Pesquisa do Imazon revela que quase metade da exploração madeireira na Amazônia acontece de forma irregular

O estudo mapeou a floresta com imagens de satélite e concluiu que a área explorada equivale a cerca de 350 mil campos de futebol (Foto: Reprodução)

30 de setembro de 2022

09:09

Iury Lima – Da Agência Amazônia

VILHENA (RO) –  As Terras Indígenas (TIs), as Unidades de Conservação (UCs) e demais áreas verdes que, em tese, deveriam ser protegidas pelo Estado, estão indo abaixo, cada vez mais, pela exploração madeireira na Amazônia. O cenário de desmatamento e degradação impulsionado pelas economias ilícitas ligadas à maior floresta tropical do mundo não é novidade. Por outro lado, uma pesquisa inédita traça a irregularidade dessa ocorrência: quase 40% da extração de madeira nativa do bioma acontece sem qualquer tipo de autorização. Os dados são do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

O estudo mapeou a floresta com imagens de satélite e concluiu que 377 mil hectares foram atingidos pela extração de matéria-prima entre agosto de 2020 e julho de 2021; uma área equivalente a 350 mil campos de futebol.

Publicado pela Rede Simex, assinam o levantamento, além do Imazon, o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e o Instituto Centro de Vida (ICV).

Leia também: Amazônia: falta de transparência dos Estados impossibilita mapear a exploração ilegal de madeira; governos rebatem

Áreas atingidas em 12 meses equivale a cerca de 350 mil campos de futebol (Imaflora/Reprodução)

Transparência

A rede responsável pelo mapeamento conseguiu, também, pela primeira vez, acesso aos dados públicos de autorizações emitidas por órgãos ambientais de todos os Estados amazônicos analisados: 15% da exploração irregular ocorreu dentro de unidades destinadas à preservação dos ecossistemas. 

Gerente de cadeias florestais do Imaflora, Leonardo Sobral destaca a importância da transparência como aliada, visto que, em outro estudo, publicado em 2021, apenas Pará e Mato Grosso haviam liberado dados necessários para a checagem da legalidade. “O setor florestal precisa avançar na agenda da transparência”, disse Sobral. 

Especialista do Imaflora defende a importância da transparência dos Estados para mapeamentos na Amazônia Legal (Foto: Reprodução)

Agora, com os dados do Acre, Amazonas, Rondônia e Roraima, foi possível identificar 142 mil hectares com exploração madeireira não permitida no período estudado; algo superior a 130 mil campos de futebol, ou, ainda, 38% do total explorado em 12 meses na Amazônia Legal. 

“Esse índice de exploração não autorizada é muito alto e representa graves danos socioambientais para a Amazônia, o que contribui para impedir o desenvolvimento sustentável da região”, afirma o pesquisador do Imazon Dalton Cardoso. “Sem o manejo florestal sustentável, a floresta pode ser degradada; há mais riscos de conflitos e deixa-se de gerar empregos formais e impostos”, complementa o especialista.

Índices comprometem o desenvolvimento sustentável, segundo o pesquisador do Imazon Dalton Cardoso (Imazon/Reprodução)

Mato Grosso no topo

Mais de 70% da extração irregular de madeira da Amazônia ocorreu no Estado de Mato Grosso, conforme o levantamento. “Em relação aos Estados, sete em cada dez hectares de florestas com exploração madeireira não autorizada na Amazônia estão neste Estado”, diz o Imazon. A exploração ilegal chegou a 103 mil hectares por lá. 

Por outro lado, o Estado teve 173 mil hectares com extração madeireira permitida no período analisado: 73% da atividade legalizada no bioma. O coordenador de inteligência territorial do ICV, Vinícius Silgueiro, explica que apesar da maior parte da exploração ter ocorrido de maneira autorizada, a área com atividade não permitida cresceu 17% em Mato Grosso, em relação ao levantamento anterior, realizado entre 2019 e 2020. “Apenas nas terras indígenas do Estado, houve um aumento de 70% na extração de madeira irregular”, disse o coordenador.

Especialista do ICV, Vinícius Silgueiro mostra a diferença entre a exploração legal e ilegal em Mato Grosso (Foto: Reprodução)

O ranking segue com o Pará na segunda posição. Já Rondônia, Amazonas, Acre e Roraima tiveram áreas abaixo de 20 mil hectares afetadas pela atividade, revela a pesquisa. “Os outros três Estados da Amazônia Legal não tiveram as imagens de satélite analisadas, sendo o Amapá, devido à alta cobertura de nuvens, Tocantins e Maranhão, por terem áreas ainda menores com a atividade”, diz o Imazon.

Exploração madeireira por Estado

EstadoÁrea de exploração autorizada (ha)Área de exploração não autorizada (ha)Área total explorada (ha)
MT173.381103.668277.048
PA33.69023.39057.080
RR7614981.258
AC10.886010.886
RO14.3612.01516.377
AM2.11812.85714.975
AMAZÔNIA235.196142.428377.624

(Fonte: Rede Simex)

Áreas protegidas

O mapeamento da Rede Simex também rastreou a exploração dentro de áreas protegidas, com as TIs e UCs da Amazônia: 21 mil hectares explorados ilegalmente, algo equivalente ao tamanho de João Pessoa, capital da Paraíba, 15% de toda a área com atividade não permitida.

O território indígena mais prejudicado foi Aripuanã, em Mato Grosso, onde mais de 4 mil hectares tiveram extração madeireira.

Áreas protegidas com maior exploração

EstadoTipo área protegidaTerritórioÁrea (ha)
MTTITI Aripuanã4.039
AMTITenharim Marmelos3.509
MTTITI Parque do Xingu1.790
MTUCUSReserva Extrativista Guariba / Roosevelt1.398
PATI *Amanayé1.255
MTUCPIEstação Ecológica do Rio Roosevelt1.250
MTTITI Kawahiva do Rio Pardo1.075
AMUCPIParque Nacional dos Campos Amazônicos1.026
MTTITI Zoró947
MTUCPIParque Estadual Tucumã912

(Fonte: Rede Simex)

A pesquisadora do Idesam Tayane Carvalho lamenta o avanço da atividade madeireira ilegal na floresta. Ela avalia que o total de madeira extraído de forma irregular na Amazônia demonstra a falta de fiscalização eficiente. “Esse cenário torna ainda mais necessário o incentivo ao manejo florestal sustentável, pautado na legislação”, declarou.