Pessoas LGBTQIA+ acima de 50 anos têm pior acesso à saúde no Brasil, aponta estudo

A pesquisa aponta vulnerabilidade nos cuidados voltados ao acesso dos serviços de saúde e bem-estar para pessoas LGBTQIA+(Reprodução/iStock)

28 de março de 2023

21:03

Priscilla Peixoto – Da Agência Amazônia

MANAUS – Um estudo elaborado por pesquisadores do Hospital Albert Einstein, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e pela Universidade de São Caetano do Sul mostra que pessoas LGBTQIA+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queer, Intersexuais, Assexuais, sendo que o símbolo “+” acolhe as demais orientações sexuais) com idade acima de 50 anos enfrentam desigual ofertas de serviços de saúde, no Brasil, seja em âmbito público ou privado.

De acordo com a pesquisa intitulada Transformando o invisível em visível: disparidades no acesso à saúde em idosos LGBTs”, que aponta vulnerabilidade nos cuidados voltados ao acesso dos serviços de saúde e bem-estar para pessoas LGBTQIA+, em média, 53% da comunidade se divide em “não saber” ou “não acreditar” que os médicos estejam preparados para atender as especificidades desta parcela da população, e 34% dos LGBTs com mais de 50 anos acreditam que os profissionais não sabem sobre identidade de gênero ou orientação sexual.

População LGBTQIA+ acima de 50 anos enfrenta desigual ofertas de serviços de saúde, no Brasil, seja em âmbito público ou privado
(Reprodução/Pixabay)

‘Olhar sobre as interseccionalidades’

Na leitura do ativista e educador em saúde, com foco na população LGBTQIA+, Lucas Brito, é importante que seja estabelecido um olhar sobre as interseccionalidades presentes na sociedade. Para Lucas, o etarismo (preconceito com idade) tem sido pautado cada vez mais. “Etarismo é uma pauta que vem sendo mais abordada, principalmente, quando a gente pensa no tanto de estudos que evidenciam o envelhecimento da nossa população, de modo geral, mas ainda assim esse assunto é limitado em muitos espaços”, considera o enfermeiro que complementa:

“A partir dessa realidade, ao estabelecer um recorte para pessoas LGBTQIA+, além das limitações que os profissionais colocam sobre nossas vivências, a gente fala sobre pessoas que passaram pela pandemia da Aids que, até hoje, segue cheia de estigmas sobre nossos corpos, por uma época onde nossas orientações sexuais e identidades de gênero eram vistas pela OMS como doença. E pensando no nível de violência e morte, e expectativa de vida que temos no Brasil, chegar aos 50 ou mais é uma esperança e uma difícil realidade de acreditar“, ressalta.

Conforme o estudo, os números também são negativos quando a questão envolve a população negra LGTBQIA+. A pesquisa aponta que essa parcela da comunidade tem o pior índice de acesso à saúde, com 41% contra 29% das pessoas brancas da comunidade. Lucas comenta sobre os problemas estruturais que integram a dura realidade da população preta LGBTQIA+ (ainda mais vítimas do preconceito), resultando na dificuldade de acesso aos serviços de saúde.

Problemas estruturais integram a dura realidade da população preta LGBTQIA+ (Reprodução/Internet)

Dentro de tudo isso, ou antes de tudo isso, como acreditar que a população preta LGBTQIA+ teria uma realidade melhor? Somos um País racista. Os dados evidenciam isso. Como pensar no acesso à saúde? Como acessar direitos básicos sem medo? Eu tenho 27 anos, sou enfermeiro e ainda tenho muita dificuldade de ser visto como profissional e como pessoa, enquanto um homem cisgênero, gay e preto. Quais perspectivas posso ter? Me dói dizer isso, estou estudando sobre o tema e quero como profissional mudar um pouco dessa realidade. Pelos meus pares e pela minha vida“, relata.

Mais dados

O texto mostra ainda que apenas 40% das pessoas LGBTQIA+ realizaram, ao menos uma vez, exames de mamografia, enquanto 74% das mulheres cisgêneras e heterossexuais afirmaram ter realizado o exame. Quanto ao rastreamento do câncer de colo de útero, apenas 39% do grupo LGBTQIA+ fizeram o procedimento, contra 73% das mulheres cisgêneras identificadas como heterossexuais afirmarem ter realizado exames de rastreamento.

Para a elaboração da pesquisa foram entrevistadas 6.693 pessoas que utilizam o sistema público e particular de saúde. Apenas 1.332 delas se identificaram como LGBTQIA+, 5.361 não-LGBT+) com idade mediana de 60 anos. Quanto ao método, foi realizado um estudo transversal, no Brasil, por meio de um questionário confidencial on-line.

Leia também: Governo federal dialoga com movimento LGBTQIAP+ e lideranças do AM comentam