quando todos os processos estiverem prontos, a gente vende essa tecnologia e isso possa ser utilizado na cadeia produtiva ou por empresas interessadas no desenvolvimento de produtos nutracêuticos, à base de produtos da Amazônia”, diz.

Imagem aérea do CBA (Divulgação)

‘Marca Amazônia’

Um dos principais objetivos do CBA tem sido tornar a origem dos produtos mais transparente, por meio da rastreabilidade, reforçando a relevância da marca “Amazônia”. O superintendente do CBA, Fábio Calderaro, ressalta a escolha do consumidor em se importar com a essência dos produtos.

“Hoje, cada vez mais as pessoas escolhem o que elas consomem e o que elas colocam sobre a mesa de uma forma mais rigorosa, isso tanto do ponto de vista da rastreabilidade ou do quão saudável é aquilo e se a origem desses alimentos respeitam as boas práticas de empregabilidade, se as pessoas que produzem esses alimentos são justamente remunerados por isso”, pontua o superintendente.

Segundo ele, essa transformação no ponto de vista do consumidor impacta diretamente no consumo de produtos amazônicos. “Os insumos e os frutos amazônicos além de ter qualidade intríseca nele, ou seja, a qualidade de deus bioativos e nutricional, também possuem o aspecto extríciso, que é a ‘Marca Amazônia'”, afirma.

Pesquisas desenvolvidas no CBA buscam reforçar a “Marca Amazônia” (Divulgação/Suframa)

Fábio entende que o estado não possui a capacidade de ser um grande produtor de insumos primários, mas a “Marca Amazônia” pode compensar o sobrepreço do custo de oportunidade. “As pessoas estão preocupadas com isso, elas pagariam mais para ter produtos naturais da Amazônia na sua mesa”, acredita.

Calderaro conta que o principal trabalho do CBA tem sido encontrar quais são os frutos e seus potenciais energéticos disponíveis na Amazônia que possam ser repassados com esse valor agregado e também de forma transparente, ainda trazer a experiência da rastreabilidade.

“É muito importante colocar nesses insumos valores intangíveis, ou seja, quando se consome um exemplo funcional nutracêutico, as pessoas saibam da origem, de qual comunidade agroflorestal, qual sistema de manejo foi beneficiado, quantas famílias trabalham ali e a importância que elas têm para sustentabilidade daquela comunidade onde vivem”, conclui.